Desafios para o trabalho temporário

Como se tem desenvolvido o trabalho temporário no contexto da pandemia e como é perspetivado o seu futuro. Este é o ponto de partida para sete reflexões sobre os grandes desafios desta atividade.

Recolha: Redação Human

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Flexibilidade inteligente com impacto social

»»»» Artur Narciso, Diretor Comercial da BLC Group

A situação de pandemia foi uma fonte de desafios para todos os sectores da atividade económica, e o sector do trabalho temporário não fugiu à regra.

A incerteza quanto à natureza, à abrangência e ao impacto do novo vírus que levou ao confinamento forçado, à paragem dos ciclos de produção e às restrições na mobilidade internacional de fatores, tudo isso gerou uma quebra significativa da atividade económica no sector de bens transacionáveis. Como consequência, as ETT [empresas de trabalho temporário] diminuíram drasticamente o número de colocações e viram-se envolvidas numa negociação do seu modelo de negócio para preservar clientes, mantendo as funções mais especializadas e a proteção social dos seus trabalhadores.

Contrariamente, vimos outros sectores em contraciclo, aproveitando as oportunidades geradas pela crise. As empresas tecnológicas cresceram. Os sectores mais virados para a procura interna, como o agroalimentar, a distribuição, os serviços sociais ou a saúde, cresceram para dar resposta às necessidades das populações. Este crescimento foi decisivo para o aumento do número de colocações, tendo as ETT reforçado a sua importância estratégica ao dar resposta a vacaturas muito especializadas, inesperadas e de muita curta duração, causadas por contágios de colaboradores do quadro, ou para responder a picos de produção.

Em qualquer dos dois tipos de flutuação, as ETT, como a BL Staffing, que disseram «presente» aos desafios, viram o seu papel valorizado:

a) pelos gestores, no contributo para o alinhamento do ciclo de produção com o ciclo de contratação, respondendo com velocidade e na colocação de perfis mais especializados, otimizando custos de operação e de contexto;

b) pelos trabalhadores, no apoio emocional e social relevante para a salvaguarda dos seus direitos e da proteção social e para a sua inserção socioprofissional via mobilidade intersectorial.

Na fase de recuperação, esta valorização será reforçada por três outros drivers: pela integração digital, por políticas de recrutamento mais inclusivas e por soluções de contratação mais flexíveis que deverão ser construídas num forte contexto de proximidade das ETT com os seus clientes, trabalhadores, candidatos e stakeholders.

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Quem supera, vence

»»»» Maria João Sebastião, Diretor Executiva – Trabalho Temporário Norte, Egor

Ainda que o regresso a conta gotas seja uma realidade, o mercado de trabalho está muito diferente. O contexto atual coloca-nos desafios diários, como o aumento do desemprego (quase 37% em relação a 2020) para o número mais alto desde maio de 2017.

Esta situação agrava-se quando percebemos que existe ainda o receio de regressar e que a pandemia veio ampliar o fosso entre aqueles que possuem competências para uma nova realidade digital e os que não as possuem. 

Num momento de «recuperação e resiliência», o plano do governo espelha o que serão as tendências de emprego nos próximos anos, assim como as áreas de investimento. Aposta-se em dotar quem já se encontra no mercado e os jovens que farão parte dele de competências que permitam estar em linha com as tendências atuais e futuras. Um melhor match entre as competências e ajustado às necessidades do mercado permitirá usar os recursos humanos na sua plena capacidade.

O reskilling e o upskilling da força de trabalho favorecerá a inovação, a competitividade e o crescimento da economia, suportando a criação de novos empregos e combatendo a exclusão. Garantirá também aos jovens e àqueles que já se encontram no mercado o ajustamento às novas metodologias de trabalho, desempenhando novas tarefas e permitindo a adaptação a novas realidades funcionais emergentes da transição verde e digital.

Segundo a World Employment Confederation, trabalhar no novo normal exigirá um alinhamento mais concertado, não só entre o sector privado mas também entre o sector público e o governo.

Passará por promover e regulamentar novas formas de trabalhar (remotamente ou em espaços partilhados), tornar o mercado mais inclusivo, abandonar modelos tradicionais e standard, otimizando e usufruindo da experiência de quem está no mercado; passará também por criar equidade no acesso a benefícios sociais que não estejam ligados diretamente a um trabalho ou contrato, mas a uma carreira, por encontrar mecanismos que não só otimizem e regulamentem o home office mas acima de tudo consigam medir de forma clara e justa a produtividade e, essencialmente, por criar plataformas que acomodem uma economia mais dinâmica e digital assim como um novo mundo de trabalho.

