De acordo com o estudo da Mercer «Portugal Talent Trends 2018 – Unlocking Growth in the Human Age», a maioria dos executivos em Portugal planeia fazer alterações na sua estrutura organizacional. Por outro lado, os colaboradores valorizam cada vez mais oportunidades para crescer pessoal e profissionalmente (88%), com mais de metade (61%) dos inquiridos a querer maior flexibilidade no trabalho.
Pedro Brito (na foto), partner e business leader da área de career da Mercer | Jason Associates, assinalou: «Este ano, o estudo da Mercer confirma uma vontade a que temos vindo a assistir por parte dos gestores de topo no que diz respeito a processos de transformação nas suas organizações. As mudanças organizacionais têm de ser realizadas de forma integrada, em vez de se realizarem várias iniciativas isoladas. A organização tem de compreender porque se faz a mudança e deve ser realmente envolvida no processo. Caso contrário, as resistências vão surgir e o risco de atrasar o processo aumenta, colocando em causa a concretização dos objetivos estratégicos da empresa. A digitalização é uma das principais alavancas para a criação de organizações mais ágeis e competitivas. Mas a humanização tem de estar alinhada com esta realidade, trabalhando competências de resiliência face à adoção de novas tecnologias, e facilitando as atividades do dia-a-dia através destas novas formas de trabalhar. Só assim teremos equipas comprometidas com o futuro.»
Apesar do crescente peso das novas tecnologias, através de automação, robotização, inteligência artificial (IA), 3D e demais avanços, os executivos devem concentrar-se no «sistema operativo humano» para fortalecer as suas organizações. O estudo da Mercer identificou cinco tendências na gestão de talento em Portugal para 2018.
Cinco tendências
Velocidade da mudança: A forma como as empresas se preparam para o futuro do trabalho depende do nível de disrupção antecipada. Surpreendentemente, todas as empresas (100%) estão a planear mudanças estruturais este ano (um em cada quatro dos executivos têm um scorecard com métricas de transformação). As principais mudanças planeadas são formação de equipas que se auto-motivem e de natureza holocrática, a aposta em estruturas horizontais, a descentralização dos processos de decisão e a eliminação de determinadas funções com menor impacto para a organização e a criação de unidades de projeto. Por outro lado, grande parte dos colaboradores em Portugal (88%) esperam oportunidades de crescimento pessoal e profissional, sendo que as empresas procuram cada vez mais competências humanas únicas.
Uma vez que mais de 20% dos principais executivos prevê que, pelo menos, uma em cada cinco funções da sua organização deixe de existir nos próximos cinco anos, estar preparado para a substituição e a requalificação ao nível do trabalho é fundamental para a sobrevivência e a competitividade dos negócios. Atendendo a esta conjuntura, 94% dos executivos em Portugal referem a inovação como parte principal da sua agenda em 2018, apesar de apenas 35% terem investimento específico para tal. Somente 6% dos colaboradores referem ser muito simples inovar e 42% das empresas em Portugal têm formação em inovação. Cerca de 39% das empresas encorajam os colaboradores a apresentar ideias inovadoras.
Trabalhar com um propósito: Menos de metade (46%) dos colaboradores que se têm destacado e que se sentem profissional e pessoalmente realizados referem que as suas empresas apresentam um forte sentido de propósito. As razões mais apontadas para um colaborador ser bem-sucedido em Portugal prendem-se com uma remuneração justa e competitiva, oportunidades de carreira, líderes que definem uma direção clara, possibilidade de trabalhar com os melhores, oportunidades de desenvolvimento de novas capacidades e trabalho em projetos com um propósito. Uma evidência do estudo é que colaboradores com incentivos de carreira demostram quatro vezes mais compromisso para com a sua organização.
Flexibilidade permanente: Os colaboradores valorizam cada vez mais as suas expectativas entre o equilíbrio da vida pessoal e da vida profissional. Querem mais opções de trabalho flexível, sendo que as organizações estão cada vez mais atentas – 75% dos recursos humanos refere que a flexibilidade no trabalho é um foco para a sua organização, apesar de mais de metade (56%) ter receio de que a flexibilidade impacte nas suas perspetivas de promoção. contudo, nenhuma (0%) das empresas nacionais se considera um líder flexível o que entra em concordância com a maioria dos colaboradores (61%) desejarem uma maior flexibilidade – acima da média internacional.
Plataforma para o talento: Os profissionais de recursos humanos das empresas reconhecem a necessidade de delegar tendo em vista o futuro. A principal prioridade (49%) que destacaram em Portugal foi a necessidade de desenvolver líderes para o futuro. Na perspetiva dos executivos, o fator que terá mais impacto nas empresas este ano será valorizar e reforçar a experiência do colaborador. Já do ponto de vista dos colaboradores, a maior parte (63%) refere que quer que a sua empresa perceba melhor os seus interesses e as competências específicas. Assim, a experiência profissional dos colaboradores deve passar por dedicar mais tempo ao que realmente gostam e naquilo em que são bons a executar. Além disso, os executivos devem promover um maior contacto com e entre os colaboradores, atendendo ao facto de 71% dos colaboradores referirem que poderiam aumentar o desempenho se tivessem um acesso mais simples a especialistas e mentores. As principais mudanças que as empresas inquiridas referem na gestão de desempenho este ano são o desenvolvimento de carreira (41%), um investimento contínuo em ferramentas de feedback (40%) e calibração de objetivos (39%).
Digital de dentro para fora: Com a revolução digital em curso, as empresas e colaboradores dão cada vez mais relevância a ferramentas digitais na sua atividade profissional. Apesar de 75% dos colaboradores referirem que as ferramentas de última geração são importantes para o sucesso, mais de metade das empresas (68%) refere que, apesar de já estarem no caminho para moldar a experiência do colaborador, ainda há um longo percurso a percorrer. Os líderes das organizações pretendem investir este ano na gestão de conhecimento, na melhoria da eficiência das forças de vendas e em aumentar a eficiência dos recursos humanos. Atualmente, com as novas dinâmicas do mundo digital, um em cada três líderes em Portugal refere que o seu papel mudou com a introdução das tecnologias digitais, enquanto apenas um em cada quatro colaboradores sentiu essa mudança na sua atividade específica. Para o futuro do trabalho, será relevante criar transparência em torno de um quadro de referência automatizado. Cerca de 43% das empresas em Portugal utilizam atualmente ferramentas de avaliação on-line.
O estudo
O estudo da Mercer em Portugal contou com a participação de 31 executivos seniores, 96 líderes de recursos humanos e 302 colaboradores. O relatório avalia as novas tendências do futuro do trabalho, identifica as desconexões críticas relativamente à mudança e faz recomendações importantes para o crescimento de 2018.