Jorge Sequeira, autor de Dar ao Pedal
«As mudanças são cruéis quando não fazemos parte delas.»

A pandemia interrompeu a atividade de palestrante de Jorge Sequeira, um dos mais influentes keynote speakers portugueses. Este aparente contratempo foi transformado de forma positiva para fazer nascer um livro que resume 10 competências muito importantes nos tempos que vivemos. Dar ao Pedal, diz o autor, destina-se a todas as pessoas que gostem de superar-se, de melhorar.

Texto: Redação «human»

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Este seu livro, Dar ao Pedal, foi escrito durante a pandemia. O que o motivou a escrevê-lo?

Fiquei sem trabalho porque eu vivo de ajuntamentos. Tenho o prazer de dar palestras para centenas e milhares de pessoas, tanto em Portugal como no estrangeiro.

Qual foi o máximo de pessoas que juntou numa palestra?

O meu recorde é 4.000, no Altice Arena. Mas mais recentemente, a convite do Dr. Paulo Macedo, tive o privilégio de fazer o Meetingpara a Caixa Geral de Depósitos no Campo Pequeno, para um público extraordinário que superou as 2.500 pessoas. Um ambiente incrível que dificilmente esquecerei.

Voltando ao livro. Este interregno trouxe-lhe tempo para escrevê-lo?

Sim. Sem as palestras, eu poderia ter desesperado, queixar-me e deixar-me consumir pelas lamentações. Mas não, o que eu decidi foi fazer o que ainda não foi feito, para utilizar uma expressão do Pedro Abrunhosa, de quem aliás tenho a honra de ter na contracapa um comentário a recomendar o livro. Meti mãos à obra e escrevi o Dar ao Pedal. Se não fosse esta pausa forçada, andava a trabalhar, a correr de um lado para o outro, sem tempo para refletir e colocar no papel tanto que havia pensado e investigado ao longo dos anos. Assim, surgiu este livro, e tive a oportunidade de o fazer para a Porto Editora, com a chancela da Contraponto, onde publicam grandes autores.

O que podemos encontrar no livro?

O Dar ao Pedal resume as principais competências da atualidade. O título é um acrónimo. Na verdade, «Dar ao Pedal» é uma expressão muito popular, mas aqui cada letra dessa expressão remete para uma dimensão comportamental. Por exemplo, o D, as Desculpas: Aparentemente, trata-se de expressar um protesto, o que de certa forma é verdade, e reclamar não é uma forma estranha de vida. Isto porque, em geral, uma pessoa queixa-se dezenas de vezes ao dia. É a comida que está quente, o trabalho que está morno, a mulher que está fria, o tempo que está gelado e a cabeça que está a arder! Nunca encontramos a temperatura certa; no verão sufoco, no inverno fico a tremer, e na primavera nem é carne nem é peixe, é aquele sol que engana, bom para as alergias e para as constipações. A verdade é que a culpa morre sempre solteira. Eu até tenho uma palestra que se intitula «O Casamento da Culpa», para que a coitada não acabe sempre sozinha no altar à espera de quem vem e nunca mais chega.

Nesse acrónimo do título segue-se o A. O que significa?

A tem a ver com Acreditar, com autoconfiança. Depois vem a Resiliência, o R. É um tema muito importante e atual. Assim como a Atenção, o foco, porque se nos distraímos o erro pode ser fatal. Basta ver o que acontece no futebol, os jogadores que vão discutir com o árbitro e de repente a bola já entrou…

As letras do título do livro seguem com novas competências…

Sim. O de Objetivos. Muito importante, para que possamos fazer mais e melhor e mais bonito. P de Positivo, porque sermos otimistas dá um jeito enorme, fomenta resultados mais favoráveis nos negócios e até na saúde.

Segue-se a importância da equipa…

Sim, o E de Equipa. Devemos saber trabalhar em conjunto, porque sozinhos não somos nada! Depois vem o D de Determinação, ou seja, a vontade, a motivação, o engagement e o compromisso. E o A de Autonomia, porque nós não deveríamos precisar que nos mandassem trabalhar, temos pilhas próprias, só precisamos que a ignição esteja no sítio certo. Por último, a Liderança… Há lideranças muito tóxicas, líderes que dizem para se fazer o que eles querem, que para pensar já lá estão eles e por isso os outros seriam apenas paus mandados.

Se pensarmos no tema da última letra, a liderança, há outros tipos de líderes que não esses tóxicos que referiu…

Sim. O mais importante é dar lugar a uma liderança mobilizadora, conceito inovador que desenvolvo no último capítulo. O bom líder é aquele que faz com que as pessoas com ele cheguem mais longe do que iriam sozinhas.

O Dar ao Pedal resume as principais competências da atualidade. O título é um acrónimo. Na verdade, «Dar ao Pedal» é uma expressão muito popular, mas aqui cada letra dessa expressão remete para uma dimensão comportamental.

Escreveu, portanto, um livro que toca diversas dimensões comportamentais?

