Sala cheia na estreia ao vivo de «Ficheiros Secretos», espetáculo de Luís Osório que encheu os Recreios da Amadora na noite de sábado passado, 17 de setembro.
Texto: Redação «human»
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Na histórica sala Recreios da Amadora, Luís Osório recuperou a arte e a tradição de contar histórias, com a estreia de um espetáculo intitulado «Ficheiros Secretos», criado a partir do seu mais recente livro, que tem o mesmo nome e está já em terceira edição.
A sala encheu e, na plateia, com participação na sessão, estiveram figuras como Ramalho Eanes, Manuela Eanes, Daniel Sampaio, Tiago Rodrigues e Violante Saramago Matos. No final, o público aplaudiu de pé Luís Osório, pelo sucesso deste quase-monólogo, um espetáculo de 90 minutos que entretece histórias reais de algumas das principais figuras da política e da cultura portuguesas.
«Ficheiros Secretos» terá uma data extra na Amadora e depois visitará outras salas do país, a anunciar em breve.
Em relação ao livro, editado pela Contraponto, assinale-se que é no detalhe, na traição de alcova e na inócua anedota contada entre quatro paredes que, muitas vezes, os destinos se cruzam ou separam para sempre. Com ele, Luís Osório recupera ficheiros da política e da sociedade portuguesas que pertenciam à categoria do que nunca se soube e desvenda acontecimentos guardados no fundo do baú do que estava por contar.
Pode saber-se do último encontro entre Álvaro Cunhal e Mário Soares antes do 25 de Abril – o que discutiram e o que ficou acordado –, a história nunca contada do ataque que estava planeado às sedes do PCP se Freitas do Amaral tivesse vencido as presidenciais de 1986, como Maria Barroso votou contra a fundação do PS ou que Alberto João Jardim cantou para Salazar. E também que o homem que Vasco Gonçalves mais amou era um salazarista fanático, e conhecer o sobrinho do ditador que vive casto em memória do tio e as mulheres que no Vimieiro se lembram de lhe lavar os pés. E o que se passou no dia em que Pinto Balsemão esperou por Isabel do Carmo com uma pistola em cima da mesa. Perceber como a morte do pequeno Chico, irmão de José Saramago, determinou a vida do escritor. Ou como a morte do amor da vida de Siza Vieira lhe definiu o destino. E saber como foi o dia em que o pai de Manoel de Oliveira, no leito da morte, quis que ele conhecesse dois irmãos de uma relação bastarda. Perceber a solidão de Amália Rodrigues e ficar a saber que, ao contrário do que se dizia, detestava vinho. E também surpreender-se com a noite em que Fernando Carvalho Rodrigues se fez passar por Pavarotti ou ler a extraordinária história do último leproso português e da tenebrosa leprosaria construída pelo Estado Novo.
Segundo assinala a Contraponto, o livro «Ficheiros Secretos» é uma excelente forma de definir o país que somos: um Portugal feito de personagens, desencontros e paradoxos. Luís Osório nasceu em 1971, em Lisboa. Dirigiu jornais e uma estação de rádio. Imaginou programas de televisão, encenou uma peça de teatro, participou em comissões governamentais, coordenou a comunicação política de uma campanha presidencial e é consultor empresarial. Comentou política, realizou documentários e foi premiado como jornalista e criativo. Publicou oito livros, o último dos quais «30 Portugueses, 1 País», resultado de 30 conversas com figuras portuguesas das mais variadas áreas.
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Nota: foto Município da Amadora.