Inovação social, longevidade e a IV Revolução Industrial: convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas

Falar de Inclusão e Inovação Social quando se aborda a evolução exponencial da tecnologia, chamando-lhe IV Revolução Industrial, é muito mais fantástico do que pode parecer à primeira vista.

Texto: João Barracho

 

Apesar de as anteriores três revoluções terem tido um impacto social enorme e óbvio, a importância dos novos processos e modelos, melhorando globalmente as condições de vida mas focados essencialmente no crescimento económico, tiraram do centro das atenções o efeito social dessa evolução.

Acreditamos todos que esta IV Revolução Industrial irá provocar uma alteração no sistema económico atual, para que este consiga responder às necessidades básicas dos cidadãos, garanta a sustentabilidade ambiental, promova a inclusão e uma maior justiça social. Nesta revolução teremos necessariamente de acrescentar à inclusão social a componente de inovação.

A III Revolução deu-nos ferramentas para que hoje conheçamos melhor o nosso mundo e os seus problemas. As novas gerações têm preocupações muito mais realistas e conhecedoras: começam a preferir os produtos e serviços de empresas responsáveis e preferem trabalhar em empresas com propósito, preterindo por vezes salários melhores.

A IV Revolução, com esta geração melhor preparada, vai definitivamente alterar os modelos económico, político e social. Contrariamente às previsões de alguns céticos, que confirmam a regra e equilibram a tomada de decisão, os empregos do futuro irão potenciar uma maior inclusão e uma maior qualidade de vida e longevidade.

O maior acesso à informação está a criar uma enorme pressão no sistema educativo. Esqueça-se a sala de aula atual. Os jovens vão apreender e pesquisar por si e a função de pais e tutores (ou ainda professores) será a de os estimular para descobrir e aprender. As diferenças provocadas pelos graus académicos estão já a desvanecer-se e a ser ultrapassadas pelas competências pessoais. As novas tecnologias permitirão simplificar e acelerar a maioria dos processos repetitivos e não só. Advogados, arquitetos, engenheiros, etc vão dedicar-se «apenas» a validar as tarefas produzidas automaticamente e criar novos conceitos e pressupostos com maior valor acrescentado. A impressão 3D, a realidade aumentada, a inteligência artificial, o big data, a biotecnologia e a robótica, entre outras tecnologias, vão provocar o desaparecimento de muitas profissões. Mas a falta desses «protótipos» de trabalho será apenas potenciadora dos novos modelos sociais. As hierarquias irão ser menos definidas e os horários de trabalho, eventualmente, reduzidos. Na prática, a diferença entre vida pessoal e trabalho tenderá a desvanecer-se. A grande diferença nesta revolução é a aproximação da tecnologia à vida. Com uma consequência óbvia: maior longevidade.

Fica-nos apenas a dúvida sobre se todas estas alterações farão a humanidade mais feliz.

 

Nota:

Estes temas, e muitos outros complementares ao contexto da economia social, vão estar em debate no «Fórum Empreendedorismo e Inovação Social», integrado na edição de 2019 do Portugal Economia Social, que se realiza entre 10 e 11 de dezembro, no Centro de Congressos de Lisboa.

 

 

João Baracho é diretor executivo da CDI Portugal – Inclusão e Inovação Social através da Tecnologia. O CDI (Center of Digital Inclusion) é uma organização não-governamental de inclusão e inovação social e digital, com presença internacional. Faz parte da rede global RECODE (inicialmente designada CDI), que celebrou recentemente 23 anos. O CDI chegou a Portugal em maio de 2013 graças aos parceiros Microsoft, Fundação PT, McKinsey&Company, SRS Advogados, Fundação EDP, PwC e APDC (Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações), com o objetivo de continuar a transformar vidas através da tecnologia. A sua missão prende-se com a inclusão e a inovação social e digital. Tem projetos que promovem a literacia digital, o exercício da cidadania de maneira a que os cidadãos usem as tecnologias na resolução dos seus problemas e dos desafios da comunidade e do mundo. A partir dos seus valores – solidariedade, transparência, equidade, inovação e excelência –, quer criar projetos de referência que transformem o futuro.