Assessment

Ainda faz sentido avaliar as pessoas?

Ao longo do tempo de caminho nesta «vida bonita da gestão de pessoas», fui ouvindo dizer «as pessoas gostam de ser avaliadas», «gostam de perceber que a empresa está a olhar para elas», «gostam de sentir que a chefia sabe o que andam a fazer»… E talvez me tenha feito sentido em tempos, não tanto agora.

Texto: Filipa Pires

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Começamos logo por analisar a palavra «avaliar»: em qualquer dicionário da língua portuguesa significa «determinar o valor… calcular… estimar ou determinar a grandeza…» – ou seja, a essência da palavra tem uma conotação de «por à prova», de «mostrar aquilo que valemos aos olhos de alguém». Todos sabemos o impacto que as palavras provocam em nós, e não é por acaso que a comunicação é um eixo efetivo da gestão e não apenas uma soft skill.

Remeto esta reflexão, no contexto da gestão de pessoas, apenas para perceber se não fará sentido conectar a palavra «avaliar» a valorizar/ growth. A base de qualquer processo de avaliação deve ter como primeiro suporte a consciência de cada um, do seu propósito, do sentido do seu caminho-meaningfully (um lugar, uma missão, um propósito). A partir daí, o ato de avaliar ou de gerir deve caber a cada um, a partir do equilíbrio entre «o seu propósito e o seu impacto», perceber desequilíbrios e diminuir vazios.

 Se queremos equipas cada vez mais autónomas, mais conscientes de si, mais centradas no impacto, fará sentido avaliar essencialmente a partir de outros? Estarão os outros também conscientes do seu propósito e do seu impacto, e serão capazes de avaliar? Avaliar, no sentido de valorizar, é um ato de empatia, um ato virtuoso de liderança, que presenteia a essência da pessoa, enquanto ser atuante num ecossistema, mais do que o seu posicionamento face a um conjunto de métricas e dimensões.

O convite nesta reflexão centra-se na importância de cada um explorar a sua essência (ser capaz de perceber o sentido daquilo que estamos a fazer e a sentir) em cada contexto em que atuamos, de ser capaz de fazer a sua auto análise como consequência de um suporte consistente entre «o desafiar e o orientar (dar suporte)». Aqui entra a liderança ao serviço dos outros (a única que importa, de resto).

A observação e o feedforward ao outro recaem essencialmente em estimular-lhe uma consciência maior do seu impacto, e por isso da sua vulnerabilidade e da sua diferenciação – permitir por isso um olhar autónomo para o sentido da sua vida.

Na minha opinião, a trilogia «Instinto, Intuição e Inspiração» faz cada vez mais sentido na ideia da inteligência do futuro, permite mostrar aquilo que é extraordinário em nós, dando aos outros atos de generosidade, e por vezes interromper a normalidade, deixar fluir num ambiente que chega a ser caótico… sair do ambiente cómodo. Admito que torne mais difícil o ato clássico de avaliar, mas admito que assim seja mais fácil crescer. Deixem florir o que estiver a «rebentar»!

Como consultores, na Pessoas e Sistemas estamos ao serviço dos desafios das empresas, e temos como uma das «bandeiras» a gestão de competências, que na prática não é mais do que «uma valorização de competências», em que colocamos o indivíduo perante ações, contextos, problemas. E observamos o quê? Essencialmente duas coisas: a tendência do comportamento (a base de valores e competências) e o impacto das ações. O resultado é sempre um convite a «um olhar para dentro», a um encontro com a sua verdade (que por vezes não queremos ver, nem queremos confrontar-nos) para darmos o melhor de nós e largar aquilo que não nos pertence. E seguir… numa maior conexão connosco e com os outros.

Avaliar não será tanto um caminho, talvez seja um «destino», e talvez procuremos mais o caminho…

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»»»» Filipa Pires é managing partner da Pessoas e Sistemas, consultora de recursos humanos cujas origens remontam a 2005. A empresa nasceu de um conjunto de vontades de quem já tinha uma carreira sólida na área da gestão de pessoas e estava disposto a partilhar a experiência com outras empresas. Assim, o tempo é dedicado às pessoas, aquelas que gerem, que operacionalizam, que decidem, que mudam, que criam. E também aos processos, à forma de fazer. É nesta dualidade, entre pessoas e processos, que está a razão de existir da Pessoas e Sistemas, onde se acredita que sinergia entre os dois torna as empresas mais eficientes.

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