Sim, são elas a pedra de toque para a excelência. O Dar ao Pedal é um livro simples, prático, muito bonito e cheio de energia, um livro que contagia. Resulta, em parte, do meu doutoramento, as suas recomendações estão validadas e até já foram testadas com humanos. [risos] Nunca confundir com aquilo a que chamo «coaching do aleluia», em que basta dar as mãos e apelar à sorte do destino. Este constrói-se todos os dias, através de uma atitude cujas linhas de orientação o livro encerra. Lembro-me inclusive do meu orientador, de há 15 anos, que tinha uma frase no seu gabinete, que dizia mais ou menos isto: «quem copia de um, é plágio; quem copia de muitos, é pesquisa». O que eu fiz foi investigação. Tentei colocar neste livro aquilo que ao longo da vida encontrei, dos melhores, e fiz um best-of. Era o livro que eu sempre quis comprar mas nunca encontrei à venda, por isso tive de escrevê-lo.

Noto aí um certo tom de brincadeira, que também é notório no livro…

Sim, o Dar ao Pedal é bem disposto, mas sem palhaçada. É leve sem ser ligeiro, e tem alguma crítica, uma certa ironia. Nós muitas vezes desvalorizamos estas coisas da mente, e é a cabeça que comanda o corpo. Embora se saiba que alguns corpos parecem que comandam a nossa vida… Frequentemente, desprezamos os 1.300 gramas de cérebro que temos dentro da caixa craniana. É a parte mais relevante. Até costumo dizer que o cérebro é tão importante que chego a pensar que todas as pessoas deviam ter um.

Nestes tempos, a ideia de dar ao pedal parece primordial. A necessidade de fazer coisas, de nos adaptarmos a novos contextos, por exemplo. Arranjou um título muito feliz para o livro, não lhe parece?

Esta felicidade demorou mais de meio século a construir. Como diria Mark Twain, ‘chego a demorar mais de três semanas para preparar um bom improviso». Bom, se não dermos ao pedal, caímos. Há que manter o equilíbrio. Parar é morrer, especialmente em tempos tão agitados como estes, onde as mudanças são cruéis quando não fazemos parte delas.

O livro também tem a ver com o mundo do desporto, que conhece muito bem…

Tenho trabalhado com alguns dos melhores. Fui professor do José Mourinho, embora possa dizer que devia ter sido ao contrário, porque ele sabe muito mais do que eu. Trabalhei com o professor Jesualdo Ferreira, com Paulo Fonseca e com Abel Ferreira, que tantas conquistas alcançou nos últimos tempos. O Dar ao Pedal é um livro que tem alta competição desportiva, e eu tento transportá-la para a alta performance empresarial. Também faço o inverso, levando os melhores princípios da gestão empresarial para o interior dos clubes. Mas fundamentalmente é uma obra que se destina a todas as pessoas que gostem de superar-se, de melhorar. Que revelem curiosidade pela mente, pela forma como o cérebro funciona. Que acreditam que devem otimizar as suas vidas.

Espero que o Dar ao Pedal deslumbre os leitores do mesmo modo que me apaixonou durante um ano, o tempo que estive a escrevê-lo.

O livro segue uma determinada ordem ou será que se pode ler salteado?

Em função das necessidades de cada um, pode pegar-se por onde se quiser. Se se quiser melhorar o foco, pode-se começar pela Atenção, se se tem uma equipa a cargo, pode-se atalhar caminho e seguir de imediato para a liderança. Varia em função da pessoa e do momento…. Daí que o subtítulo seja: Um guia para a vida toda. É um livro prático, que procura ajudar a perceber para depois se fazer. No fundo, encerra 30 anos de investigação. Pretendi que todo este conhecimento estivesse acessível a toda a gente.

Também é um livro de histórias…

É verdade. Está pejado de histórias que ajudam a adormecer as crianças, mas fundamentalmente permitem despertar os adultos. Esta frase é do famoso escritor Hans Christian Andersen, um homem que despertou tantos adultos e ajudou a adormecer muitas crianças. Espero que o Dar ao Pedal deslumbre os leitores do mesmo modo que me apaixonou durante um ano, o tempo que estive a escrevê-lo. Uma pandemia é uma violência agreste, que ninguém quer. Eu tentei com o livro chegar a uma mudança, algo doce servido numa bandeja de prata a todos aqueles que confiaram no meu trabalho ao longo dos anos. Quis provocar sorrisos, interrogações e também convocar algumas lágrimas. Mas de uma coisa não me afastei: fui sempre buscar ensinamentos a nomes grandes, a autores que me marcaram. Se um dia vi mais longe, foi porque me ergui sobre os ombros de gigantes.

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Jorge Sequeira

Reconhecido como um dos mais influentes keynote speakers nacionais, Jorge Sequeira proferiu ao longo dos últimos 20 anos mais de 1.000 palestras motivacionais, principalmente no contexto empresarial. Autor de artigos, de crónicas e do livro Dar ao Pedal, já um best-seller, é docente no Ensino Superior, no âmbito de masters, pós-graduações e MBAs, tendo já colaborado com dezenas de universidades, institutos e business schools. Leciona disciplinas como Liderança, Gestão de Equipas e Comportamento Estratégico. Na qualidade de investigador, foi bolseiro da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Tem um mestrado em Psicologia e é doutorado em Treino Mental e Superação Pessoal. No alto rendimento desportivo, trabalha no futebol profissional com alguns dos melhores treinadores mundiais. Em termos cívicos, tem colaborado com distintas instituições de cariz social e organizações não-governamentais. Sem partido político, foi candidato à Presidência da República. Mantém atividade regular como comentador televisivo e ainda alimenta o sonho de conhecer todas as nações do mundo. Intrépido viajante, até ao momento já percorreu 130 países.

Site de Jorge Sequeira aqui.