A insatisfação no trabalho continua a ser um dos principais desafios para os profissionais de recursos humanos (RH), com impacto direto na motivação, na produtividade e na retenção de talento. Muitos dos fatores que alimentam esse mal-estar, como o isolamento, a desconfiança nas lideranças ou a sensação de invisibilidade, têm uma raiz comum: a comunicação organizacional ineficaz ou ausente.
Texto: Isabel Mendes Imagem: Freepik
Num contexto marcado por estruturas híbridas, equipas dispersas e ritmos acelerados, comunicar bem tornou-se mais difícil e mais importante. Não estamos apenas a falar da circulação de informação, mas da capacidade de gerar escuta, alinhamento e confiança. A forma como as organizações comunicam, ou falham em comunicar, tem efeitos profundos na saúde emocional e relacional dos seus profissionais.
Infelizmente, em muitas empresas a comunicação interna ainda é vista como uma função operacional ou acessória. Cria-se campanhas e slogans, mas ignora-se os mecanismos que sustentam uma cultura aberta ao diálogo. A consequência é o chamado «silêncio organizacional», onde os colaboradores deixam de partilhar ideias, preocupações ou críticas por receio ou desmotivação. Este bloqueio relacional compromete o bem-estar e a inovação, e deve ser reconhecido como um risco psicossocial.
É aqui que a área de RH assume um papel estratégico. Promover fóruns regulares de escuta, garantir canais acessíveis e confidenciais para feedback, formar lideranças para uma comunicação empática e clara, são práticas fundamentais para prevenir o desgaste emocional e reforçar a coesão interna.
Neste esforço, destaca-se uma ferramenta recente e relevante: a Norma Portuguesa NP 4590:2023, publicada pelo Instituto Português da Qualidade (IPQ). Esta norma estabelece os requisitos para a gestão da comunicação organizacional, promovendo uma abordagem estruturada, ética e transversal ao tema. Baseada em princípios como transparência, coerência, inclusão e responsabilidade, a NP 4590 fornece orientações práticas para planear, executar e avaliar a comunicação em alinhamento com os objetivos da organização e com o bem-estar das pessoas.
A sua implementação permite identificar falhas sistémicas, monitorizar impactos e desenhar estratégias de melhoria contínua. Ao mesmo tempo, reforça o papel da comunicação como pilar da saúde organizacional, e não apenas como ferramenta de marketing ou gestão de crise.
Ao adotar uma comunicação mais clara, participativa e humana, as organizações tornam-se mais resilientes, justas e eficazes. A satisfação no trabalho nasce da sensação de pertença e de reconhecimento, e isso constrói-se todos os dias, na forma como se escuta, se informa e se responde.
Comunicar bem não é um luxo nem um detalhe, é um compromisso com o respeito, com a saúde e com o futuro das equipas.

Isabel Mendes
Isabel Mendes é médica do trabalho e gestora de serviços de saúde.