O diretor de acesso ao mercado e assuntos externos da GSK, Guilherme Monteiro Ferreira, fala dos desafios da farmacêutica no nosso país. A multinacional, que une ciência, tecnologia e talento para vencer as doenças, tem uma história que começou há cerca de 300 anos e emprega 160 pessoas em Portugal. A ambição é ser uma das empresas farmacêuticas mais inovadoras, com melhor performance e de maior confiança do mundo.
Texto: Redação «human» Foto: DR
Como descreve a posição da GSK no mercado português?
Somos uma biofarmacêutica que une a ciência, tecnologia e talento para, juntos, vencer as doenças. Prevenimos e tratamos doenças com medicamentos de uso hospitalar, vacinas e medicamentos de ambulatório. Focamo-nos na ciência do sistema imunitário e em tecnologias avançadas, investindo em quatro áreas terapêuticas principais – respiratória; imunologia e doenças inflamatórias; oncologia; HIV e doenças infeciosas – para impactar a saúde em grande escala. A nossa estratégia Ahead Together significa intervir cedo para prevenir e mudar o curso da doença, ajudando a proteger as pessoas e a apoiar os sistemas de saúde.
Temos mais de um século de presença em Portugal, empregamos 160 profissionais (91 mulheres e 69 homens), interagimos com cerca de 250 parceiros locais de negócio e disponibilizamos mais de 200 medicamentos e vacinas em Portugal.
Atualmente, temos 17 ensaios clínicos e estudos de vida real em Portugal, nas áreas respiratória, de oncologia e vacinas, no que representa um investimento anual próximo de um milhão de euros. Adicionalmente, contribuímos a cada ano com cerca de 20 milhões de euros para a economia nacional.
Há cinco anos consecutivos que estamos entre as 10 melhores empresas para trabalhar em Portugal e, atualmente, ocupamos a sétima posição geral e o segundo lugar do nosso sector, no ranking Great Place To Work.
A vossa proposta de valor tem especificidades se a compararmos com a proposta global da empresa na sua atuação um pouco por todo o mundo?
O nosso objetivo é continuar a trazer inovação para Portugal, contribuindo para salvar vidas e para as pessoas viverem mais e melhor. Este desígnio é crucial para os doentes, os prestadores de cuidados e o sistema de saúde. No entanto, também é profundamente importante para o futuro da comunidade de investigação do país, da sua economia e da sociedade.
Para sermos bem-sucedidos, precisamos de um país que dê algumas garantias de previsibilidade e estabilidade, bem como de responsabilidade e condições transparentes para garantir e preservar os investimentos, com decisões técnicas estruturais que não sejam condicionadas por ciclos políticos e calendários eleitorais.
É fundamental assegurar um ambiente sustentável e estável, para que as empresas invistam e se desfaça a perceção de que Portugal é um país pouco atrativo para investir, num contexto em que a Europa está a perder competitividade para outros mercados, como os dos Estados Unidos e da China.
Como caracteriza a equipa da GSK em Portugal, seja genericamente em termos de perfis, de áreas de especialização, inclusive no que diz respeito à inclusão?
As nossas pessoas são o ativo mais valioso e absolutamente críticas para, em conjunto com a ciência e a tecnologia, conseguirmos responder aos grandes desafios de saúde pública que enfrentamos. Nesse sentido, procuramos e apoiamos o desenvolvimento de pessoas talentosas, que acreditem e se identifiquem com o nosso propósito, vivam a nossa cultura e queiram ajudar-nos a atingir a nossa ambição.
Nessa jornada, contamos com os nossos líderes para motivar, apoiar, desenvolver e cuidar das suas equipas e procuramos promover um ambiente inclusivo, em que o sucesso seja reconhecido, celebrado e recompensado. Acima de tudo, fomentamos um ambiente onde as pessoas possam ser a sua melhor versão, crescer, sentir-se seguras e bem-vindas, valorizadas e incluídas.
Temos pessoas altamente qualificadas, com pensamento crítico, abertas à tecnologia e à inovação, fluentes em diferentes idiomas, etc. Por isso mesmo, somos conhecidos no universo GSK como Innovation Nation e temos um nível de exportação de talento elevado. Isso revela a qualidade dos profissionais em Portugal.
