Jazz, organizações e pessoas

A banda de jazz tem vindo a ser sugerida como a metáfora que melhor representa o comportamento organizacional neste novo ambiente organizacional e social.

Texto: João Franco

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«A existência de estruturas mínimas é uma das características mais importantes para a improvisação (…) aquilo a que podemos chamar como a arte da imaginação disciplinada.»

K. Weick

Cada vez mais as organizações têm procurado analogias e metáforas que possibilitem a descoberta de novos caminhos que as conduzam a elevados níveis de performance.

Conhecemos as limitações de estruturas rígidas nas quais os seus elementos apenas se limitam a executar o que está (d)escrito na «pauta» das suas funções. As limitações da burocracia de Weber e da divisão social do trabalho do Taylorismo, ou da metáfora organizacional «como uma máquina», são ainda evidentes em muitas organizações. Vivemos em ambientes turbulentos, onde devido à tecnologia, à globalização, à competitividade crescente e ao aumento gradual do nível médio de educação, os ritmos de mudança são acelerados e tantas vezes imprevisíveis.

A banda de jazz tem vindo a ser sugerida como a metáfora que melhor representa o comportamento organizacional neste novo ambiente organizacional e social. Criatividade, inovação e capacidade de improviso são identificadas como competências importantes e principais fontes de vantagem competitiva das organizações. Estas são, também, ações centrais na prática do jazz e os pilares das Jam Sessions que realizamos.

Recriando o «ambiente» de um ensaio/ concerto de uma banda de jazz, as Jam Sessions são muito mais do que uma formação ou workshop.  Sustentadas numa estrutura mínima que é proposta e assegurada pelos facilitadores, os participantes são desafiados a incrementar a sua qualidade de solistas/ ouvintes enquanto elementos de um grupo que improvisa sobre um tema, pensando e orientando a sua comunicação e ações para a descoberta de novas formas de pensar, decidir e executar.

Os participantes são assim intérpretes criativos que, de acordo com o seu grau de expertise no tema, são convidados e estimulados a participar. O clima é de co-construção de conhecimento, utilizando o improviso e a criatividade como meios de incrementar valor à intercomunicação e à interação.

A metodologia das Jam Sessions desfruta do contributo do jazz, que aplicado no mundo das organizações assenta num conceito de improvisação que é definido recorrendo a quatro termos-chave: ação – a improvisação implica atuação e não apenas reflexão; deliberação – intencionalidade por oposição à rigidez de padrões pré-estabelecidos; extemporânea – estrutura mínima aberta a alterações/ variações ao tema; coletiva – é em contexto grupal que o improviso se expressa em dinâmicas interativas e interpessoais.

Naturalmente, cada Jam Session tem objetivos específicos que remetem para o seu próprio tema no domínio das soft skills. Há, no entanto, independentemente do mesmo, um conjunto de competências que são desenvolvidas em todas elas: os quatro I’s da improvisação:

– Imaginação, como capacidade de gerar ideias para, em tempo real, responder a desafios que o meio onde se opera coloca.

– Implementação em tempo real, isto é, uma «forma de estar» que privilegie a ação em detrimento da reflexão, como resposta a problemas/ oportunidades internas ou externas.

– Infraestrutura, operar no âmbito de estruturas mínimas que respeitem o ritmo de cada projeto, que coordenem as suas atividades com base naquelas estruturas, que improvisem até ao limiar da infraestrutura.

– Intenção, desenvolver o improviso enquanto forma de, simultaneamente, responder à imprevisibilidade e manter a comunicação e a ação dentro do nível de estruturação mínima que o improviso exige para que possa ser uma expressão de elevada performance.

Com as nossas Jam Sessions, (des)construímos organizações.

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»»»» João Franco é executive manager da NBCC Academy.