Resiliência e atitude positiva são palavras de ordem. O sector do trabalho temporário passou muita turbulência em 2020, registando uma quebra de 16,7% na faturação, ficando apenas por 1,2 mil milhões de euros (1,44 mil milhões em 2019). O decréscimo na faturação, consequência da pandemia, surge após um grande crescimento, entre 2013 e 2019 (cerca de 60%).

A história ensina-nos que após a crise vem a recuperação. Os sinais já são visíveis no mercado. As crises estão cheias de oportunidades para os mais atentos, que antecipam novas necessidades ou tendências e sabem analisar os contextos, redesenhar a estratégia e operacionalizá-la.

Sairemos vencedores desta batalha que diariamente aprendemos a superar, reforçando os laços emocionais entre as nossas equipas, os clientes e os colaboradores.

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Profunda transformação das ETT

»»»» Daniel Sacadura Cabral, Gerente do Grupo Intelac

A pandemia chegou em 2020 sem aviso, e ninguém estava preparado para a receber. O desconhecimento da doença gerou uma onda de pânico, tanto que nem foi preciso legislar para se fechar a economia: a sociedade antecipou-se e autoconfinou-se.

Tirando poucos sectores específicos que continuaram a laborar, muitas empresas optaram por fechar e apenas aquelas que já tinham uma estrutura tecnológica adequada ensaiaram uma transição forçada para teletrabalho. Os trabalhadores temporários estiveram na linha da frente dos despedimentos e apenas continuaram a laborar presencialmente os que operavam em sectores específicos da economia.

No período que se seguiu ao primeiro desconfinamento, a sociedade adotou novas regras sanitárias de prevenção, as empresas adquiriram novas tecnologias que lhe permitiram aderir ao trabalho remoto e notou-se que o mind-set dos cidadãos aprendeu a conviver com o vírus de uma forma mais racional.

Por isso, quando a terceira vaga chegou e foi preciso decretar novo confinamento, uma considerável fatia do tecido empresarial já estava bem ajustada à laboração em teletrabalho: passou a ser normal contratar trabalhadores temporários neste regime.

Também as ETT tiveram que incorporar o teletrabalho nas suas rotinas diárias. Para o conseguirem, modernizaram a sua estrutura digital, adquiriram ou melhoraram o seu software de videoconferência e, não menos importante, treinaram o seu quadro de pessoal para que se mantivesse à distância um espírito de equipa coeso e uma liderança participativa, sem perder de vista os objetivos que devem nortear cada colaborador de uma empresa enquanto parte de um todo comum.

Esta profunda transformação interna permitiu às ETT não apenas continuar a selecionar e a recrutar, mas também manter reuniões comerciais com os seus potenciais clientes, tudo de forma remota. Notou-se ainda um acréscimo da disponibilidade quer de candidatos, quer de clientes para reuniões virtuais.

Pode assim concluir-se que apesar de a terceira vaga ter tido uma intensidade incomparavelmente superior à primeira, o seu impacto na atividade de trabalho temporário foi bem menor, dado o substancial esforço de adaptação que empresas e trabalhadores entretanto fizeram.

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Oportunidade ou precariedade?

»»»» Ana Castro Dias, Manager na Michael Page | Trabalho Temporário

Nos últimos anos, temos assistido a uma necessidade crescente por parte das empresas em recorrer a contratações em regime de trabalho temporário. Muitos dirão que se trata de uma maneira fácil de os empregadores não incluírem nos seus quadros recursos dos quais realmente precisam, mas que por vários motivos preferem não internalizar.

É verdade que estamos habituados a assistir à constante utilização indevida destes recursos; quantas vezes somos inundados com notícias em que centenas de trabalhadores se manifestam por melhores condições de trabalho, vínculos contractuais permanentes e maior estabilidade? Tudo isso é verdade, mas neste espaço pretendo falar do outro lado do trabalho temporário, ou seja, a real necessidade de contratação de colaboradores altamente qualificados que desempenharão tarefas de forma temporária. Refiro-me a baixas por maternidade, doença, picos de trabalho ou implementação de projetos.

