Conhecemos o camaleão pela sua capacidade de mudar de cor, regulando-se ao contexto social, e não apenas para se defender dos inimigos ou se camuflar. Os camaleões conseguem mudar de cor para aquecerem ou ficarem mais «frescos» oscilando a temperatura corporal. Para isso acontecer, adotam cores mais escuras para absorverem o calor, e cores mais claras para refletirem esse calor. Por outro lado, usam a cor para expressarem emoções como a raiva ou a calma e para sinalizarem o domínio e a agressão ou, pelo contrário, o amor.
Texto: Mário Henriques Foto: DR
A analogia do camaleão para falarmos de liderança não reflete a falta de carácter ou de «espinha dorsal» que se exige a um líder transparente e confiável. Mas a relação com a capacidade que um líder tem (ou não) para se adaptar a contextos diferentes com posturas diferentes.
Normalmente, líderes que o fazem inspiram e têm mais propósito no que fazem. Adaptam-se com mais facilidade à mudança e ao inesperado. Conseguem interpretar a realidade e com isso adaptam a sua forma de estar. Conhecem-se bem a si próprios, e por isso treinam para estarem mais confiantes em «zonas de desconforto».
Propósito
Esta forma de atuar na liderança em que não existe somente um estilo, mas vários estilos, ultrapassa uma forma de pensar rígida. Permite-nos pensar na liderança de uma forma flexível e por isso mais pessoal e situacional, mais humana e equilibrada, em que os princípios são mais importantes do que as regras rígidas. Líderes camaleónicos não se limitam a agradar as pessoas, preferem colocar igualmente na equação uma orientação para resultados e um ambiente de elevado rendimento, onde o «porquê» (Propósito) é bem mais importante do que o «como» ou «o quê».
Mudar com a mudança
Esta abordagem descreve um líder que muda o seu estilo para se adequar à situação, tal como um camaleão, sem perder os seus valores fundamentais. O que está muito alinhado com os novos tempos que têm desafios inesperados e complexos. De facto, a mudança constante é pouco compatível com lideranças rígidas. Nessa perspetiva, a adoção do conceito de «Liderança Camaleónica» (capacidade de adaptar a abordagem à situação), embora mais exigente, pode ajudar a melhorar muito o desempenho das equipas e das organizações.
Capacidade de leitura
Aprendi com as indústrias onde a segurança é a preocupação número um, que numa situação de crise ou acidente é essencial travar a tentação de agir rapidamente mesmo com urgências a tratar à frente dos nossos olhos. Os procedimentos de segurança dizem que se deve parar, observar e avaliar o que aconteceu antes de atuar. Isto porque a impulsividade pode levar a consequências mais sérias se não tivermos esse cuidado. Com a liderança acontece o mesmo. Temos de interpretar e ler a situação, e somente depois atuar. Os líderes que têm uma boa consciência do ambiente que está ao seu redor fazem uma melhor interpretação das situações e sabem quando e como terão de mudar a sua abordagem. Tal como o camaleão usa a sua visão para se adaptar ao ambiente.
Treinar para o pior
Qualquer um de nós tem um perfil de comportamento natural no qual se sente melhor e mais confortável. Uns são mais empáticos e humanos, e procuram na componente relacional e na harmonia com os outros o seu reconhecimento. Por outro lado, outros são fortemente focados na tarefa e nos resultados, e por isso mais assertivos do ponto de vista do seu estilo pessoal, ficando algumas vezes até distantes, frios e excessivamente «musculados». O problema é que o dia-a-dia vai pedir para que estejamos em situações adversas com uma postura que não nos é natural. Para isso temos de conhecer bem o nosso perfil. Isso requer feedback daqueles que nos rodeiam e treino para expressarmos comportamentos que não são naturais em nós. Só com a repetição e o treino é que ganhamos mais confiança e maior eficácia naquele momento em que habitualmente «não é a nossa praia».
Mário Henriques, Managing Partner do High Play Institute (na foto)

O High Play Institute, baseado em Gaia e com atuação em Portugal e em muitas outras geografias, tem o foco na melhoria da performance das pessoas e das equipas. Aposta em transformar o seu trabalho em algo positivo em que todos possam desfrutar. Na sua visão destaca a ideia de ser uma empresa reconhecida a nível internacional no apoio à melhoria do engagement e da performance das pessoas, das equipas e nas organizações.
