Como recrutadores, somos frequentemente solicitados a encontrar o candidato perfeito: alguém com anos de uma experiência específica, múltiplos idiomas (mesmo quando desnecessário), habilidades técnicas exatas e tudo dentro de um orçamento apertado. Mas, na maioria das vezes, esse ideal acaba por ser um unicórnio: desejável, mas irrealista.
Texto: Agustina Bastías Solís Imagem: Freepik/ Drazen Zigic
O atual mercado de trabalho leva-nos a repensar o que entendemos por perfeição num processo de contratação. Agora mais do que nunca, os candidatos ideais não são aqueles que preenchem todos os itens numa lista de verificação técnica, mas sim aqueles com potencial para crescer, adaptar-se e acrescentar valor a médio e longo prazo. As habilidades técnicas (hard skills) podem ser aprendidas, treinadas e atualizadas. Mas o foco em resultados, iniciativa, determinação, confiabilidade e resiliência e a capacidade de colaborar efetivamente são valores essenciais que não podem ser ensinados num curso.
Muitas vezes, há uma incompatibilidade entre expectativas e orçamento. Se estamos a procurar senioridade, isso vem com um custo maior. Quando os recursos são limitados, o melhor investimento pode ser alguém com potencial e uma forte vontade de crescer dentro da função. Também precisamos de questionar alguns requisitos. Serão todos os requisitos do anúncio essenciais para esta posição? Será necessária experiência exata com todas as ferramentas? Ser flexível aqui pode abrir acesso a uma pool de talentos mais ampla e diversificada.
Temos visto que dar uma oportunidade a candidatos que não preenchem todos os requisitos resulta muitas vezes em profissionais altamente motivados que trazem ideias novas e pontos fortes inesperados para a equipa. Esses indivíduos tendem a ser mais adaptáveis e proativos para provar o seu valor, crescendo mais rápido e contribuindo mais do que o esperado inicialmente.
E os dados comprovam isso: de acordo com um estudo da «Harvard Business Review», empresas que priorizam habilidades interpessoais (soft skills) e potencial de aprendizagem na contratação veem um aumento de até 34% na retenção de funcionários e um aumento de 25% no desempenho geral da equipa.
O que se pode fazer de diferente como responsável pelo processo de recrutamento?
– identificar os requisitos que são realmente essenciais;
– avaliar curiosidade, agilidade de aprendizagem e adequação cultural (e não apenas experiência);
– estar aberto a candidatos juniores que se alinhem aos valores da equipa;
– colaborar de perto com os recrutadores para alinhar expectativas e orçamento;
– considerar o upskilling e a mentoria como parte da estratégia de contratação.
O convite é olhar para lá do currículo. Criar espaço para perfis que podem não atender 100% ao que imaginamos, mas que possuem o essencial para construir, crescer e contribuir. Dar uma oportunidade ao candidato «imperfeito» – que pode não ser exatamente o que estamos à procura, mas que tem o potencial de crescer – gera profissionais mais gratos e comprometidos com a empresa. É um investimento em alguém que está a construir a sua carreira e pode crescer junto com a equipa.
Às vezes, o melhor candidato não é aquele que se encaixa perfeitamente hoje, mas aquele com o maior potencial para o futuro.

Agustina Bastías Solís, Talent Acquisition Specialist na Bosch Portugal
A Bosch está presente em Portugal desde 1911. Atualmente, o Grupo Bosch é um dos maiores empregadores do país, com mais de 6.800 colaboradores. As áreas de negócio de Soluções de Mobilidade e Energia e Tecnologias de Edifícios estão representadas no país com localizações em Aveiro, Braga e Ovar. É nessas localizações que a Bosch desenvolve e produz soluções de água quente, sensores automóveis e soluções de infotainment e sistemas de videovigilância e comunicação, mais de 97% dos quais exportados para mercados internacionais. A empresa tem ainda centros de desenvolvimento nas diferentes localizações nos quais cerca de desenvolve soluções que estão a contribuir para moldar a mobilidade, casas e cidades inteligentes do futuro. A partir de Lisboa desenvolvem-se as atividades comerciais, jurídicas, fiscais, de marketing, contabilidade e comunicação para a Bosch a nível nacional. Esta unidade tem ainda uma equipa multicultural que desenvolve atividades para o Grupo Bosch, desde os recursos humanos partilhados, serviços de comunicação, passando pela consultoria e arquiteturas IT (tecnologias de informação) para projetos de recursos Humanos (RH), engenharia industrial e plataformas IT de produção e conectividade, consultoria em projetos de gestão industrial e do novo conceito de mobilidade Bosch eBike Systems.
O Grupo Bosch emprega mais de 420.000 colaboradores em todo o mundo.