No conto que dedica a Enrique Vila-Matas, no livro «Chamadas Telefónicas», Roberto Bolaño esclarece que o poeta consegue suportar tudo, mas essa máxima leva-o à ruína, à loucura, à morte. «Enrique queria ser poeta e punha nesse empenho toda a força e toda a vontade de que era capaz», escreve Bolaño, na sua primeira coletânea de contos, que a Quetzal faz chegar às livrarias a 10 de fevereiro.
Texto: Redação «human»
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Um bom conto – segundo Ernest Hemingway – deve ser como um icebergue: o que se vê é sempre menos do que aquilo que se mantém oculto debaixo de água e que é o que dá densidade, mistério, força e significado ao que flutua à superfície.
Os 14 contos de «Chamadas Telefónicas» (ed. Quetzal), de Roberto Bolaño, cumprem cabalmente esta premissa. Reunidos em três blocos, compõem uma antologia que remete para romances, escritores e personagens do universo ficcional daquele que é considerado um dos grandes criadores literários do século XX.
«Chamadas Telefónicas» é um complexo e fascinante organismo vivo, em permanente expansão.
Roberto Bolaño nasceu em 1953, em Santiago do Chile. Aos 15 anos mudou-se com a família para a Cidade do México. Durante a adolescência leu vorazmente e escreveu poesia. Fundou com amigos o Infrarrealismo, um movimento literário punk-surrealista, que consistia em «provocação e apelo às armas» contra o establishment das letras latino-americanas.
Na década de 1970, Bolaño vagabundeou pela Europa, posto o que se instalou em Espanha, na Costa Brava, com a mulher e os filhos. Aí, dedicou os últimos 10 anos da sua vida à escrita. Fê-lo febrilmente, com urgência, até à morte (em Barcelona, em julho de 2003), aos 50 anos.
A sua herança literária é de uma grandeza ímpar, sendo considerado o mais importante escritor latino-americano da sua geração – e da atualidade. Entre outros prémios, como o Rómulo Gallegos ou o Herralde, Roberto Bolaño já não pôde receber o prestigiado National Book Critics Circle Award, o da Fundación Lara, o Salambó, o Ciudad de Barcelona, o Santiago de Chile e o Altazor, todos atribuídos a «2666», unanimemente considerado o maior fenómeno literário das últimas décadas.
Mario Vargas Llosa assinalou que Bolaño é um escritor que inventou novas formas, uma voz muito independente e muito crítica. Já Susan Sontag considerou-o o mais influente e admirado romancista da sua geração».