Rui Pereira da Silva, CEO da HCCM Consulting

«A motivação e o bem-estar das pessoas é uma grande preocupação para a HCCM.»

Uma tecnológica portuguesa integrou em 2021 um grupo israelita, tendo em vista potenciar a internacionalização. Rui Pereira da Silva, CEO da HCCM Consulting, diz que o Grupo Aman desde os primeiros contactos demonstrou sempre ter uma estratégia que se adequa bem à ambição da tecnológica, tanto pela experiência como pela oferta de produtos e serviços, permitindo crescer sobretudo nos oito países onde o grupo está presente.

Texto: Redação «human»

.

Como caracteriza a atividade da HCCM e como olha para o mercado em que atua?

A atividade de consultoria carateriza-se atualmente por ser muito competitiva e complexa, porque as empresas de consultoria, devido à concorrência, que é importante e positiva, estão a confrontar-se com uma escassez de recursos para os projetos e uma pressão por parte dos colaboradores para aumentos das remunerações. Tudo isto já era esperado desde há muito tempo. Em 2015, a OCDE já tinha estudos que indicavam a falta de recursos a curto prazo nas áreas de IT [tecnologias de informação, TI]. A pandemia veio acelerar o processo de digitalização e o aumento da procura de profissionais de IT aumentou ainda mais porque durante a pandemia com a alteração de trabalho presencial para trabalho remoto no local onde o colaborador se encontra deixou de ter tanta relevância.

O que levou à integração num grupo israelita?

A HCCM sempre procurou crescer em dois vectores: organicamente, com mais projetos nos clientes atuais ou através da angariação de novos clientes no mercado nacional e pela internacionalização. Mas a internacionalização, embora todos os anos crescêssemos em negócios fora de Portugal, estava a ter uma velocidade abaixo do que que pretendíamos e o investimento por parte de um grupo internacional era bem-vindo. O Grupo Aman desde os primeiros contactos demonstrou sempre ter uma estratégia que se adequa bem à nossa ambição, tanto pela experiência como pela oferta de produtos e serviços que complementam a nossa atividade e permite-nos crescer principalmente nos oito países onde o Grupo Aman está presente.

Os dois países são conhecidos por terem empresas de muito sucesso ligadas a novas tecnologias. Consegue de alguma forma colocá-los em contraponto a este nível, observando onde cada um é mais competitivo?

Israel e Portugal são países com algumas semelhanças, para além da apetência para as novas tecnologias. Ambos os países, embora geograficamente com alguma distância, têm por volta de 10 milhões de habitantes. Consultando a Wikipédia, e utilizando o número de empresas que valem mais de 1.000 milhões de dólares, as chamadas empresas unicórnio, Israel é considerada pela dimensão a start-up nation, porque tem 30 unicórnios, sendo apenas superada por países de uma dimensão incomparável, no caso em apreço a Índia, que tem 100, e a China e os Estados Unidos, que têm respetivamente 301 e 460 unicórnios. No entanto, se olharmos para a Europa, Portugal está muito bem classificado, visto que temos sete empresas e face à dimensão é um feito bastante importante. Resumindo, penso que ambos os países estão bem classificados nos índices de competitividade quando dentro do nosso ecossistema das tecnologias de informação e comunicação.

Que desafios tem a consultora com esta integração?

Do ponto de vista externo, um dos maiores desafios é passar a trabalhar de uma forma mais global nos países onde o Grupo Aman está presente. Internamente, estudar a oferta do Grupo Aman para a integrar as áreas que fazem sentido na oferta de produtos e serviços da HCCM e demonstrar aos nossos novos parceiros e clientes que somos uma empresa íntegra, com excelentes técnicos e com capacidade de desenvolvimento de projetos, principalmente com recurso a tecnologias SAP e OutSystems, que são áreas que o Grupo Aman ainda não desenvolveu nos países onde está presente.

O facto de serem uma tecnológica facilitou de alguma forma o vosso trabalho nos tempos mais intensos da pandemia?

A HCCM Consulting nasceu no final de 2017 pela fusão de uma empresa na altura com mais de 20 anos de história, a Netpeople, que foi fundada em 1995, e a Green Avenue Consulting, uma start-up tecnológica. Tentando aproveitar o que cada uma tinha de melhor, decidimos desde essa altura que o modelo de futuro seria adotar desde logo um modelo de desmaterialização de processos. A start-up trazia uma plataforma de gestão baseada em tecnologia OutSystems que incluía todos os processos típicos de uma empresa de consultoria em ambiente cloud. Por esta razão, sermos uma empresa de tecnologia permitiu-nos reduzir o impacto nos tempos mais intensos da pandemia. Mas também tivemos os nossos desafios…

Que soluções de trabalho desenvolveram?

Tal como referido, sermos uma empresa tecnológica ajudou-nos muito porque temos maior parte dos processos desmaterializados, mas como todas as empresas tivemos que nos adaptar a partilhar mais informações, dotar todos os colaboradores com licenciamento de software, computadores e outros equipamentos que lhes permitissem usar ferramentas adequadas para uso interno e externo com os nossos clientes.

Destas soluções, o que ficou para os dias que agora vivemos?

Claramente as soluções de videoconferência vieram para ficar. Hoje, mesmo com o processo da pandemia já numa fase muito diferente, com muito menos medidas preventivas, continuamos a trabalhar, via videoconferência, em ambiente remoto ou hibrido. E mesmo com os clientes e parceiros continuamos a usar as videoconferências como algo que aumenta a eficiência das reuniões, tornando-as mais fáceis, e no final, embora se perca um pouco do contacto físico, fazemos um balanço positivo.

