A tendência do todos nós, seres humanos, carregarmos nos ombros de forma excessiva os nossos problemas é algo quase intrínseco. A ansiedade, o medo, o desconforto e a insegurança ocupam de tal forma espaço que se torna quase impossível perceber o que podemos ou não controlar.
Texto: Raquel Nogueira
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Os problemas que refiro acima são certamente comuns a muitos de nós. O trabalho, a vida pessoal e o equilíbrio entre ambos. Contudo, nos dias de hoje torna-se inevitável citar a questão que tomou conta do nosso quotidiano e da nossa vida: uma pandemia, a ameaça à nossa liberdade e o medo de um futuro totalmente desconhecido.
Clarificar a pertinência desta questão é fundamental para que possamos continuar a encarar uma nova realidade. Todos nós, em algum momento, a colocámos e a transformámos num problema, dando-lhe o poder de nos inquietar e até, em alguns casos, de ameaçar o nosso bem-estar.
Os hábitos alteraram-se, a forma de trabalhar passou a ser outra, a forma de conviver mudou radicalmente e podemos até dizer que as nossas vidas ficaram on hold. Nos dias que correm é-nos praticamente exigido a forma como devemos viver. Falar destes temas já não é, infelizmente, uma novidade, sendo provavelmente o momento certo para olharmos para o que foi possível retirar desta situação.
Esta crise a nível mundial veio comprovar que o sucesso de uma empresa está nas suas pessoas e que é possível elevar o rigor e a exigência utilizando novas estratégias e métodos de trabalho. Agora, mais do que nunca, as reflexões e as práticas afetas à saúde mental ganharam uma maior relevância.
Do ponto de vista da saúde mental, aceitar o que é imprevisível permite um ganho ao nível da resiliência e do controlo da frustração. Possibilita a aceitação e a tolerância das emoções que nos causam desconforto, essenciais para a assimilação de uma determinada experiência.
No contexto corporativo, um meio de elevada competitividade, exigência e rigor, a imprevisibilidade do futuro parece estar a permitir que os momentos de introspeção e autocuidado ganhem maior expressão possibilitando a prática do exercício do que se pode ou não controlar.
E como é que podemos executar este exercício? Agindo sobre as variáveis que podemos efetivamente manusear, criando a oportunidade de satisfazer as necessidades de controlo:
– não podemos controlar a resposta do cliente, mas podemos controlar a informação que lhe é transmitida e de que forma;
– não podemos controlar se a reunião irá ou não correr bem, mas podemos controlar os meios de condução da mesma, garantido que a nossa Internet e o nosso computador estão a funcionar devidamente;
– não podemos controlar se o candidato vai comparecer na entrevista, mas podemos controlar a gestão que fazemos no nosso calendário e a forma como gerimos uma falta de comparência procurando perceber os motivos e adaptando-nos à realidade do outro;
– não podemos controlar as respostas do candidato durante o decorrer da entrevista, mas podemos controlar a forma como nos preparamos antecipadamente;
– não podemos trabalhar no escritório, mas podemos planear momentos de forma digital para que possamos disfrutar da companhia uns dos outros.
Num mundo onde a pandemia tomou as rédeas do nosso dia-a-dia, a tecnologia desbravou terreno e vai ganhando destaque. Estamos cada vez mais afastados, mas paralelamente à distância de um clique.
Aquilo que está ao nosso alcance poderá sempre ser alvo de melhoria e trabalho, mas as vivências de uma fase de vida como a que atravessamos parecem estar a captar a nossa atenção e a permitir uma melhoria contínua na distinção daquilo que depende ou não de nós.
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»»»» Raquel Nogueira é talent manager na Bee Engineering