Woitek Szymankiewicz, da Closer
«Esta nova realidade marca um tempo de grande desafio para as organizações.»

A tecnológica portuguesa Closer lançou uma plataforma de criação e gestão de canais de denúncias denominada +Transparente e que facilita e acelera o cumprimento da Lei 93/2021, sobre whistleblowing. Esta lei determina que qualquer entidade pública ou privada com mais de 50 trabalhadores disponibilize um canal de denúncias interno para reportar comportamentos irregulares, discriminatórios ou eticamente questionáveis. Woitek Szymankiewicz, partner da Closer, apresenta-nos a plataforma.

Texto: Redação «human» Foto: DR

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Como surgiu a plataforma +Transparente e que meios implicaram no seu desenvolvimento?

A plataforma +Transparente surgiu como resposta a um desafio do CEDIS [Centro de Investigação e Desenvolvimento sobre Direito e Sociedade], da NOVA School of Law, em abril de 2020, para que a Closer fosse o parceiro tecnológico num projeto denominado Observatório do Whistleblowing PT, que iria candidatar a um projeto de financiamento da FCT [Fundação para a Ciência e a Tecnologia] e que acabou por não avançar por questões de ordem logística.

A Closer não deixou de olhar para esta temática, pela sua relevância, e reuniu uma equipa multidisciplinar interna composta por engenheiros de IT [tecnologias de informação], data scientists, UX [profissionais ligados a user experience], e também formalizou parcerias externas nas áreas do direito e de compliance para adicionar valor acrescentado ao desenho e à robustez de fluxos de investigação da plataforma.

A plataforma +Transparente foi lançada no início de 2022 e apresenta-se hoje como a solução que responde de forma estruturada e flexível aos desafios de implementação que as entidades públicas e privadas têm de ter no seu roadmap de curtíssimo prazo.

Acredita que a realidade em que se insere esta plataforma marca um tempo diferente nas organizações? Os responsáveis de empresas e entidades públicas estão conscientes da mudança que está a acontecer em termos de exigência da legislação?

Esta nova realidade marca seguramente um tempo diferente e de grande desafio para as organizações. Sentimos diariamente na Closer que existe um trabalho grande de sensibilização para este tema que tem de continuar a ser intensificado em todo o elevador organizacional, despertando a necessidade de implementação e o risco financeiro que se corre, dado que a moldura sancionatória pode atingir valores até 250 mil euros.

Verdadeiramente, se pudesse deixar um alerta construtivo, considero que esta fase é fundamental que cada organização olhe para os seus fluxos internos e externos de procedimentos e boas práticas, identifique as pessoas chave para envolver neste processo, atualize procedimentos (se necessário) e encontre uma solução como aquela que a Closer desenhou, que seja capaz de reforçar a integridade deste tema, aumentando assim a transparência e o cumprimento das regras de compliance.

Já pode apresentar alguns resultados depois do lançamento da plataforma?

Posso partilhar que tem sido notável a evolução da afirmação da nossa plataforma. Podemos quantificar cerca de 20 pedidos de propostas por dia nas últimas semanas e tenho o gosto de afirmar que os desafios que os nossos clientes nos têm transmitido de ajustes que gostavam de ver nas suas realidades têm permitido consolidar diariamente a robustez do nosso backoffice de gestão do processo de denúncia para a organização, totalmente compliant com as obrigações legais, garantindo a rastreabilidade de todo o processo end to end.

«Sentimos diariamente na Closer que existe um trabalho grande de sensibilização para este tema que tem de continuar a ser intensificado em todo o elevador organizacional, despertando a necessidade de implementação e o risco financeiro que se corre, dado que a moldura sancionatória pode atingir valores até 250 mil euros.»

Como se integra este projeto na vossa atividade?

Este projeto da plataforma de denúncias +Transparente é, desde 2020, um projeto central na estratégia da unidade de negócio de Solutions da Closer, focada diariamente no desenvolvimento do seu portefólio de produtos para os seus clientes nacionais e, cada vez mais, internacionais.

A Diretiva (UE) 2019/1937, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 23 de outubro de 2019, tem de ser transposta para todos os ordenamentos jurídicos de forma obrigatória em todos os países da União Europeia, situação que alavanca na Closer a decisão de internacionalizar a nossa plataforma +Transparente, dada a magnitude do mercado que aqui se agrega, quer no sector público, quer no sector privado.

