A WTW, empresa global de consultoria, corretagem e soluções, divulgou as principais conclusões do seu estudo General Industry Compensation and Benefits Survey 2025 e as tendências de remuneração e benefícios no mercado português.
De acordo com a edição de julho do Salary Budget Planning Survey da WTW, os aumentos salariais médios em Portugal situaram-se nos 3,5% em 2025, com previsão de 3,4% para 2026. Apesar de positivos, estes valores refletem uma tendência de contenção salarial, em parte por via da inflação, com quase metade das empresas (49,5%) a reduzirem o orçamento face ao ano anterior. Apenas 20,6% das organizações aumentaram o orçamento destinado a salários.
Cautela empresarial e foco na competitividade
O contexto económico continua a ditar prudência. A gestão de custos e o receio de uma recessão surgem como principais fatores de decisão, relegando a inflação para segundo plano. Paralelamente, a equidade salarial e as expectativas dos colaboradores começam a ganhar peso na definição de políticas remuneratórias.
Este cenário espelha um ambiente económico global de crescimento moderado, caracterizado por volatilidade de preços, escassez de talento e tensões geopolíticas.
Diferenças regionais: Lisboa continua na dianteira
Quando analisada a remuneração total por região, a Grande Lisboa mantém-se como o mercado mais competitivo.
Alentejo, Algarve e Ilhas registam salários cerca de 25% abaixo da média da capital.
Porto apresenta uma diferença de 7% inferior.
Braga e Viana do Castelo, cerca de 15% abaixo.
Tendências por função e sector
Esta análise – baseada no indicador same incumbent salary movement – permite observar tendências reais de progressão salarial, eliminando o efeito de promoções ou mudanças de pessoal.
O estudo mostra que a mediana dos aumentos salariais para colaboradores que mantiveram a função situaram-se entre 2,5% e 6,0% (exclui zeros) nas posições operacionais e de suporte, 2,5% a 4,0% nas funções profissionais e 2,0% a 4,1% nas posições executivas.
As percentagens de aumentos por promoção variam por sector, destacando-se:
– Tecnologia, Media & Gaming (TMG) – aumentos médios até 10%;
– Retalho – cerca de 9%;
– Supervisão e Profissional – categorias com maior incidência de aumentos por promoção.
«Há uma aposta clara na valorização de profissionais e supervisores, especialmente em sectores tecnológicos, enquanto se mantém contenção nos aumentos para executivos e funções operacionais», explica Sandra Bento (na foto), associate director do Departamento de Work and Rewards da WTW, assinalando ainda: «Esta dinâmica reflete as necessidades de retenção de talento especializado e a pressão para otimizar recursos em tempos de incerteza.»
A guerra pelo talento e o papel dos benefícios
A escassez de competências continua a dificultar a atração e retenção de talento. Assim, o desenvolvimento de pessoas (upskilling) e a flexibilidade laboral – nomeadamente o trabalho remoto – ganham relevância nas estratégias empresariais.
Os benefícios assumem também um papel decisivo: segundo o WTW Global Benefits Attitudes Survey Portugal 2024, 45% dos colaboradores consideram o pacote de benefícios uma das principais razões para permanecer na empresa.
Neste contexto, observou-se que a prevalência da oferta de benefícios nas empresas é elevada, 81% das empresas oferece seguro de saúde e seguro de transporte, 80% wellbeing, 75% seguros de risco, entre outros menos prevalentes como o benefício de reforma ou até benefícios flexíveis.
A competição pelo talento (66%) e o aumento dos custos (43%) são os maiores desafios apontados pelas empresas. O seguro de saúde destaca-se como um dos benefícios de custo mais elevado, com a inflação médica ainda a crescer – embora em desaceleração – de 12% em 2024 para 8% (2025) e 7% (2026, estimativa).
Equidade salarial e novas exigências legais
As recentes exigências de transparência e equidade salarial estão a obrigar as empresas a rever políticas internas e a reforçar a conformidade legal.
O estudo indica que, nas funções de menor responsabilidade, as mulheres auferem em média mais 3% a 4% do que os homens. Contudo, à medida que aumenta o nível de responsabilidade, verifica-se uma inversão acentuada a favor dos homens, evidenciando a persistência de desigualdades estruturais nos cargos de liderança, conforme demonstra o gráfico abaixo.

«Num contexto de mudança e contenção, o mercado português mostra sinais de ajuste e maturidade – cresce o foco na retenção de talento especializado, na equidade e na otimização de recursos, mantendo Lisboa como epicentro das remunerações mais competitivas do país», conclui Sandra Bento.
O estudo foi elaborado pelo Departamento de Rewards Data Intelligence, a área de investigação e pesquisa de mercado da WTW responsável pelos surveys que permitem caracterizar o mercado português no que toca às suas práticas salariais e de benefícios. Nele participaram mais de 350 empresas nacionais de múltiplos sectores de atividade e com dados de remuneração de mais de 69.000 colaboradores que desempenham cerca de 400 especialidades de funções.
