De acordo com o último Salary Budget Planning Report, realizado pela WTW, empresa com posição de destaque mundial em consultoria, corretagem e soluções, um terço das organizações em Portugal (34%) comunicaram que os orçamentos para aumentos salariais em 2024 foram inferiores aos orçamentos de 2023. Estima-se que os aumentos planeados para 2025 rondem em média os 3,6%, um valor mais baixo do que o orçamento médio atribuído em 2024 (4,0%).
A instabilidade na sequência da pandemia, tensões geopolíticas e a guerra na Ucrânia com grande impacto nos países do ocidente, são fatores que colocam os orçamentos sob pressão.
Vejamos os aumentos salariais reais em Portugal desde 2020 (2025 planeado):
2020 | 2021 | 2022 | 2023 | 2024 | Previsão para 2025 |
2.4% | 2.3% | 3.2% | 4.2% | 4.0% | 3.6% |
As despesas totais com a remuneração (que incluem os salários, os bónus, a remuneração variável e os custos com benefícios) continuaram a aumentar em 2024 e, apesar de a média salarial ter descido e de uma perspetiva conservadora para 2025, os aumentos salariais continuam a ser razoáveis, segundo os padrões históricos.
Os fatores que influenciaram esta mudança no orçamento de aumento salarial em comparação com o ano anterior foram a gestão de custos e a inflação (38%), tendo sido apontados como os principais motivos. Seguiu-se o mercado de trabalho competitivo e/ ou a necessidade de reter talento (32%) e, também, resultados financeiros inferiores (26%) face ao ano anterior.
De um modo geral, as organizações ainda continuam a ter dificuldades em atrair e reter trabalhadores, com pouco menos de um terço (31%) das empresas a mencionar esta questão como um problema, ficando apenas dois pontos percentuais abaixo de 2023 (33%) e cinco por comparação a 2022 (36%).
Face às condições de mercado, muitas organizações referem já ter tomado medidas para melhorar a cultura no local de trabalho, tendo sido destacado por 51% das organizações o seguinte: as questões de diversidade, equidade e inclusão, maior flexibilidade no local de trabalho (48%) e melhoria da experiência dos colaboradores (47%). Além disso, um terço (33%) introduziu alterações nos programas de compensação, nomeadamente ao nível do salário base e/ ou incentivos de curto e longo prazo, reduzindo para 26% aquelas que alargaram essas mudanças também aos benefícios de saúde e bem-estar, e com previsão de continuar a fazê-lo também este ano.
Sandra Bento, associate director da WTW em Portugal, afirma: «As condições de mercado têm impactado diretamente os aumentos salariais. A inflação global e a escassez de mão-de-obra qualificada têm pressionado as empresas a ajustar os seus orçamentos salariais para manter o poder de compra dos colaboradores e atrair novos talentos. A flexibilidade no trabalho e na duração do trabalho, as políticas governamentais e as expectativas dos consumidores por práticas empresariais éticas e sustentáveis também desempenham um papel crucial na definição das estratégias salariais.»
O trabalho flexível continua a ter preferência dos colaboradores e 50% das empresas oferece as opções de trabalhar na empresa, remotamente ou híbrido. Ainda um número bastante reduzido (6%) oferece flexibilidade de horário, redução de horas semanais ou part-time, e 28% coloca todas as opções à disposição.
A responsável acrescenta ainda: «As expectativas dos colaboradores estão a mudar, sendo dado cada vez mais valor à flexibilidade, à personalização dos benefícios e à comunicação e à transparência salarial. E à medida que a legislação para a igualdade de género e para a transparência salarial evolui, maior pressão é colocada nas empresas. Estas têm de se concentrar em oferecer uma comunicação clara e coerente sobre as decisões salariais, continuando a desenvolver a experiência de cada colaborador e a garantir que não surjam novos problemas de atração e retenção. O período de aumentos salariais é naturalmente um momento de pressão e expectativa dentro das empresas, que deve ser gerido de forma justa e eficiente, contribuindo para a satisfação e a retenção dos colaboradores.»
O inquérito
O Salary Budget Planning Report é compilado pela área de Rewards Data Intelligence da WTW. O inquérito foi realizado entre os meses de setembro e outubro de 2024 e recebeu mais de 37 mil respostas de empresas de mais de 150 países em todo o mundo. Em Portugal, cerca de 470 organizações participaram neste inquérito.