No entanto, existem naturalmente diferentes maturidades relativamente a este tema da ética e da conformidade, o que poderá, entre aspas, aquecer ou arrefecer o potencial de cada um dos mercados europeus, em particular o de Portugal, que apresenta uma maturidade bastante mais baixa para este tema, quando comparado com os dos países do norte da Europa.

Este aspeto faz com que tenhamos, neste momento, um foco muito grande em ajudar as entidades públicas e privadas portuguesas a adaptar-se a estas exigências legais, tendo a Closer uma equipa polivalente nas áreas de produto, comercial e jurídica completamente preparada para se assumir como uma extend team para estas entidades.

A própria Closer, como não poderia deixar de ser, liderando pelo exemplo, tem desde logo implementado o seu canal de denúncias interno. Vemos todo este enquadramento legal com muito bons olhos – esta exigência leva a um maior alinhamento na promoção dos valores corporativos da Closer, nomeadamente a integridade, a responsabilidade e o respeito.

Como olha para o mercado português em termos de desafios para tecnológicas como a vossa? Têm vivido também a questão da escassez de talento nesta área, se pensarmos nas necessidades das empresas em termos de capital humano?

Efetivamente, a escassez de talento é um dos principais desafios com que nos deparamos. Cada vez mais clientes nacionais e internacionais querem tirar proveito dos seus dados e reconhecem a Closer como empresa especializada e com um know-how único na área, o que nos deixa orgulhosos e nos permite desenvolver projetos de enorme relevância a nível global.

A dificuldade passa por encontrar o talento indicado e que cumpra com o padrão de exigência Closer, para podermos prestar o melhor serviço aos clientes que confiam em nós.

Como perspetiva o futuro para a Closer?

Com bastante entusiasmo e otimismo. Continuamos a crescer todos os anos, tanto em número de colaboradores, como de projetos, clientes e faturação.

A curto/ médio prazo queremos sedimentar a Closer como uma das empresas mais inovadoras e especializada em dados não apenas em Portugal mas também lá fora, em particular no Reino Unido, onde também temos escritório.

«A própria Closer, liderando pelo exemplo, tem desde logo implementado o seu canal de denúncias interno. Vemos todo este enquadramento legal com muito bons olhos – esta exigência leva a um maior alinhamento na promoção dos nossos valores corporativos.»

Votando à plataforma, há alguns aspetos adicionais que considere importante referir?

Em jeito de comentário final, partilho aquelas que são as notas principais para as entidades que esta plataforma permite:

– essas entidades garantem a integridade da organização, porque à medida que a organização cresce não é possível verificá-lo individualmente em cada iniciativa; isso deve ser feito através de políticas e formação das pessoas;

– protegem as pessoas, promovendo a retenção e atração de talento;

– salvaguardam a ética profissional enquanto valor;

– mitigam riscos financeiros – basta ver os elevados montantes das coimas que podem ser aplicadas – e, sobretudo, reputacionais, como temos testemunhado nos casos em que vêm a público problemas graves dentro de determinadas organizações.

Por fim, e não menos importante, a adoção desta plataforma contribui para o indicador ESG, sigla que significa environmental, social and corporate governance (ambiente, social e governança empresarial); trata-se do meio que permite verificar se uma determinada organização é saudável e lucrativa financeiramente e consciente a nível social e ambiental.

Há ainda todo um caminho a percorrer, mas acredito que juntos vamos escrever uma página deste caminho de forma mais sustentável em gestos e ações concretas.

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»»»» Woitek Szymankiewicz é natural da Polónia, tendo emigrado para a Alemanha, onde se formou como mecânico industrial e mais tarde se licenciou em Engenharia Mecânica e Gestão de empresas. Ao longo do seu percurso académico foi distinguido com várias bolsas que lhe possibilitaram estagiar no México e estudar na Austrália.  Iniciou a sua carreira profissional na Audi, onde trabalhou como engenheiro. Em 2003 trocou Alemanha por Portugal e a engenharia pela gestão. Iniciou então uma carreira no mundo da consultoria de sistemas de informação na empresa Altran e trabalhou ainda na Agap2 como diretor de uma unidade de negócios. Em 2008 juntou-se à Closer, onde tem agora funções de partner.

Fundada em 2006 com a missão de desafiar a complexidade, a Closer é uma tecnológica portuguesa de data science especializada em business intelligence, advanced analytics e artificial intelligence. Com uma equipa de mais de 350 especialistas nas áreas de física, tecnologias de informação (TI) e matemática, tem escritórios em Portugal, no Brasil, no Reino Unido e em Hong Kong.