João Franco, da NBCC Academy
Olhar para o futuro da formação

Um dos fundadores da NBCC Academy assinala nesta entrevista que «só uma atitude e uma mentalidade de integração constante de novos conhecimentos permite navegar nas ondas turbulentas dos nossos tempos». Neste projeto empresarial, diz, acredita-se que «a essência da formação, no futuro, é aprender a aprender, sempre».

Texto: Redação Human

.

Como surgiu a NBCC Academy?

A NBCC Academy nasce no seio de um grupo de empresas das quais a NBCC Consulting é a empresa-mãe. Na sua génese está a visão de dois colegas e amigos, com um caminho profissional em empresas multinacionais ligadas às tecnologias de informação (TI), de criarem uma organização com uma identidade que ligasse o Homem à Máquina. Sabemos como a identidade, as culturas organizacionais, têm tendencialmente a sua génese na natureza dos fundadores. Não deixa de ser curioso, e talvez significativo, que os dois sócios fundadores das empresas do grupo tenham backgrounds académicos tão diferentes como Ciências Computacionais e Antropologia.

A NBCC Academy bebe dessa ligação, dessa sinergia: criar uma empresa de consultoria e formação que abarcasse todas as áreas de conhecimento para dar resposta às necessidades constantes – cada vez mais e maiores – de desenvolvimento de pessoas e profissionais. A visão é essencialmente integrativa: onde houver necessidade de aumentar conhecimento, habilidades, competências e saberes, queremos estar para dar o nosso contributo. 

O que destacam na vossa proposta de valor?

Acreditamos que não há duas empresas iguais; é talvez uma simples constatação. Se não há, não deverá haver programas de consultoria e formação iguais. Vemos a formação como a consequência prática, operacional, de uma ação de consultoria. Antes de desenhar e implementar qualquer ação de formação, há sempre uma consulta e um diagnóstico. Para cada diagnóstico há uma prescrição. Claro que operamos com quadros de referência, mapas conceptuais… São teorias que nos dão suporte para sistematizar as prescrições, ou seja, as soluções que apresentamos e que são expressões práticas da nossa proposta de valor.

Somos artesãos de programas integrados de desenvolvimento pessoal e profissional e praticamos o método bespoke, o velho método dos artesãos alfaiates que vão ao mais ínfimo detalhe para desenhar e executar fatos à medida. É isso que fazemos: trabalhamos com os clientes na identificação do gap entre situação atual e situação desejada, se quiser, no levantamento do input e no desenho tão detalhado quanto possível do output pretendido. Então, desenvolvemos e apresentamos soluções: conteúdos programáticos, metodologia, atividades, logística e, não menos importante, seleção rigorosa dos formadores ou consultores que operacionalizam no terreno esse processo que transforma o atual no desejado, o input no output.

O facto de se notar um foco nas soft skills e nas tecnologias denota um olhar mais virado para o futuro…

Desenvolver ações de formação, ou consultoria e formação, é olhar o futuro. Obviamente aprender no passado e escutar o presente, mas a ação é essencialmente a olhar o futuro. Se o diagnóstico é sondar o presente, a implementação olha para o futuro. Quando falamos de identificar o gap entre situação atual e situação desejada o futuro está lá, é na sua projeção que reconhecemos o desejado, o output que referi.

Agora, assinala esse foco nas soft skills e nas tecnologias, conceito que está mais associado às TI, certo? Repare, o grande desafio nas organizações é estabelecer múltiplas ligações. E ligações fluidas, que funcionem, que sejam oxigénio e que não gerem embolias. [risos]. Percorremos os temas que vão do Homem à Máquina. Claro que andamos a trabalhar nisto desde Taylor e Ford, mas a tecnologia hoje é incrivelmente mais sofisticada, e global.

Respondendo de forma mais concreta, diria que sim. Porque é no sentido do futuro, de capacitar para o futuro, que desenvolvemos a nossa ação e as nossas ações de formação. E o futuro configura-se neste grande desafio geral: estabelecer ligações mais «oxigenadas» Homem-Homem; Homem-Máquina; Máquina-Máquina. Sim, trabalhamos todos os dias para darmos esse contributo às pessoas, às organizações e à sociedade em geral.

Onde ficam as competências de natureza mais técnica?

Essa é uma pergunta curiosa e muito interessante. Deixe-me recorrer a uma ideia simples, mas que nos parece muito rica, a uma definição de tecnologia (portanto, o conhecimento das técnicas) de Tushman & Anderson [M. L. Tushman/ P. Anderson]: a tecnologia é o conjunto das ferramentas e dispositivos que medeiam as entradas (inputs) e as saídas (ouputs) do trabalho. Portanto, aceitando esta definição como boa, e nós aceitamos, todas as ações que desenvolvemos para transformar inputs em outputs, incorporam técnicas.

