A transformação digital tem, nos últimos anos, revolucionado a atuação dos profissionais de recursos humanos, em especial impulsionada pela digitalização e pela inovação tecnológica, com a inteligência artificial (IA) a assumir-se cada vez mais como um aliado estratégico.
Texto: Raquel Andrade, Rita Rocha Imagem: Freepik
Longe de substituir o elemento humano, a IA surge como uma ferramenta complementar, ampliando a capacidade de gestão de talentos e permitindo alcançar níveis superiores de eficiência, personalização e tomada de decisões antecipadas e sustentadas.
No recrutamento e seleção de trabalhadores, as plataformas inteligentes já são capazes de analisar milhares de currículos em questão de segundos, identificar padrões de competências e prever a adequação dos candidatos à cultura e às necessidades da organização. Além disso, contribuem para a redução de vieses inconscientes, promovendo processos de seleção mais justos, inclusivos e ágeis.
No desenvolvimento do talento, a IA permite a criação de planos de formação personalizados, alinhados às necessidades e aos objetivos de carreira de cada colaborador. Com base em dados de desempenho e nas preferências individuais, a IA recomenda conteúdos formativos, oportunidades de mobilidade interna e novos desafios profissionais, fortalecendo o engagement e a retenção de talentos.
A análise preditiva é outra área em rápido crescimento. Por meio dela, a IA antecipa tendências como riscos de turnover, níveis de satisfação e desempenho futuro dos colaboradores. Esses insights possibilitam decisões mais informadas e estratégicas, permitindo que as empresas atuem de forma proativa na gestão de pessoas.
No entanto, a crescente utilização da IA trouxe consigo novas exigências legais e éticas. Com efeito, a Agenda do Trabalho Digno, implementada em 2023, veio reforçar a necessidade de transparência e informação relativamente ao uso de algoritmos e sistemas automatizados. As organizações passaram a ter o dever de informar não só os colaboradores, mas também as comissões de trabalhadores e os representantes sindicais sobre a utilização destas tecnologias, especialmente quando estas influenciam decisões de contratação, promoção ou despedimento.
Além da legislação nacional, o novo Regulamento de Inteligência Artificial da União Europeia classifica muitos sistemas utilizados nas relações de trabalho como de risco elevado, o que implica obrigações adicionais de monitorização, avaliação e mitigação de riscos, de modo a evitar preconceitos ou a tomada de decisões discriminatórias.
Neste contexto, é essencial que as organizações adotem práticas rigorosas de validação e acompanhamento dos sistemas de IA, promovendo uma cultura de ética e transparência, só assim sendo possível garantir que a tecnologia contribui positivamente para a gestão de pessoas, respeitando os direitos dos trabalhadores e evitando riscos legais e reputacionais.
A IA é uma realidade e está a redefinir o papel da área de recursos humanos, não como substituto, mas como potenciador. A preparação para estes desafios é fundamental para o sucesso sustentável das organizações na era digital.

Raquel Andrade, Director da SHL Portugal

Rita Rocha, Associate da Vieira de Almeida (VdA)
A SHL Portugal é uma empresa de consultoria estratégica e de tecnologia para a gestão do talento, representante das soluções do Grupo SHL, que tem uma posição de destaque mundial em assessment e talent analytics. Opera em cinco países de língua portuguesa e trabalha com centenas de organizações, dos sectores público e privado. Após celebrar 45 anos em 2024, continua a apostar na investigação e na inovação tecnológica aliada à inteligência artificial (IA).
A sociedade de advogados Vieira de Almeida (VdA) é uma organização vibrante e inquieta, inovadora, que se afirma nas aspirações de um coletivo que quer ser parte ativa da solução para os desafios sociais e ambientais que enfrentamos enquanto sociedade, mobilizando pelo exemplo de respeito, justiça e humanidade. Orgulhosa da sua história, a VdA constrói o futuro assente numa cultura que a distingue e que une em torno de um desígnio comum. Uma cultura fundada na consciência de que a cidadania é a âncora da sua prática e que faz dela uma organização aberta, inclusiva e solidária, focada nas pessoas e na justa oportunidade de realização de cada uma.