Regresso de um clássico
Os filhos dos homens que nunca foram meninos

Em 2021, passam 80 anos sobre a primeira edição de «Esteiros», romance de Soeiro Pereira Gomes que denunciou um Portugal sem esperança e que durante duas décadas foi livro de leitura permanente nas escolas secundárias portuguesas.

Texto: Redação Human

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A Quetzal marca o reencontro com «os filhos dos homens que nunca foram meninos», personagens de «Esteiros», um romance inesquecível que ocupa a memória de muitos portugueses. De novo nas livrarias, com edição de capa dura e cuidados gráficos acrescidos, o livro estará disponível a 25 de março.

Gaitinhas, Guedelhas, Gineto, Maquineta e Saguí são os heróis de um romance que em 1941 trouxe à luz do dia a denúncia do trabalho infantil, da dureza da condição operária, da pobreza e da injustiça social. «Este mundo, o de ‘Esteiros’, foi demasiado amargo para os seus contemporâneos. É importante que o revisitemos na companhia do livro», escreve Francisco José Viegas na nota introdutória que revisita a maioridade da obra de Soeiro Pereira Gomes.

Graças à sua ingenuidade, à bravura e à simplicidade, «Esteiros», referência emblemática do movimento neorrealista no nosso país, é um documento marcante da história portuguesa do século XX. Ao contrário de muitos outros romances de natureza programática, e graças à qualidade da escrita de Soeiro Pereira Gomes e a um conhecimento detalhado daquele mundo real, o livro ultrapassa o quadro ideológico a que estaria destinado numa leitura estritamente política – e deve agora ser relido para que não esqueçamos o sofrimento desses anos, nem um autor que não pode ser retirado das nossas livrarias, agora finalmente reabertas.

Joaquim Soeiro Pereira Gomes (Baião, 1909 – Lisboa, 1949) estudou em Espinho e Coimbra (onde tirou o curso de regente agrícola) e trabalhou em Angola. Fixou-se em Alhandra e, a partir de 1939, começou a escrever no semanário oposicionista «O Diabo». Tendo aderido ao Partido Comunista Português (PCP) em 1937, passou à clandestinidade em 1944, sendo eleito para o Comité Central em 1946. Além de «Esteiros» (cujo desenho da capa da primeira edição é de Álvaro Cunhal), na sua bibliografia há ainda outro romance, «Engrenagem» (publicado postumamente em 1951), bem como recolhas de contos («Contos Vermelhos» ou «Refúgio Perdido e Outros Contos») e de crónicas. A sua correspondência com a mulher, Manuela Câncio dos Reis, está publicada no livro «Eles Vieram de Madrugada» (1981).