Três abordagens à ética no coaching

Um artigo que convida a refletir sobre o que é a ética para os coaches: se é uma restrição, uma obrigação ou um valor.

Texto: Tatiana Krawczyńska-Zaucha

 

Os coaches ICF (International Coaching Federation) comprometem-se com o Código de Ética da ICF e de três em três anos renovam esse compromisso, tirando uma formação de educação contínua em ética do coaching. No entanto, essa prática não nos dispensa de uma reflexão mais profunda relativa à nossa abordagem sobre ética, sobre o que a ética significa para nós e quão permitimos que a ética esteja presente no nosso quotidiano. Este artigo é um convite a refletir sobre o que é a ética para os coaches, se é uma restrição, uma obrigação ou um valor.

A primeira coisa de que nos apercebemos ao ler o Código de Ética é que ele não fornece respostas para todas as perguntas ou possíveis dilemas éticos que podem aparecer na prática diária de um coach. Muitas vezes os coaches perguntam: Por que está isto a acontecer? Como é que um coach deve resolver um determinado dilema? Como é que um coach se deve comportar em determinada situação?

Para se perceber melhor a resposta a esta e a muitas outras questões relacionadas com ética, é importante dar um passo atrás e olhar para a ética sobre diferentes perspetivas.

Uma possível abordagem da ética é aquela que a considera como uma restrição. Um coach que adota essa perspetiva tende a ver a ética como um conjunto de orientações e proibições. A ética informa o que é permitido e o que não é permitido, e nesse sentido espera-se que o Código de Ética forneça um conjunto completo de todas as proibições e ordens relativas a todas as situações e orientações sobre como responder a todos os dilemas. A ética nessa perspetiva é uma restrição, porque limita as ações. É natural, portanto, que se queira evitar esse tipo de proibições e, assim, para essa pessoa, a ética é um fardo desnecessário na sua prática de coaching.

Uma segunda abordagem da ética será considerá-la em termos de obrigação. Adotando essa abordagem, o coach pode enfrentar decisões éticas difíceis, e sabendo qual «é a coisa certa a fazer» terá o compromisso de cumprir essa obrigação moral sendo consistente, implementando o que foi prometido. Desta forma, a ética torna-se uma parte necessária, mas «pesada», da realidade quotidiana da prática de coaching, porque os coaches estão limitados ao «devem fazer» ou «deveriam fazer». Quando surgem dilemas, estes serão resolvidos em função do que «é certo» em detrimento de uma reflexão, o que pode ser acompanhado por um sentimento de perda por razões éticas. Nessa perspetiva, a convicção de que as normas do Código de Ética estão corretas não facilita a sua implementação, e o coach vê-as como um fardo.

A terceira abordagem da ética considera-a como um valor no conjunto de valores pessoais e profissionais. Para entender essa abordagem, é preciso olhar para a estrutura de pensamento de uma pessoa, considerando-a como um conjunto de, entre outras coisas, experiências, crenças e valores. Quanto mais consciente disso estiver uma pessoa, mais coerentes são as suas atividades diárias. Nessa estrutura de pensamento, a abordagem ética da vida é vista como valiosa, e por isso a própria ética torna-se um valor que uma pessoa deseja realizar todos os dias. Nessa perspetiva, o Código de Ética mostra uma forma de escolha e reflexão sobre o comportamento. Não estabelece os limites em torno de como agir, porque sabendo o que é consistente, deixa de ser necessário ter limites impostos externamente à atividade de coach. Os limites são independentes. Quando os dilemas éticos se apresentam, eles são fáceis de resolver, porque a solução encontrada ajusta-se ou não a esta estrutura de pensamento consciente. A solução encaixa ou não nos seus limites internos. E, portanto, é coerente consigo mesmo. Nesta perspetiva, a ética não é nem uma limitação nem um compromisso. É uma parte natural de si mesmo, tanto como pessoa quanto como coach.

É importante perceber que nenhuma das abordagens acima apresentadas é inerentemente boa ou má. Não se trata de uma avaliação, mas sim da consciência e da sensibilidade ética do coach na vida quotidiana. Cada uma destas abordagens sobre ética tem valor, desde que seja uma escolha consciente. Cada uma delas é também uma expressão de progresso em direção a uma maior maturidade do coaching, que é a quintessência do domínio do coaching – não apenas o domínio técnico, mas acima de tudo ético, resultante da integridade e da autenticidade do coach na prática quotidiana.

 

»»»» Tatiana Krawczyńska-Zaucha é coach PCC. Este artigo foi publicado originalmente no blogue da ICF – International Coaching Federation, em inglês, aqui. A tradução para a língua portuguesa foi assegurada pelo Comité de Comunicação da ICF Portugal.

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