Liderar com coragem, sem rede

Texto: Margarida Segard Imagem: Freepik

Não admira que 82% dos líderes globais considerem que a complexidade aumentará de forma «sem precedentes» nos próximos cinco anos, e que apenas 14% se sintam preparados para isso – uma das estatísticas mais reveladoras do desfasamento entre exigência e capacidade real dos líderes e do capital humano nas empresas e organizações, sobretudo organizações públicas.

A pressão sobre o talento não é menor. Para além da juventude NEET (que não estuda, nem trabalha, formalmente), o verdadeiro desafio está nos adultos ativos: mais de 70% dos trabalhadores europeus carecem de, pelo menos, uma competência digital básica, e 46% das empresas reportam que a falta de competências dos adultos é o principal obstáculo à produtividade. A atualização permanente deixou de ser uma opção; tornou-se uma condição de empregabilidade e competitividade. Atrair jovens, reter os emergentes e, simultaneamente, garantir intergeracionalidade e transferência estruturada de conhecimento são hoje pilares críticos de sustentabilidade humana. A formação estruturada, com aplicação prática promovida e adaptada a cada organização, com foco e sem desperdício de tempo, dinheiro e sobretudo de motivação, tem de estar «em cima da mesa» em todas as organizações e para todos, todos, todos. Não existe «um fato que sirva a todos» e quando pensamos que existe constatamos que, afinal, foram três dias bem passados numa business school ou num centro de formação, mas que nada mudou, não transformámos conhecimento em novos processos, estratégia, métodos, monitorização, nem em produtividade…

Neste contexto, o líder precisa de um novo alfabeto – as super power skills: leadership consciente, competências digitais avançadas, sustentabilidade integrada, competências técnicas sólidas e soft skills de maturidade elevada. Mas estas competências exigem algo mais profundo: coragem disciplinada.

A liderança corajosa constrói-se em passos claros – e treináveis, num processo de aprendizagem estruturado e monitorizado:

1. Criar narrativas construtivas, mesmo quando o contexto é adverso.

2. Construir confiança técnica, que reduz a ansiedade e aumenta a clareza nas equipas.

3. Agir em micro-passos consistentes, porque a agilidade nasce da experimentação, não da perfeição.

4. Formar alianças inteligentes, internas e externas, para ampliar impacto.

5. Gerir a energia emocional, mantendo foco e lucidez em ambientes de pressão constante.
Estes passos não removem o medo – tornam-no útil.

A produtividade – prioridade para mais de 70% dos líderes – depende agora de processos ágeis, de formação estruturada, de colaboração eficaz e de uso estratégico da inteligência artificial (IA). A automação pode aumentar eficiência até 40%, mas apenas quando a liderança consegue mobilizar pessoas, tecnologia e cultura para objetivos comuns. Sem isso, a tecnologia é apenas ruído. A maturidade das equipas e a clareza do propósito é que convertem ferramentas em resultados.

A integração de práticas ESG (environmental, social and governance) e certificações ISO reforça também este movimento: deixam de ser selos reputacionais para se tornarem garantias de valor, transparência e acesso a mercados globais. Liderar com coragem significa também medir impacto – e responsabilizar-se por ele.

O novo líder não é o herói que tudo sabe; é quem aprende mais rápido do que o mundo muda. E quem mobiliza a equipa a aprender mais rápido e aplicar no negócio, com poder e responsabilidade individual. Quem assume as suas lacunas, investe em upskilling contínuo e mobiliza equipas diversas para construir futuro em terreno instável. A coragem não é ausência de medo – é a decisão de avançar, com lucidez e propósito, num mundo sem rede. Vamos a isso, ‘bora lá!





Margarida Segard
, Diretora do ISQ Academy


O ISQ Academy presta serviços de consultoria de recursos humanos, técnica e de formação focados na melhoria das competências e na performance dos quadros das empresas e indústrias, na qualificação e na certificação de pessoas, na gestão de sistemas e de talentos e na melhoria de processos e de sistemas integrados de gestão. Desde a década de 1970 que presta serviços de formação respondendo proactivamente às necessidades do mercado, com benchmarking internacional, inovação e visão global e local. A sua estratégia e a sua equipa de peritos e consultores focam-se em criar soluções inovadoras para valorizar pessoas e organizações.

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