A globalização na busca pelo talento intensificou-se nas últimas duas décadas, impulsionada pela digitalização e pela escassez de competências técnicas, e a pandemia de Covid-19, com consequente expansão do teletrabalho, abriu caminho a um mercado de trabalho interconectado e sem fronteiras.
Texto: Cidália Lima Foto: DR
Como consultores de recursos humanos, o nosso papel é apoiar as organizações a navegar nesse ecossistema global, a integrar a diversidade cultural e adotar novas estratégias de atração.
Gerir o recrutamento em Portugal significa enfrentar a escassez de profissionais e a pressão para atrair e reter talento. A taxa de desemprego baixa e a saída de jovens qualificados para o estrangeiro desafiam as empresas a encontrarem novas formas de recrutar e investir em estratégias de employer branding cada vez mais inovadoras e impactantes.
Nas áreas tecnológicas e em funções menos qualificadas – turismo, agricultura, indústria, construção – a escassez agrava-se, exigindo cada vez mais o recurso a trabalhadores estrangeiros. A resposta passa por atrair talento internacional e adotar modelos inovadores, como o skills-first, que valorizam competências em vez de diplomas.
Num mercado competitivo, torna-se essencial oferecer uma experiência positiva ao candidato, que se torna um embaixador da marca, mesmo quando não é selecionado. Comunicação transparente, feedbacks construtivos e processos personalizados são elementos-chave para criar esta experiência.
A tecnologia introduziu uma revolução no recrutamento, conferindo-lhe agilidade e escalabilidade. O recurso a plataformas digitais, inteligência artificial (IA) e uma ampla presença on-line, garante acesso quase instantâneo ao currículo de candidatos, em qualquer localização geográfica, permitindo comparações céleres entre vários perfis. Contudo, levantam-se novos desafios. A virtualização trouxe desumanização, a pressa por respostas imediatas, a menor disponibilidade para conversas presenciais e o ecrã como refúgio. Nesse processo, perde-se o verdadeiro conhecimento do «outro» na relação. Entrevistas conduzidas por IA podem ser uma realidade, mas não devem substituir a experiência humana, que marca o primeiro contacto entre candidato e empresa. Não descurando as questões éticas e o viés algorítmico que é encontrado em muitos sistemas de IA, em termos raciais e de género (estudos de Joy Buolamwini, fundadora da Algorithmic Justice League).
Num mundo sem fronteiras, algoritmos que prometem eficiência e pessoas que procuram propósito, o recrutamento tornou-se um território de equilíbrio delicado. O papel dos recursos humanos é recordar que nenhum sistema substitui empatia, visão e cultura humanizada.
A tecnologia trouxe escala, velocidade e alcance ao recrutamento, mas o fator humano não pode ser secundarizado. O nosso papel é integrar pessoas e sistemas, garantindo que a experiência do candidato é autêntica, ética e alinhada com os valores das empresas.
As novas gerações trazem novas exigências ao mercado de trabalho: cresceram num ambiente digital, dominam a tecnologia e procuram funções com impacto, propósito e flexibilidade. A Geração Z valoriza projetos desafiantes, experiências diversificadas, mesmo que curtas. Além do salário, dão grande importância ao pacote de benefícios e ao work life balance (Oliveira, M. 2022). A Geração Alfa, ainda em formação, foca-se em experiências imersivas e personalizadas. Preparar o futuro não começa quando eles chegam, começa agora. É essencial agilizar os processos, reduzir as etapas, oferecer desde o início uma visão clara do projeto, benefícios e perspetivas de carreira. Os recrutadores precisam de adaptar a sua abordagem e compreender os valores e as motivações de cada geração, e criar conexões genuínas e duradouras.
Num mundo sem fronteiras, algoritmos que prometem eficiência e pessoas que procuram propósito, o recrutamento tornou-se um território de equilíbrio delicado. O papel dos recursos humanos é recordar que nenhum sistema substitui empatia, visão e cultura humanizada.
O verdadeiro desafio não é contratar mais rápido, mas com autenticidade. O novo head hunting deve construir relações, entender propósitos e conectar pessoas a oportunidades que façam sentido, dentro e fora das fronteiras físicas e geracionais.
Nota: Cidália Lima (à direita na foto) é people senior manager da Pessoas e Sistemas

A Pessoas e Sistemas foi fundada em 2005, em Lisboa, a partir de um conjunto de vontades de quem já tinha uma carreira sólida na área da gestão de pessoas e estava disposto a partilhar a experiência com outras empresas. Em 2013 abriu instalações no Porto.
A consultora dedica o seu tempo às pessoas, aquelas que gerem, que operacionalizam, que decidem, que mudam, que criam… mas também aos processos, à forma de fazer. É nesta dualidade, entre pessoas e processos, que está a sua razão de existir, defendendo que sinergia entre os dois âmbitos torna as empresas mais eficientes.