Que pessoas procuram para trabalhar convosco?
Procuramos, essencialmente, pessoas com visão, curiosidade e espírito crítico, que saibam trabalhar em equipa e que estejam motivadas para, juntas, conseguirmos impactar positivamente a vida de mais de 2,5 mil milhões de pessoas e vencermos as doenças.
Para isso, é fundamental que se identifiquem com os elementos-chave da nossa cultura: ambição pelos doentes, responsabilidade pelo impacto e agir corretamente.
Mais importante do que as competências e capacidades técnicas, que naturalmente são muito importantes, é a forma de estar e encarar estes desafios.
A saída do país de muitos portugueses qualificados, sobretudo das gerações mais jovens, tem de alguma forma colocado desafios adicionais na atração de talento?
No que diz respeito a esse tema em concreto, não enfrentamos grandes desafios ou dificuldades em Portugal. Temos pessoas altamente qualificadas, com pensamento crítico, abertas à tecnologia e à inovação, fluentes em diferentes idiomas, etc. Por isso mesmo, somos conhecidos no universo GSK como Innovation Nation e temos um nível de exportação de talento elevado. Isso revela a qualidade dos profissionais em Portugal.
Inclusive, temos diversas políticas e práticas para fomentar o recrutamento global, em que procuramos atrair talentos de diferentes regiões geográficas para garantir uma força de trabalho diversificada e inclusiva. Isso inclui esforços de recrutamento em diferentes países e regiões. Paralelamente, oferecemos oportunidades de mobilidade internacional para os colaboradores, permitindo aos profissionais trabalhar em diferentes países e adquirir experiências globais, inclusive a partir de Portugal, se assim for o desejo da pessoa.
Como têm vindo a desenhar as vossas estratégias de recursos humanos? Quais são as bases mais significativas de onde partem para chegar a essas estratégias?
A GSK reconhece a importância de um ambiente de trabalho que valorize uma cultura inclusiva, nas suas diferentes dimensões – geracional, género, geografia, etnia –, onde cada pessoa pode contribuir com as suas capacidades e experiências únicas.
Procuramos dar resposta a esse desafio de diferentes formas: programas de mentoria, em que colaboradores mais experientes partilham o seu conhecimento com o talento mais jovem, para promover a transferência de know-how; capacitação contínua, com programas de formação e desenvolvimento que respondem às necessidades de todas as pessoas. Isso inclui quer competências técnicas, quer comportamentais; flexibilidade laboral, com políticas de trabalho flexíveis e alinhadas com as diferentes necessidades das pessoas; comunicação aberta e transparente, com canais de diálogo abertos para garantir que todos os profissionais, independentemente das suas diferenças, se sentem ouvidos e valorizados.
Refiro ainda os nossos Let’s Talk (eventos internos locais), em que fazemos um update da performance da organização e damos palco a projetos estratégicos, existindo sempre um espaço para reconhecimento, bem como uma nova iniciativa que lançámos no final do ano passado – «Conversas à Mesa» – em que o nosso diretor geral convida um grupo de 10 a 12 colaboradores para, durante o jantar, de forma livre e descontraída, expressarem as suas opiniões, os testemunhos e as experiências, para que esse feedback e esse conhecimento possam ajudar a melhorar a organização; por fim, temos objetivos mensuráveis e monitorizados de planos de sucessão, em que todas as lideranças têm de garantir a passagem do conhecimento e das competências essenciais, preparando as futuras gerações para assumir posições de liderança.
Com um ecossistema e uma realidade em constante mudança, valorizamos colaboradores ágeis e com capacidade de adaptação. Temos de ser capazes de responder rapidamente a novos desafios e oportunidades, mantendo o foco nos objetivos estratégicos da empresa. Esses, para mim, são os maiores desafios atuais no sucesso das organizações.
Em que medida as novas tecnologias, sobretudo a inteligência artificial (IA), têm impactado a vossa atividade?
As novas tecnologias, entre as quais a IA, estão a transformar significativamente a eficiência operacional dos sistemas de saúde, automatizando tarefas administrativas, melhorando a precisão dos diagnósticos, personalizando os cuidados aos doentes e otimizando a alocação de recursos.
