«A Alquimia dos Sentidos»
O romance de uma geração

O romance de Luís Bento «A Alquimia dos Sentidos» acaba de ser editado pela On y va, estando já disponível no site da editora, onde pode ser encomendado na loja on-line. Chegará em breve às livrarias, estando o lançamento previsto para o final do mês, em Lisboa, em data ainda a anunciar.

Texto: Redação Human

 

Disponível na On y va (pode ser encomendado livre de portes de envio na loja on-line da editora), «A Alquimia dos Sentidos» é o romance póstumo de Luís Bento, autor desaparecido em 2015. Retrato de uma geração, decorre entre os anos cinquenta do século XX na Costa do Estoril e a Guerra Colonial em Angola quando em Lisboa triunfa a Revolução dos Cravos. Conta a vida de um menino, de um adolescente e de um jovem soldado numa aprendizagem marcada pelas emoções. Uma vida no fio da navalha, onde os sentidos e a ânsia de descoberta estão sempre bem à frente na construção da personalidade.

Este romance de Luís Bento, autor do fabuloso livro de crónicas «Este Nosso Jeito de Ser», chega agora aos leitores como uma bela surpresa da nossa literatura. Inocente mas também arrojado, cru mas tantas vezes tocante, efabulatório mas ao mesmo tempo realista, mostra-nos um mundo que aos poucos fomos deixando para trás, perdido nas teias de aranha da história.

 

O autor

Luís Bento, natural do concelho de Cascais (Parede, 1951), distinguiu-se no meio empresarial sobretudo na área de recursos humanos – além de outros cargos, exerceu os de presidente da Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas (APG) e da International Federation for Training and Development Organi­zations (IFTDO). Foi percursor no nosso país do tema da responsabilidade social das organizações e também especialista em matérias ligadas à administração pública. Nos últimos anos de vida (faleceu em 2015) teve presença regular na rádio e na televisão, afirmando-se como um dos mais interessantes comentadores portugueses.

 

Um excerto

Apesar de a noite estar escura que nem breu, conseguíamos vislumbrar uma série de cubatas de adobe, com telhados de colmo e de capim seco. Eram entrecortadas por uns barracões de madeira. Havia arame farpado a toda a volta, bem alto. O aquartelamento tinha uma forma arredondada e, surpresa das surpresas, um mastro de ferro com a bandeira portuguesa desfraldada.

Achei aquilo estranho, pois ao anoitecer, fosse no mato ou na cidade, a bandeira era sempre arreada numa cerimónia específica. Verifiquei que o brigadeiro e o coronel também repararam. De repente o coronel disse:

– Meu brigadeiro, o comandante da companhia tem que levar uma porrada, porque não arreou a bandeira! Isto é inadmissível no nosso exército!

O brigas manteve-se em silêncio. Apeou-se da Berliet e respondeu à continência que o comandante da companhia lhe fazia. Era um capitão miliciano, ainda novo, com uma grande trunfa e a farda toda desalinhada. Calçava umas chinelas de plástico, gastas e pretas de tanta porcaria. Além disso tinha um ar de ganzado, com os olhos a brilharem, um brilho inexpressivo, próprio dos drogados.

Até que surgiu a pergunta do brigadeiro:

– Ó meu capitão, por que razão não mandou arrear a bandeira?

O capitão respondeu-lhe prontamente, com uma voz entaramelada:

– Ó meu brigadeiro, aqui tanto é Portugal de dia como de noite!