Programa MILES
Uma aposta na proximidade

Portugal tem vários problemas sociais a que o Estado não consegue dar resposta e para os quais as organizações de solidariedade social representam uma grande ajuda na vida de milhares de beneficiários, em bastantes casos até a única ajuda.

Texto: Inês Tamagnini Sousa

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Estas organizações prestam um apoio fundamental, muitas vezes diário e várias vezes ao dia. A grande maioria é liderada por pessoas que não tiveram formação em gestão e têm constantes desafios principalmente de ordem financeira e de recursos humanos que lhes consomem muito tempo e energia.

Deste modo, as organizações não têm o hábito de se questionar: como poderiam prestar um apoio mais eficaz?; qual é a forma mais eficiente de realizar as tarefas?; existe uma contabilidade por centro de custo?; como se poderá aumentar as receitas?; qual é o plano da organização para os próximos 12 meses?; e para os próximos cinco anos?; existem funções e processos definidos e toda a organização os conhece e respeita o que foi definido?; como aumentar a qualidade de serviço?; qual é a melhor forma de comunicar internamente?; quais são os objetivos para a comunicação externa?; qual é o impacto que a organização está a ter?

Foi para dar resposta a estas questões e muitas mais que a Fundação Manuel Violante criou o Programa MILES, que tem por objetivo capacitar os quadros das organizações de solidariedade social de forma a dar-lhes ferramentas que garantam facilidade na gestão, inovação nos modelos de negócio, impacto e sustentabilidade a longo prazo, e que ao fim de um ano as organizações consigam evoluir e realizar o trabalho de uma forma autónoma.

Enquanto voluntária da fundação no meu papel de mentora de várias organizações, o que me fascinou no MILES é não ser somente um programa de transmissão de conhecimento, onde um elemento da organização está de forma passiva a ouvir, mas sim um programa que permite o envolvimento de toda a organização, incluindo a direção, de forma prática no seu processo de transformação.

As formações permitem a frequência de várias pessoas da organização, com uma componente teórica complementada com vários exercícios práticos ajustados à realidade das entidades da economia social.

É um processo de aprendizagem contínuo, onde são abordados diferentes tópicos durante um ano e durante o qual a organização pode contar com o apoio de um mentor que a acompanha, desafia e apoia na implementação dos conhecimentos adquiridos para que se verifique uma verdadeira mudança na organização.

Desde 2019 que sou mentora do MILES tendo já acompanhado diferentes organizações: Dona Ajuda, APCV – Associação Paralisia Cerebral Viseu (Menção Honrosa – Prémios CUF Inspira 2021); Caritas Santa Maria Viseu (3º Lugar – Prémios CUF Inspira 2022).

Enquanto mentora deste programa tento conhecer bem o ponto de partida da organização criando uma relação de proximidade que permita que o trabalho se desenvolva de forma mais simples e tranquila. Ao longo de todo o processo de capacitação estou lado a lado com a organização, em reuniões de acompanhamento regulares para garantir que o foco se mantém no cumprimento dos objetivos dentro dos prazos definidos. Estar disponível e ser flexível consoante a conjuntura da organização também são dois fatores essenciais para o sucesso da formação.

Quando a Associação Dona Ajuda iniciou o processo de capacitação, tive a sorte de conhecer a Rita, um dos elementos da equipa, e descobrir que tínhamos vários pontos em comum, o que tornou a comunicação mais fácil e fluida durante as sessões de mentoria. Esta relação de proximidade que se estabelece com as equipas das organizações é um dos fatores chave para a mudança. Durante o programa, a fundação, os mentores e as organizações são uma só equipa empenhada em transformar estas organizações em superorganizações.

Cada organização é um desafio diferente. Esperamos que no fim da capacitação as organizações estejam mais resilientes e capazes de criar um maior impacto na sociedade, porque o programa MILES «ensina a pescar».

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»»»» Inês Tamagnini Sousa é consultora da Stone Soup Consulting e da Cloverleaf4Impact.