Responsável no nosso país pelos recursos humanos da farmacêutica AstraZeneca, Matilde Coruche fala do percurso da empresa desde março de 2020, um período marcado pela pandemia, verdadeiramente atípico e marcado tantas vezes pelo desconhecido.
Texto: Redação «human»
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A empresa tem participado em estudos sobre ambientes de trabalho?
A AstraZeneca recebeu o selo de Top Employer Portugal no início deste ano, pela segunda vez consecutiva. E é Top Employer na Europa. Paralelamente, destaco os elevados níveis de satisfação manifestados pelos colaboradores nos estudos de clima organizacional que a companhia desenvolve semestralmente. O reconhecimento da AstraZeneca como excelente local para trabalhar tem estado acima dos 90%, o que denota a grande aposta nas pessoas e no seu desenvolvimento.
Como caracteriza a vossa atividade em Portugal?
A AstraZeneca é uma das principais companhias farmacêuticas em Portugal e a nível mundial. Focada em levar aos doentes as terapêuticas mais inovadoras, atua em três áreas terapêuticas-chave: Respiratória e Imunológica, Oncologia, Cardiovascular, Renal e Metabólica. O flagelo da Covid-19 levou a que a AstraZeneca se focasse no apoio ao combate à pandemia, quer através do desenvolvimento de uma vacina (em parceria com a Universidade de Oxford), quer através do desenvolvimento de novas terapêuticas.
Sempre com o doente no centro das suas decisões, a AstraZeneca e as suas equipas vão muito além daquilo que é a sua atividade core e apostam no desenvolvimento de diversos projetos – desde ações de sensibilização a estudos nacionais sobre patologias, à partilha de conhecimento entre a comunidade médica e científica – sempre com o propósito de melhorar os cuidados de saúde dos portugueses.
Que balanço faz da forma como têm atravessado o período da pandemia?
Um balanço muito positivo. A AstraZeneca teve a capacidade de se adaptar muito rapidamente ao trabalho remoto e aos canais digitais para estabelecer contacto com os seus clientes e parceiros. E esta adaptação resultou não apenas do facto de a companhia estar munida das ferramentas adequadas – tanto em termos de hardware como de software –, o que lhe permitiu de um dia para o outro colocar todos os colaboradores em teletrabalho, mas também de uma visão estratégia muito direcionada para a comunicação omnichannel. O que a pandemia veio fazer foi acelerar a implementação de tudo o que tínhamos já planeado executar a médio prazo.
Como tem sido gerido o trabalho remoto?
Temos reuniões frequentes entre a Direção e todos os colaboradores, o que nos permite fazer up–dates dos temas mais relevantes e que impactam toda a organização. Paralelamente, as equipas mantêm as suas dinâmicas de trabalho, sendo que cada colaborador faz uma gestão das suas prioridades tendo em conta os seus objetivos.
Que estratégias vão desenvolvendo junto das pessoas e das equipas para as motivarem para estes tempos?
Temos desenvolvido diversas ações, tendo em vista a proximidade, o reforço do espírito de pertença e o bem-estar das equipas, dado que estamos todos a aprender a viver com a nova realidade. Temos, por exemplo, sessões com uma nutricionista a decorrer, tivemos sessões coletivas de exercício físico e com uma psicóloga e disponibilizamos agora consultas individuais aos colaboradores que as considerem necessárias. Convidámos speakers externos para ajudar a gerir as rotinas em casa e fizemos um almoço virtual, que permitiu o contacto informal entre colegas. Desenvolvemos diversos desafios através da rede social interna que permitem as interações entre todos os colaboradores e lançámos várias ações de responsabilidade social, que englobam doação de sangue, voluntariado e donativos em espécie, sendo que nestes últimos a companhia contribui proporcionalmente aos colaboradores. Paralelamente, temos continuado a apostar no desenvolvimento das nossas pessoas através da disponibilização de ferramentas cada vez mais eficazes de formação e na criação de oportunidades internas.
E a nível de segurança e saúde no trabalho, o que destaca?
Para nós, a saúde e a segurança dos colaboradores estãoem primeiro lugar. Fomos das primeiras empresas da indústria farmacêutica a parar a visita médica. Quando foi possível retomar, deixámos ao critério dos nossos colaboradores decidir sobre esse regresso, ou seja, apenas aqueles que se considerassem seguros em fazê-lo e que tivessem condições para tal deveriam retomar a atividade presencial. Os restantes continuaram a usar os canais alternativos até se sentirem seguros em voltar ao contacto com os profissionais de saúde. No escritório, todos os colaboradores continuam em trabalho remoto, e quando voltarmos será por equipas e de forma rotativa.
Pode destacar uma ou duas práticas de recursos humanos destes últimos tempos?
Cientes de que o reconhecimento desempenha um papel importante na motivação dos colaboradores, influenciando positivamente o engagement com a organização e, em última instância, a produtividade, implementámos um novo programa de reconhecimento. Com vários níveis – desde uma simples felicitação à atribuição de prémios monetários –, o novo programa é mais democrático, pois permite a qualquer colaborador reconhecer outro colega, independentemente da sua função ou localização, visto que o programa é global. Destacar o trabalho excecional de equipas e colaboradores ou celebrar vitórias em tempo real passou a ser uma realidade.
Paralelamente, transformámos o sistema de avaliação de desempenho no sentido de o adaptar às mais inovadoras orientações na gestão de pessoas. Baseámo-nos nos pontos fortes de cada colaborador e na contribuição de cada um para os objetivos da organização, dando mais empowerment às chefias diretas para que potenciem cada vez mais o desenvolvimento das nossas pessoas e apostámos bastante no coaching.
Fizeram contratações no último ano?
Sim, mantivemos o nosso plano de contratações.
Que perfil de pessoas querem na empresa?
De um modo geral, procuramos pessoas entusiastas, motivadas, curiosas, que gostem de inovar, que se identifiquem com a nossa cultura e com os nossos valores e que, independentemente da sua função, tenham como foco o doente e a melhoria dos cuidados de saúde em Portugal.
O último ano foi o mais desafiante na gestão da empresa?
Não sei se foi o mais desafiante de toda a vida da AstraZeneca, mas certamente foi um dos mais desafiantes, sem dúvida. Perante a nova realidade, para a qual ninguém estava preparado, foi preciso tomar decisões e agir muito rapidamente, desconhecendo o impacto dessas mesmas decisões. A companhia tem muito bem definidos os seus valores e o seu propósito, e isso ajudou-nos muito na altura de decidir. Fazer o que está certo é um dos valores base e um dos que nos orientou bastante, tanto na opção pelo trabalho remoto – garantido a saúde e a segurança das nossas pessoas –, como em parar a visita médica, permitindo que os profissionais de saúde se concentrassem apenas na resposta à emergência que vivemos enquanto sociedade. Depois, havia que inovar e transformar a nossa atividade. E foi exatamente isso que fizemos, em tempo recorde. É com orgulho que olho para tudo o que foi feito no último ano… E que ano!…
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»»»» Matilde Coruche é human resources director da AstraZeneca Portugal. Com os escritórios no nosso país em Queluz de baixo, a farmacêutica emprega 210 pessoas, que nos períodos mais críticos da pandemia estiveram na totalidade em trabalho remoto. A média de idades é 42 anos, sendo que 70% dos colaboradores têm formação superior. A antiguidade média é de nove anos e há seis mulheres em cargos de direção (em 10).