Estudo da Michael Page destaca vontade de mudança profissional

No estudo «A Grande Reflexão», da Michael Page, uma das mais conhecidas e respeitadas consultoras de recrutamento do mundo, é analisada a realização dos profissionais europeus e os fatores que impulsionam a mudança de carreira, levando as pessoas a procurar mais sentido e realização na sua função.

De acordo com o estudo, apenas 15% dos candidatos estavam convencidos que tinham encontrado o emprego certo e não tinham qualquer desejo de mudança, e apenas 10% afirmaram que nunca sequer tinham ponderado a mudança do seu percurso profissional.

O estudo, realizado junto de 6.286 candidatos a nível europeu, entre julho e setembro de 2022, revelou que atualmente os percursos profissionais são dinâmicos, a mudança é mais comum, e a construção de uma carreira inclui vários empregos.

Assim, quase metade (47%) dos candidatos inquiridos afirmou que mudou para um sector diferente desde o início da sua carreira. No entanto, mudar de sector não é a única forma de ser bem-sucedido, com 45% dos inquiridos a indicarem que foram promovidos dentro da mesma empresa.  

Quando questionados sobre quanto tempo ficariam na mesma posição antes de considerarem uma mudança, mais de um terço (35%) dos profissionais indicou entre três a cinco anos, sendo três anos a resposta mais frequente. Por outro lado, 40% afirmaram que depende da dinâmica da empresa, sugerindo que uma mentalidade flexível é uma competência essencial ao definir percursos profissionais. 

Relativamente ao número de empregos que fazem uma carreira, 15% dos inquiridos está convicto de que encontrou o emprego ideal e não pretende mudar. No entanto, esse pensamento é diferente para as pessoas que consideram que vão ter dois (18%), três (18%) ou quatro (7%) empregos diferentes na sua carreira, com 11% a acreditar que necessitam de cinco ou mais empregos.

A aspiração de mudar rapidamente de emprego é apontada por muitos candidatos. Aproximadamente 62% dos candidatos ou já mudaram de carreira (38%) ou estão no processo de mudança (24%). Apenas 10% afirmaram que nunca pensaram em mudar o seu percurso profissional. Destes candidatos, 46% acreditam que o seu emprego atual é o ideal, enquanto 22% é da opinião que mudar de carreira parece ser complicado ou arriscado. Por fim, cerca de 12% dos profissionais já pensaram em mudar de carreira, mas consideram que não vão fazê-lo.

Maria João Quelhas, senior manager da Michael Page Sales & Marketing, refere: «Falamos muitas vezes sobre chegar a um momento de encruzilhada nas nossas vidas, um momento de reflexão antes de tomar uma decisão que pode ter profundas consequências. Depois de uma pandemia global, da ascensão do teletrabalho e de outras mudanças na forma como trabalhamos, muitos colaboradores sentem que talvez estejam no momento de procurar outra alternativa e mudar de projeto. Os dias em que uma carreira bem-sucedida era maioritariamente definida pela sua estabilidade, iniciado numa posição entry-level numa empresa familiar e trabalhar para subir de posição, terminaram. Estes dados comprovam a atual turbulência no mercado de trabalho, que se traduz por um lado, pela resignação relativamente às funções desempenhadas e às empresas em que se está e, por outro, por uma grande vontade de renúncia e conhecimento de novas realidades, caso a existente por variadíssimas razões já não faca sentido.»

Os candidatos apontam ainda como os principais fatores de motivação para a mudança, a predisposição para aprender coisas novas (56%), enquanto 46% veem potencial para estarem abertos a mais oportunidades e melhores percursos profissionais.  

No entanto, o crescimento profissional está longe de ser a única prioridade do candidato atual. Muitas pessoas procuram um sentimento de realização na sua vida profissional. Quase 39% pretende trabalhar numa empresa com um forte propósito, enquanto 32% procuram uma carreira que esteja alinhada com os seus valores pessoais. Os interesses e responsabilidades pessoais também são importantes, 41% dos candidatos desejam alcançar um melhor equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional na sua nova carreira.   

Mesmo com a dinâmica do mercado de trabalho atual, é raro mudar de carreira impulsivamente. Cerca de 41% dos candidatos afirma ter demorado vários meses ou anos a tomar uma decisão, por oposição a 32% que foram encorajados por uma situação concreta, como perder o emprego (23%), sofrer uma crise relacionada com o Covid-19 (14%) ou ser impactados pela cultura ou estrutura da empresa (13%).

A necessidade de upskilling e competências técnicas e interpessoais adequadas para poder mudar de carreira e serem bem sucedidos, são fatores também indicados pelos candidatos. Na atual economia do conhecimento, 71% dos inquiridos colocaram o desenvolvimento da formação e profissional entre os benefícios mais desejados, à frente das regalias mais tradicionais, como os sistemas privados de saúde e a utilização de um veículo da empresa.

Cerca de 37% dos profissionais indicou necessitar de formação extra para facilitar a sua mudança, em oposição a 36% que não necessitam. Entre os anteriores, 19% tiveram de se despedir para se focarem em novas formações. Aproximadamente 29% dos candidatos completaram uma avaliação de competências ou receberam conselhos de profissionais. Neste contexto, os candidatos são também atraídos por chefias que incentivem o crescimento profissional e uma cultura que apoie os colaboradores.

A realização pessoal no trabalho depende também da empresa e do seu compromisso com a responsabilidade social. Três quartos dos trabalhadores europeus inquiridos afirmaram que queriam trabalhar para uma empresa comprometida com a responsabilidade social corporativa (CSR) e as atividades que desenvolve, desde a promoção dos direitos humanos até à criação de oportunidades para trabalho voluntário na comunidade local.

Por último, a procura de flexibilidade e de um melhor equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal acelerado pela pandemia e o trabalho a partir de casa é declarado por 59% dos colaboradores que gostariam de trabalhar remotamente a tempo parcial ou a tempo inteiro.