Os registos de saúde digitais simplificam a gestão de dados, enquanto as ferramentas impulsionadas por IA melhoram a tomada de decisões, a análise preditiva e o planeamento de tratamentos, levando a redução de custos, melhores resultados clínicos e uma utilização mais eficiente dos recursos de saúde.
No caso da GSK, a IA permite-nos acelerar em termos de investigação e desenvolvimento (I&D), ajudando-nos a encontrar o «alvo certo» com o medicamento ou a vacina mais direcionada para o doente específico, de forma mais eficiente, rápida e precisa.
Como se vê numa empresa como a GSK, seja pelas oportunidades de carreira que tem, seja pela exigência do seu trabalho?
Nos últimos anos, conseguimos uma evolução significativa na nossa performance e acreditamos no poder de uma cultura inclusiva e de diferentes perspetivas e experiências para desbloquear todo o potencial da organização. Isto ajuda a atrair e reter talento, desenvolver soluções inovadoras e tomar melhores decisões, apoiando o desempenho a longo prazo e melhores resultados de saúde para os doentes.
Para dar o meu contributo, pauto o exercício da minha liderança e procuro, simultaneamente, incutir nos meus colegas: ter uma visão clara e alinhar estratégias de curto e longo prazo com os objetivos da empresa; manter uma comunicação aberta e transparente com todos os stakeholders, incluindo colegas, parceiros e autoridades; empoderar pessoas e delegar responsabilidades, promovendo um ambiente de confiança e autonomia; investir no desenvolvimento contínuo das minhas pessoas, oferecendo oportunidades de desenvolvimento; fomentar uma cultura de inovação e incentivar novas abordagens; e agir com ética e integridade em todas as decisões e ações, mantendo altos padrões de conduta.
Consegue identificar os principais desafios para o futuro do trabalho?
Posso dar a minha visão enquanto profissional da GSK. Com um ecossistema e uma realidade em constante mudança, valorizamos colaboradores ágeis e com capacidade de adaptação. Temos de ser capazes de responder rapidamente a novos desafios e oportunidades, mantendo o foco nos objetivos estratégicos da empresa. Esses, para mim, são os maiores desafios atuais no sucesso das organizações.
A esse respeito, o exemplo mais inspirador que posso dar é o da nossa CEO [chief executive officer], Emma Walmsley, a liderar a GSK desde 2017. Quando assumiu a liderança, enfrentou o desafio de revitalizar a empresa e posicioná-la para um futuro sustentável e inovador. Para isso, liderou uma reestruturação estratégica nas nossas principais áreas de negócio: Pharma (medicamentos e vacinas) e Consumer Healthcare. Essa reestruturação ajudou a concentrar recursos e esforços na área de maior potencial de crescimento, o negócio farmacêutico. Paralelamente, elevou o foco na inovação, com investimentos significativos em I&D, com ênfase em áreas terapêuticas prioritárias, como oncologia e doenças infeciosas. Sob a sua liderança, a GSK formou parcerias estratégicas com empresas de biotecnologia e iniciou colaborações com universidades, para acelerar a inovação. Paralelamente, promoveu uma cultura de alta performance, estabelecendo metas claras e responsabilizando os líderes e as equipas pelos resultados.
Graças à visão clara, à liderança decisiva e ao foco na inovação e na sustentabilidade, Emma Walmsley conseguiu transformar a GSK numa organização mais ágil, inovadora e preparada para enfrentar os desafios futuros.
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Guilherme Monteiro Ferreira
Diretor de acesso ao mercado e assuntos externos da GSK, Guilherme Monteiro Ferreira tem um Master of Pharmacy (MPharm) emais de 10 anos de experiência em Comunicação, Assuntos Governamentais e Acesso ao Mercado. Detém um conhecimento profundo do funcionamento das instituições da União Europeia, dos sistemas de saúde em toda a Europa e nos mercados emergentes e um amplo conhecimento das políticas de saúde. Liderando equipas altamente funcionais e eficazes, é focado na motivação e no desenvolvimento profissional, enquanto facilitador para um forte desempenho individual e conjunto. Tem um interesse contínuo no uso de ferramentas tecnológicas em apoio a melhores cuidados, ao mesmo tempo que contribui para sistemas de saúde sustentáveis.