Comunicação é poder

Sei que informação não é formação; sei que temos mais dinheiro e somos mais pobres, possuímos mais diplomas e certificados mas somos mais analfabetos; construímos famílias diferentes e mais pequenas, mas quase nunca temos tempo para estarmos juntos; a inovação tecnológica chega às nossas empresas, mas temos mais pessoas desempregadas.

Por Paula Campos

É como se de repente entrássemos num baile de sedução, e sem vislumbrar contornos, ora o pensamento começa a dar forma à ideia, ora a ideia começa a contagiar a emoção, e as palavras começam a organizar-se para se estruturarem num texto final, que chega a quem, por alguma razão, se deixa seduzir e se entrega à sua leitura atenta.

É este o fascínio de quem escreve notícias, crónicas, artigos, livros… Não interessa o quê, mas de quem percebe que escrever é uma forma de partilhar e comunicar, de quem sabe que escrever é uma forma de relação que deixa sempre marcas, por vezes boas, outras vezes dolorosas, mas não deixa nunca ninguém indiferente.

Nesta perspetiva, a escrita é uma arma que mal utilizada pode matar. Naturalmente que a metáfora utilizada retira a tonalidade trágica áquilo que acabei de escrever, e desta forma, porque não é consumada, a morte de que falo tem sempre em última instância uma réstia de esperança de que se pode sempre mudar, para melhor.

Estás naturalmente a questionar onde pretendo chegar com este preâmbulo, e eu respondo-te sinceramente que não sei.

Sei, isso sim, que acabei de estar com alguém a quem uma notícia deixou transtornada e impotente. Transtornada, porque não entende como a revista teve acesso a essa informação; impotente, porque afirma ser falsa e deturpada, e não sabe a quem recorrer para repor a verdade, e em última instância se vale a pena fazê-lo.

Não foi esta situação que me levou a entregar-me às minhas reflexões, foi ela que de repente me transportou para a sociedade de informação onde sem dúvida a comunicação é o grande poder.

Eu já sabia que existem noticias que derrubam governos, influenciam as bolsas e os mercados, mudam repentinamente o estatuto a pessoas que passam de bestiais a bestas, de poderosas a frágeis, de modelos de liderança a corruptos em liberdade condicional, adornados com pulseira eletrónica.

Eu já sabia que hoje temos o mundo à distância de um clic, e sem grande dificuldade acedemos às bibliotecas das melhores universidades do mundo, temos informação das últimas descobertas da ciência, da medicina, da astronomia, que nos permitem perceber que o mundo muda, que o universo é imensurável, que hoje se pode viver mais tempo.

Eu já sabia que apesar de toda a vida existirem criminosos e corruptos, hoje sabemos e acompanhamos quase tudo em direto, como se estivéssemos lá. Existem programas de entretenimento, onde os protagonistas nos brindam com a sua vida em direto, tentando fazer-nos entender, numa lógica de experiência social, o que significa viver sem intimidade.

Também quase em direto, acompanhamos a vida dos famosos que pagam a fatura da fama, encetando lutas infindáveis contra os paparazzi que os perseguem até ao fim do mundo, ávidos por uma imagem valiosa para publicar.

Sabemos tudo dos nossos milhões de amigos do «Facebook» ou dos seguidores de qualquer uma das redes sociais.

Tudo isto eu já sabia…E tudo isto eu sei.

Sei igualmente que informação não é formação; sei que temos mais dinheiro e somos mais pobres, possuímos mais diplomas e certificados mas somos mais analfabetos; construímos famílias diferentes e mais pequenas, mas quase nunca temos tempo para estarmos juntos; a inovação tecnológica chega às nossas empresas, mas temos mais pessoas desempregadas.

Temos mais coisas mas sentimo-nos mais vazios, temos um milhão de amigos virtuais mas sentimo-nos mais sós.

Esta é a nossa realidade, o nosso mundo. Um mundo onde tudo muda rapidamente, onde a noção de passado, presente e futuro é mais esbatida e nos leva constantemente a desabafos de que o ano passou ou está a passar rápido, que a distância de segunda a domingo é mais curta, que fazemos anos mais depressa.

Esta é a nova sociedade da informação, perigosa e fascinante.

Perigosa, porque a informação é uma das poderosas armas que num instante faz de nós deuses ou demónios, seres inteligentes ou analfabetos letrados, utilizadores ou predadores, terroristas ou vítimas.

Fascinante, porque como disse Peter Drucker «a revolução da informação representa uma nítida transferência de poder de quem detém o capital para quem detém o conhecimento».

Eu escolho a segunda.

 

Paula Campos é professora universitária

mpocampos@sapo.pt