Noutros países esta é já uma realidade e existem pessoas que estão disponíveis para trabalhar por projetos e que não procuram um emprego para a vida. Pois que no mercado nacional estas oportunidades surgem cada vez mais, de forma a colmatar reais necessidades temporárias com recursos especializados numa determinada competência ou até numa determinada tecnologia.

Assim sendo, pretendo partilhar os casos de sucesso: a assistente que entrou para cobrir uma baixa de maternidade e no final acabou por ser integrada noutro departamento uma vez que as suas competências eram muito válidas; o diretor de contact center que integrou a empresa para apoiar a implementação de um novo software e rapidamente se tornou uma peça indispensável do puzzle; o contabilista que foi contratado para reforçar a equipa durante um pico de trabalho e passou a fazer parte da equipa permanente de contabilidade.

Estes e muitos mais casos de sucesso têm ajudado a reduzir o estigma que ainda existe relativamente às contratações em regime de trabalho temporário e acima de tudo têm ajudado a integrar muitos profissionais de excelência em empresas por esse Portugal fora. Com isto não quero dizer que a realidade é um mar de rosas, mas sim fazer ver que é uma realidade em constante mudança, para melhor, que nos anima diariamente e nos permite ajudar muitas pessoas a encontrar o seu próximo trabalho.

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Garantir um elevado nível de confiança

»»»» João Silva, Staffing Senior Director da Multipessoal

Existe uma necessidade de melhoria da experiência do colaborador temporário durante a sua missão. Esta tem vindo a ser conseguida através da transformação digital, que tem proporcionado o desenvolvimento de novas ferramentas que suportam o colaborador ao longo da sua jornada.

Uma mudança marcante no processo de contratação do trabalhador temporário é a introdução da assinatura digital, que vem disponibilizar os contratos da ETT on-line com assinaturas à distância de um clique. Desta forma, economizamos tempo ao diminuir as constantes deslocações ao escritório para assinatura de contratos e diminuímos a nossa pegada ecológica com a redução de papel necessário em cada processo.

No que diz respeito ao atendimento a colaboradores, as organizações procuram disponibilizar linhas de atendimento telefónico. A nossa experiência demonstra que esta iniciativa pode representar um desafio acrescido, na medida em que se verifica maior concentração de contactos em determinados períodos, como o processamento salarial e a contratação de operações de maior dimensão.

No caso específico da Multipessoal, e tendo por objetivo assegurar que todos os pedidos são respondidos, garantimos o atendimento de 85% das chamadas recebidas bem como o compromisso de efetuar um callback em 24 horas para as chamadas que não foram atendidas em tempo útil. Igualmente, apostámos em novos canais digitais disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana e que permitem a qualquer colaborador interagir com a ETT sem limitações horárias.

Também neste caso, a Multipessoal implementou uma nova área de colaborador e o assistente virtual no seu website. Acredito que, em breve, os mesmos passarão a ser mais inteligentes e capazes de assegurar a resolução de forma automática de grande parte das interações. Na Multipessoal, acumulamos mais de 50 mil conversas no nosso assistente virtual e caminhamos para que seja o principal meio de comunicação para a resolução de temas simples.

A qualidade e a rapidez no esclarecimento de dúvidas, tal como a resolução de temas de carácter «burocrático», são elementos decisivos para proporcionar uma experiência positiva ao trabalhador, garantindo um elevado nível de confiança com a empresa.

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Importância do TT em tempos de incerteza

»»»» Pedro Rosado, Senior Sales Specialist na Talenter

Se há altura em que o trabalho temporário (TT) e o outsourcing fazem ainda mais sentido como ferramenta de gestão de recursos humanos, é esta que atualmente atravessamos. Eis porquê.

Transformar custos fixos em variáveis sempre foi o desejo de qualquer gestor, isto já quando se podia prever razoavelmente a atividade do negócio e assim planear os orçamentos a médio e longo prazo. Veio esta nova realidade, carregada de imprevisibilidade e de uma quase «navegação à vista», ensinar-nos que agora é ainda mais importante ter um parceiro como a Talenter para ajudar com flexibilidade na gestão desta variável, que é a das mais importantes e impactantes em qualquer atividade: as pessoas.

