Zoltan Istvan

«Talvez um dia o ser humano seja uma máquina.»

Zoltan Istvan, transumanista e defensor da evolução da condição humana para uma dimensão que designa como «super-humana», acredita que «no futuro não haverá trabalho». Este antigo jornalista, que já foi candidato a presidente dos Estados Unidos, esteve em Portugal no final do ano passado para falar no «Business Transformation Summit», da CEGOC.

Texto: Redação «human»

 

Qual é a sua ideia sobre o futuro do trabalho?

Em 10 anos tudo será um pouco o mesmo. Mas com o passar do tempo teremos muito maior automação e rapidamente ser perderão milhões de postos de trabalho, devido aos computadores, aos robots… Será muito desafiante para todos. Em 30 a 40 anos, muita gente não terá emprego.

O que é que se destaca no conceito de transumanismo, que tanto defende?

É a ideia de usar a tecnologia e a ciência para modificar o ser humano, mudá-lo para o tornar melhor, talvez um dia uma máquina.

Acredita mesmo nisso? E para que horizonte temporal?

Em 50 anos, de certeza. Em 20 anos, talvez um pouco, talvez tenhamos apenas mãos robóticas.

Um mundo bem diferente…

Diferente de certeza. Penso que será um mundo melhor. Muitas pessoas dizem que não, que não será melhor. Querem ser apenas humanas. Mas eu olho para o que será melhor e mais forte. E um braço robótico, em 50 anos, será melhor do que o braço humano. A questão é se se faz a mudança ou não.

Está a falar de algo tremendamente discutível…

A religião é contra a ideia do transumanismo.

Muitas religiões, certamente…

Sim. Creio que todas. As pessoas que não são tão religiosas estão mais abertas, por exemplo na China.

Diz-se que a China quer conquistar o mundo. O que acha disto?

Acho que sim. Têm muita gente, gente trabalhadora e inteligente. Trabalham duro, de forma disciplinada, muito melhor do que acontece nos Estados Unidos, com um contexto diferente, de muitos sindicatos e de apoios públicos às pessoas…

O senhor foi candidato a presidente dos Estados Unidos…

Sim. Fui e vou voltar a ser. Não sei quando. Talvez um dia eu ganhe.

Como é que se concorre a presidente dos Estados Unidos?

Tenho uma equipa. Pessoas pagas, voluntários…

É preciso muito dinheiro…

De facto, é preciso muito dinheiro para ganhar. Mas até aqui o meu objetivo não foi ganhar. Eu quis passar uma mensagem, chamar a atenção para o transumanismo. Mesmo assim, envolveu um montante elevado de dinheiro. Nos candidatos finais, eu fui o quinto em termos de montante.

Eu não tinha hipótese de vencer. Mas houve milhões de page views, muito interesse, presença nos ‘media’, etc. Se a mensagem crescer, um dia eu poderei ganhar.

Acha que Donald Trump sabe o que é o transumanismo?

Creio que sim. E creio que tem uma ideia positivo sobre o tema, mas por motivos religiosos dirá que é contra. Mas nos negócios o transumanismo é bom para ele.

Ele poderá continuar como presidente?

Sim. A menos que faça algo de muito, muito errado.

Como explica o facto de ele ter sido eleito?

A questão da economia, que nos Estados Unidos é a número um. Isso foi decisivo. Se a economia estiver mal, ele perderá.

Qual é a sua opinião sobre Barack Obama?

Eu gostei muito dele como presidente.

Acha que ele gosta da ideia de transumanismo?

Gosta certamente mais do que Trump. Aliás, fez grandes investimentos relacionados com implantes cerebrais, canalizou muito dinheiro público para isso.

Além de falar em eventos um pouco por todo o mundo, como agora em Portugal, faz consultoria, não é?!

Sim, para empresas de muitos sectores, e também para a área militar. Para as empresas os temas de que eu falo são bastante relevantes, e também para a área militar. Veja-se os avanços tecnológicos em termo militares, visão noturna, drones, robots. Tudo está em linha com o conceito de transumanismo. Algures no futuro não teremos seres humanos na guerra, só máquinas.

Mas continuará a haver seres humanos…

Sim, mas não os mandaremos para a guerra. Este é um objetivo que tenho como político. Acabar com a guerra talvez seja impossível, mas acabar com a participação humanos não é.

E em relação ao trabalho?

Não tanto, porque há a ideia de ter humanos nas empresas. Mas nunca se sabe…

Noto aí uma certa inspiração da ficção científica…

Ah… Filmes, livros… Mas a maioria das ideias que defendo vêm da minha reflexão.

Como é que começou com tudo isto?

Fui jornalista do National Geographic e quase pisei uma mina antipessoal no Vietname. Isso assustou-me tanto que quis começar um movimento que pudesse acabar com esse problema. É o objetivo número um do transumanismo.

Foi há muito tempo?

Sim, eu estava na casa dos 20. Agora tenho 46. Por causa disso, dediquei a minha energia ao transumanismo. E agora, como figura pública, escrevo livros, escrevo em jornais, falo em eventos…

Tem filhos?

Tenho duas filhas, de nove e de cinco anos. Acompanharam-me, tal como a minha mulher, na viagem a Lisboa.

O que espera do futuro das suas filhas?

Bom, no futuro delas não haverá trabalho. Os robots estarão no trabalho. A minha filha mais nova não irá, já não digo para o colégio, mas para a universidade. Quanto tiver 25 anos, daqui a duas décadas, termos informação posta no cérebro, com um computador. Há quatro ou cinco empresas na Califórnia a trabalhar nisso, e já com algum sucesso. São investimentos de milhões de dólares, e dentro de alguns anos terão um verdadeiro sucesso.

Está a falar de um mundo muito diferente daquele em que vivemos…

As pessoas, aí, poderão fazer o que quiserem. Talvez se tornem artistas. Na arte nenhum computador consegue ser melhor do que as pessoas. A arte é uma coisa de que se gosta ou não. Eu não sei o que as pessoas farão. Mas sei que o capitalismo criará um sistema onde fará mais sentido às empresas ter robots em vez de pessoas. Às pessoas as empresas têm de pagar salários, férias, seguros… Os robots não exigem esse tipo de coisas.

Acha que a sua mensagem tem vindo mesmo a passar?

Sim. Cresce a cada ano. E à medida que a tecnologia avança, torna-se mais urgente.

Empresas como a Microsoft, a Apple ou a Amazon gostam das suas ideias?

Não sei. As grandes empresas talvez não. As mais pequenas, as startups, sim. Estão mais viradas para a mudança. Em Silicon Valley há algumas.

Mais uma coisa… Acredita que vamos viver mais tempo, evitar as doenças?

Sim. Se daqui a uns 20 anos estivermos vivos, teremos a oportunidade de viver tanto tempo quanto o que quisermos. Não digo que não teremos de morrer se não quisermos, mas…

 

 

»»» Zoltan Istvan, transumanista e defensor da evolução da condição humana para uma dimensão que classifica como «super-humana» através do recurso a inovações científicas e tecnológicas, é orador convidado de organizações como o Fórum Económico Mundial, o Banco Mundial e a Universidade de Harvard. Foi jornalista do National Geographic Channel e candidato a presidente dos Estados Unidos pelo Partido Transumanista, sendo que já anunciou uma nova candidatura nas próximas eleições. Esteve em Lisboa no final do ano passado, a convite da CEGOC, para apresentar na «Business Transformation Summit» uma comunicação subordinada ao tema «Superhuman – How converging transhumanist technologies will change everything».

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