O filme da grande pintora

«Paula Rego, Histórias & Segredos», realizado pelo cineasta Nick Willing, filho da artista plástica, estreou em Portugal este mês. Essencial para conhecer melhor a grande pintora.

Por Francisca Rodrigues

 

A estreia é acompanhada por um ciclo de cinema na Cinemateca Portuguesa, com filmes escolhidos por Paula Rego, e pela inauguração de uma nova exposição na Casa das Histórias, em Cascais, designada «Paula Rego. Histórias e Segredos», com 80 obras da artista e do seu marido Victor Willing, provenientes de museus nacionais e internacionais. Algumas serão vistas pela primeira vez em Portugal.

Quanto ao filme, Nick Willing, falando para o site do jornal «The Guardian», revelou diversos pormenores, designadamente episódios recorrentes de depressão, a relação complexa da pintora com o marido, os casos extraconjugais de ambos, a família e os problemas financeiros. O filme está em exibição em diversas salas nacionais.

 

Paula Rego

Oriunda de uma família de tradição republicana e liberal, Paula Rego (n. Lisboa, 1935) tem ligações à cultura inglesa e à cultura francesa. Estudou no Colégio Integrado Monte Maior, em Loures, e depois na Saint Julian’s School, em Carcavelos, revelando aí talento para a pintura. Incentivada pelo pai, mudou-se para Londres, para estudar na Slade School of Fine Art, onde ficou até 1956. Foi em Londres que conheceu o pintor Victor Willing (1928-1988), com quem casou em 1959.

Na década de 1960 passou a viver na Ericeira, numa quinta. Participou em exposições coletivas em Inglaterra. Em Portugal, em 1966, conquistou a crítica com uma exposição individual na Galeria de Arte Moderna da Escola de Belas-Artes de Lisboa.

No começo da década de 1970, a empresa da família vai à falência. Vendeu a quinta na Ericeira e regressou a Londres, tornando-se bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. Voltou à pintura, retratando o mundo intimista e infantil, com figuras de um teatro de crianças de Victor Willing (o macaco, o leão e o urso). A obra literária de George Orwell inspira, havendo também que fale de Hieronymus Bosch.

O percurso da pintora muda então radicalmente, com a série de uma menina e um cão. Aí, a figura feminina ganha peso, sendo o cão menorizado. Pinta figuras que ganham volume, espaço, autonomia. Surge uma nova perspetiva cenográfica está montada.

Em 1987, assina um contrato com a galeria Marlborough Fine Art, o que lhe dá verdadeira divulgação internacional. A morte do marido dá-se em 1988. Assinala o acontecimento nos quadros que pinta.

A National Gallery convida-a para ocupar um atelier, em 1990. Quatro anos depois cria uma série de pinturas em pastel (série «Mulher Cão») que marca o início de um novo ciclo.

Em 2006 acede ao convite do presidente da Câmara Municipal de Cascais, António Capucho, para expor em permanência a sua obra no concelho onde viveu grande parte da infância. Escolheu Eduardo Souto Moura para conceber o projeto e escolheu um terreno junto Museu do Mar para que aí fosse erguida a Casa das Histórias Paula Rego. A inauguração aconteceu no dia 18 de setembro de 2009. Acolhe, divulga e promove o estudo da sua obra, sendo a entidade responsável a Fundação Paula Rego.