Gere-se com uma imprevisibilidade nunca antes vista, com avanços e recuos que são verdadeiras dores de cabeça para os líderes. «Contrato ou não contrato?» «Reduzo headcount, e se depois preciso de pessoas?» «Não externalizo agora um serviço, e se de repente se dá uma retoma acima do expectável e depois não consigo dar atempadamente resposta ao mercado?»

É aqui que a Talenter entra, para dar resposta a estas questões, com soluções flexíveis e à medida, como o trabalho temporário e o outsourcing. A experiência de mais de 21 anos de atividade, sendo a empresa líder de capital exclusivamente nacional com um volume de faturação acumulado em 2020 de 66,8 milhões de euros, representa e associa um grupo de empresas especializadas em soluções globais de gestão de talentos para assim poder cobrir todas as áreas de Recursos Humanos, desde Recrutamento e Seleção a Formação Profissional, Cedência Temporária, Outsourcing, Consultoria de Gestão de Pessoas e Executive Search. As mais diversas delegações permitem uma dispersão geográfica a nível nacional, o que aliado aos cerca de 350 mil candidatos em base de dados a coloca como o principal player deste sector, sendo reflexo disso os mais de 700 clientes ativos que diariamente depositam a sua confiança.

Porém, o universo Talenter não se esgota em soluções de recursos humanos, possuindo também representação noutros sectores de atividade, com nove marcas e 15 empresas – por exemplo, uma academia especializada no sector aeronáutico, a Flying Academy; a Knower, com serviços de outsourcing em áreas como os Facility Services, IT [tecnologias de informação], Logística, entre outros; uma unidade de Field Marketing com a Bechosen; está também presente na área imobiliária através da marca Berkshire Hathaway; e no sector dos seguros através da sua mediadora Exato Seguros; bem como no sector de Energia e Telecomunicações com a Futurcabo.

Por tudo isto, no Grupo Talenter pode-se a solução certa para os próximos tempos, que se esperam dinâmicos e, como tal, exigentes e desafiantes ao nível da gestão.

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Recuperação rápida nos próximos meses

»»»» Hugo Valentim, Diretor Executivo da Vertente Humana

A atividade de trabalho temporário foi fortemente penalizada desde o início da pandemia, tendo vindo a recuperar nos últimos meses, notando-se com o atual plano de desconfinamento que os empresários e empreendedores estão gradualmente a voltar ao mercado e a procurar retomar e desenvolver os seus negócios e projetos.

É assim expectável que o trabalho temporário venha a recuperar rapidamente nos próximos meses, na medida em que face à atual incerteza da evolução da situação pandémica é natural que as empresas apostem em preencher vagas através de soluções temporárias; ainda há poucas certezas face à evolução das encomendas e dos pedidos dos clientes, que dependem da evolução económica do país.

Nesta medida, esperamos uma evolução positiva na área do trabalho temporário para os próximos tempos, a qual já se vem sentindo nalguns sectores de atividade, e que se prevê que se expanda progressivamente à restante economia, à medida que vai avançando o plano de desconfinamento, com a retoma gradual da confiança dos consumidores e dos empresários.

Face ao contexto atual, é fundamental que as empresas procurem parceiros estratégicos ao nível do trabalho temporário e do recrutamento e seleção, parceiros que tenham capacidade de dar uma resposta eficiente às várias necessidades de recrutamento. E que garantam um acompanhamento personalizado do cliente e dos colaboradores, em todas as fases do processo, por forma a que no final tenhamos colaboradores plenamente integrados, satisfeitos e produtivos, e em consequência clientes igualmente satisfeitos com a qualidade do serviço.

Na Vertente Humana, estamos plenamente capacitados para assegurar um processo de recrutamento e contratação com elevada qualidade, garantindo a integração de recursos que correspondem às necessidades específicas dos nossos clientes, com a habitual qualidade e rapidez que nos caracteriza.

Neste contexto, reforça-se a necessidade de desenvolver uma estreita parceria de colaboração, onde haja uma perfeita integração e comunicação entre todas as partes envolvidas – cliente/ ETT/ colaborador –, por forma a garantir que todo o processo de recrutamento e contratação dos colaboradores se faça da melhor forma, garantindo que estes integram o projeto e a missão com elevada motivação e confiança. Isso traduzir-se-á num incremento da produtividade da empresa cliente e no cumprimento dos objetivos para os quais foram contratados, ganhando assim todas as partes envolvidas.