Que estratégias desenvolveram ao nível da gestão das pessoas para gerirem, por exemplo, o trabalho remoto, ou os formatos híbridos?

A motivação e o bem-estar das pessoas é uma grande preocupação para a HCCM. Atualmente temos implementado na empresa dois sistemas, o modelo híbrido e o modelo remoto, que diferencia consoante o projeto ou a função dos colaboradores. Relativamente aos colaboradores que estão em projetos, definimos um plano de presença no escritório por equipas, de forma a garantir que não estejam muitas pessoas no mesmo dia. Recorremos a reuniões por equipa ou de toda a empresa via videoconferência para manter o contacto entre todos. Para que as reuniões sejam mais aliciantes e que acrescentem mais valor às pessoas, são divididas em duas partes: a primeira é mais institucional, aí são abordados assuntos de interesse comum; na segunda parte temos sempre um convidado que vem dar palestras/ workshops sobre assuntos que achamos do interesse de todos os colaboradores da HCCM, como por exemplo programação neurolinguística (PNL), mind-maps, melhorar a comunicação, gestão do tempo, etc…

A integração no grupo israelita vem de alguma forma impactar nessas estratégias?

A integração no Grupo Aman não teve impacto na nossa estratégia no tocante às alterações provocadas por dois anos de pandemia. Poderia até acrescentar que ajudou, visto que como empresa tecnológica o Grupo Aman tem incentivado muito os colaboradores na ótica da melhoria dos processos. Temos um exemplo ilustrativo, que foi a contratação de uma colaboradora que está envolvida através da HCCM num projeto num banco em Israel e o local de trabalho é numa zona interior de Portugal.

Têm-se deparado com um problema muito debatido, o da escassez de talento na área das novas tecnologias?

A nossa experiência é que com projetos adequados, definições de carreira, oportunidades de crescimento, work-life balance e investimento em formação conseguimos, apesar da forte concorrência e da escassez, encontrar os recursos adequados aos nossos projetos. Mas não escondemos que nas áreas de desenvolvimento de software tem sido muito difícil de encontrar pessoas disponíveis. Para além de as empresas portuguesas terem mais projetos atualmente, existem mais empresas estrangeiras a investir nos nossos mercados, o que aumenta a concorrência.

Quais são os grandes desafios da liderança nesta área?

Os desafios de liderança são muitos, mas na minha opinião os principais são contratar recursos com qualidade, gerir o trabalho e conseguir motivar as equipas nesta nova realidade, híbrida ou remota, com a mesma qualidade e o mesmo rigor que o trabalho presencial, manter uma boa comunicação e promover o bem-estar dos colaboradores

O ambiente internacional traz desafios acrescidos?

Trabalhar numa empresa reconhecida ou presente em vários países, como é o caso do Grupo Aman, é um sonho de muitos profissionais. As grandes empresas são famosas pelo desenvolvimento profissional e outros benefícios. Como principais vantagens considero a possibilidade de networking, porque a quantidade de pessoas que trabalham numa empresa grande é proporcional ao tamanho da mesma e por esta razão é possível conseguir uma rede de contactos é bem maior do que numa empresa pequena. Outra vantagem importante é a experiência em várias áreas a que os colaboradores podem vir a aceder, com maior flexibilidade e uma maior possibilidade, por exemplo, para quem pretender poder desenvolver a sua carreira internacionalmente. Ao nível da angariação de negócios também é vantajoso, porque há empresas que pela sua dimensão e pela dispersão geográfica preferem ter como empresas parceiras de negócio empresas que também têm esta capacidade. Quanto aos desafios, são principalmente uma maior rigidez hierárquica e a adaptação, que tem que ser vista sempre como um desafio e nunca como uma desvantagem.

Ainda pelo facto de serem uma tecnológica, como vê as questões da cibersegurança e os desafios que têm vindo a ser colocados a empresas e outras instituições?

A transformação digital depende da conectividade e de abordagens que têm o potencial de gerar novos riscos para o ecossistema, colocando desafios para a segurança com o é o caso do IoT [Internet of Things]. A pandemia, ao acelerar a adoção de certas tecnologias, também expôs as vulnerabilidades e as diferenças tecnológicas nas comunidades. A digitalização gera desafios e riscos que vão desde fake news, que ocorrem em diversos contextos, bem como ataques a infraestruturas críticas. A cibersegurança surgiu como um dos desafios mais significativos para a economia global, tanto que a nível mundial, é estimado que os investimentos nesse sector sejam superados ano após ano. A falta de profissionais no sector é outro problema. Trata-se um duplo desafio que passa por atrair mais profissionais para a área da cibersegurança e garantir que quem se quer formar nesta área consiga acompanhar as ameaças em constante mudança.

.

»»»» Rui Pereira da Silva é chief executive officer (CEO) da HCCM Consulting, empresa sediada em Lisboa e que atua desde 1995 em sectores como banca, seguros, serviços públicos, energia, retalho, telecomunicações e indústria, tanto a nível nacional como internacional. Conta com mais de 120 pessoas e está organizada em três linhas de negócio: Enterprise Applications – SAP; Professional Services & Nearshoring; Development – OutSystems & Microsoft. Integra desde julho de 2021 o Grupo Aman, com sede em Telaviv, Israel. Este grupo existe desde 1973 e destaca-se nas áreas das tecnologias de informação (TI), sendo constituído por mais de 2.500 colaboradores.

Scroll to Top