Vivemos uma nova realidade, onde o toque da inteligência artificial se torna, cada vez mais, invisível e recorrente. A fase é de ajustes, críticas, contemplações e receios, com preocupação de perda de propriedade de informação, escalando para sociedades reféns da nova tecnologia.
Texto: Catarina Ricardo Foto: DR
.«No cenário digital em constante evolução de hoje, a inteligência artificial (IA) emergiu como uma força transformadora que está a renovar a forma como as organizações operam e tomam decisões. Desde automatizar tarefas rotineiras até prever tendências de mercado, a IA capacita as organizações a tomar decisões mais informadas e orientadas por data, levando a uma melhoria na produtividade, melhores experiências para o cliente e uma vantagem competitiva num ambiente de negócios cada vez mais complexo.»
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A epígrafe deste artigo foi realizada por inteligência artificial (artificial intelligence, AI), no ChatGPT. Vivemos uma nova realidade, onde o toque da AI se torna, cada vez mais, invisível e recorrente. A fase é de ajustes, críticas, contemplações e receios, com preocupação de perda de propriedade de informação, escalando para sociedades reféns da nova tecnologia.
A tecnologia é algo em constante mudança, e cada vez mais acelerada. A aplicação da AI, como sugerido pelo ChatGPT, permite às organizações ganhos em valor comercial – mais receitas, menos custos e melhor eficiência (AlSheibani et al., 2020).
Implementar AI numa organização pode ser comparado a introduzir uma equipa muito qualificada e adaptável. Imagine colaboradores brilhantes, que não se cansam, trabalham 24 horas/ dia e se destacam em análise de dados, reconhecimento de padrões e processos repetitivos; estes «colaboradores virtuais» processam vastas quantidades de informação rapidamente, identificam tendências e anomalias e fazem recomendações com base nas suas descobertas. Mais, tal como desenvolvemos novos colaboradores, a implementação da AI envolve a formação e o ajuste contínuo dos algoritmos para se alinharem cada vez mais com os objetivos. À medida que a «equipa de AI» adquire experiência, torna-se mais valiosa no suporte à tomada de decisão, na automação de tarefas e no aumento da eficiência.
Estas «equipas» trazem desafios e ameaças de extinção de profissões. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), tarefas administrativas e de comunicação, processamento de informação e linguagem, serviço ao cliente, fornecimento de informação e gestão de dados são as mais expostas. Isto leva à procura de processos de recursos humanos (RH) que acompanhem as alterações. Por exemplo, um colaborador que deixe de assumir tarefas agora automatizadas e fique responsável por outras mais complexas e exigentes, deve ser avaliado da mesma forma?
Segundo Enholm, Ida Merete et al., alguns fatores organizacionais assumem grande peso na implementação da AI (estrutura, cultura, liderança, relação dos colaboradores com AI, formação…) e têm sido os que mais temos desenvolvido nas organizações.
Definir uma estratégia não se limita a declarar o que gostaríamos de alcançar, inclui a definição de processos, iniciativas e prazos, já que a AI pode promover grandes modificações na estrutura organizacional, no nível de colaboração entre departamentos e na forma como a data é trabalhada.
Para implementar a estratégia, é crítico pensar na estrutura e na forma de trabalhar, evoluindo para uma abordagem holística de resolução de problemas que leva ao redesenho do organograma e ao (re)alinhamento das funções. E há que promover uma cultura que estimule a aplicação da tecnologia; culturas inovadoras que incentivem a exploração, a criação e a implementação de novas ideias são aqui terrenos férteis. Colaboradores que vibram com este mindset estão mais dispostos a utilizar uma nova tecnologia e são capazes de identificar e aproveitar as oportunidades da IA; um ponto ainda por explorar na literatura remete para isto: tecnologias como a AI, de que forma afetarão a capacidade da organização para inovar mais e melhor.
Neste sentido, importa formar os colaboradores, avaliando a disponibilidade interna de conhecimentos para garantir que existe capacidade técnica para utilizar as novas ferramentas, e saber para que funções devem ser direcionadas – uma adequação mais forte entre tecnologia e tarefa leva a níveis mais altos de adoção e uso (Mishra e Pani, 2020).
Como em qualquer processo de mudança, a liderança e a liderança de topo devem tornar-se fortes stakeholders. Com programas de transformação, focados na comunicação e no exemplo, impacta-se e envolve-se toda a organização. A confiança na tecnologia ou noutros processos de mudança é potenciada pelo grau de compreensão. Assim, o entendimento do propósito, suportado num plano de comunicação estruturado, permite promover a confiança e fazer reconhecer o papel da AI na nova realidade organizacional. Tudo depende da forma como reagimos. Devemos recebê-la com um «Hi», de outra forma os «Ais» poderão ser mais que muitos. Hi AI!
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»»»» Catarina Ricardo é consultora da Michael Page Consulting. A Michael Page é uma das mais conhecidas e respeitadas consultoras de recrutamento do mundo. Estabelecida há mais de 40 anos no Reino Unido, tem atualmente 140 escritórios em 35 países.