Não há técnica na comunicação? Há. E o mindfulness, que arrumamos facilmente na categoria das soft skills, não tem técnicas? Tem, até a meditação tem técnicas. Do comportamental ao técnico há um contínuo… nós é que precisamos de arrumar os conceitos em gavetas. Claro que há atividades que estão mais do lado comportamental, e outras mais do lado técnico, mas a maior parte das atividades que o ser humano desenvolve em contexto social e organizacional são eminentemente técnico-comportamentais. Para responder de forma mais direta à pergunta, vemos as competências de natureza técnica em todas as atividades do ser humano. O conhecimento das técnicas é importante em todas as atividades, e portanto está em todos os nossos programas de formação. Assim como a prática e o experiencial. Apenas algumas técnicas são mais precisas, se quiser, mais one best way, e refletem uma suposta melhor forma de fazer as coisas, outras são mais contingenciais.

Como olham para o futuro da formação, para as ambições dos profissionais nesse âmbito e para os desafios das empresas também nesse âmbito?

Há algum tempo escutávamos o dean de uma prestigiada universidade portuguesa e a sua preocupação pelo carácter efémero dos conteúdos, das teorias, das aprendizagens hoje. Questionava ele: como resolver este problema da brutal aceleração dos saberes e das necessárias competências para os tornar úteis e produtivos? Depois de 10 anos, já estão ultrapassados e não servem para nada. E de facto, esta aceleração meteórica obriga a uma atualização constante do conhecimento, das tecnologias, das práticas.

Como fazer então? O que fazer? Acreditamos que a resposta está na robustez dos processos de aprendizagem, na integração de métodos e formas de pensar que possibilitem ter pensamento crítico e capacidade de resolver problemas tendencialmente complexos. Temos um desafio: as pessoas querem certezas, frameworks fechados, processos tendencialmente algorítmicos. Mas a realidade organizacional e os mercados são cada vez mais complexos. Acreditamos que a solução passa por dar ferramentas para pensar melhor. Creio que foi Einstein que referiu com sageza que formar não é ensinar factos mas sim treinar a mente para pensar, ao que acrescentaríamos, para agir, para pensar e agir.

É esse o sentido da nossa assinatura, learning mindstate, desenvolver mentalidades de aprendizagem constante, nas pessoas e nas organizações, as organizações aprendentes de que fala Miguel Pina e Cunha. Só uma atitude e uma mentalidade de integração constante de novos conhecimentos permite navegar nas ondas turbulentas dos nossos tempos. Acreditamos que a essência da formação, no futuro, é aprender a aprender, sempre. Só assim estaremos equipados para o futuro.

Que impacto tem tido na vossa atividade e na vossa abordagem ao mercado a situação de pandemia?

O impacto de termos de aprender rapidamente. [risos] Estamos todos a adaptar-nos mais e melhor ao remoto. Foi até agora um curso de 18 meses para aprendermos a ser todo-o-terreno. Estamos muito mais aptos para comunicar remotamente. Esse foi o principal impacto.

As novas gerações que chegam ao mercado procuram novas possibilidades em termos de formação? Há alguns tópicos que marcam a diferença nestas gerações a este nível?

A tendência que observamos é a apetência por métodos mais fechados, por frameworks. É natural, o tempo de e para reflexão é menor, a aceleração do tempo provoca uma necessidade crescente de agir. Temos que lidar com isso. Há menos tempo para dúvidas. Há uma forte apetência pela informação e por soluções fechadas. Por outro lado, uma clara apetência pelo digital e pelo remoto.

Acreditamos que temos que trabalhar em duas frentes: primeiro, num bom equilíbrio entre o remoto e o presencial; depois, na entrega de frameworks, sim, de ferramentas práticas, de técnicas também, mas juntamente com a estimulação de pensamento crítico como condição necessária para resolver problemas. Se as competências nucleares 20-30 são essas, pensamento crítico e capacidade de resolver problemas complexos, é para isso que temos de trabalhar.

E em relação às empresas que também surgem no mercado, com novos olhares, novas propostas, novas formas de atuação, o que notam na forma como os seus responsáveis veem a formação?

Tem havido muita inovação ao nível dos canais, das plataformas, e os métodos pedagógicos nem sempre acompanham isso. As TI estão a ter um desenvolvimento aceleradíssimo. O grande desafio é os métodos e as práticas pedagógicas acompanharem esse ritmo. A psicologia da aprendizagem pode dar um forte contributo. Também ela tem de evoluir.

Este é um mercado muito fragmentado. Algumas empresas têm um olhar privilegiado sobre o Homem, outras sobre a Máquina. Acreditamos que o caminho passa pelo desenvolvimento de programas integrados Homem-Máquina.

.

»»»» João Franco desempenha as funções de executive manager da NBCC Academy, de que foi um dos fundadores. Com uma vasta experiência de direção em áreas comerciais e de formação, sendo de destacar o percurso de 20 anos na Páginas Amarelas, tem desenvolvido desde 2013 atividade como consultor e formador em diversas empresas de vários sectores de atividade.

.

Nota: foto DeF