A superação pessoal não é um troféu, nem uma história bonita para impressionar os outros. Não é um momento cinematográfico nem uma frase inspiradora escrita no auge da coragem. A superação verdadeira, aquela que constrói uma vida mais inteira, acontece longe das câmaras, longe das expectativas alheias e, muitas vezes, longe até da nossa própria capacidade de compreender o que está a acontecer connosco.
Texto: Maria Duarte Bello Imagem: Freepik
Vivemos rodeados de narrativas simplificadas sobre saúde mental e crescimento pessoal. Falam-nos de resiliência como se fosse um músculo mágico, repetem-nos que «basta querer», incentivam-nos a sorrir mais, a pensar positivo, a ser fortes. Mas ninguém nos ensina a conviver com o peso real das nossas emoções. Ninguém nos diz que a verdadeira superação começa precisamente quando deixamos de tentar ser fortes e começamos, finalmente, a ser humanos.
A verdade incómoda é esta: a superação não nasce da força. Nasce da rutura.
Das noites em que o corpo colapsa porque a mente já não aguenta mais uma tentativa de ser aquilo que não é. Dos dias em que a ansiedade prende ao chão. Nasce do fracasso emocional que tanto se tenta evitar e que afinal sempre foi o ponto de partida.
A saúde mental não melhora porque se sorri mais. Melhora porque se deixa de fugir do que se sente.
E superar é exatamente isso: parar de fugir. Superar é confrontar padrões que acompanham desde a infância. É perceber que certas crenças que se defende com unhas e dentes já não fazem sentido no «eu» adulto. É reconhecer que algumas dores que se carrega não são frescas, são antigas, silenciosas e que vivem como sombras quase inquestionáveis.
A superação pessoal é a coragem de desmontar a própria história.
E isso dói, porque implica aceitar que algumas decisões foram tomadas no medo, assim como revisitar aquilo que magoou e também admitir que se merece mais do que se permitiu.
Mas é aqui que a superação e a saúde mental se cruzam de forma profunda. Não existe cura emocional sem consciência e não existe superação sem vulnerabilidade. A vulnerabilidade, tantas vezes confundida com fraqueza, é na verdade o terreno fértil onde começa qualquer transformação significativa. Não é sinal de derrota, é sinal de verdade.
Superar não significa que nos tornamos imunes ao sofrimento. Significa que aprendemos a reconhecer, acolher e transformar o sofrimento antes que ele destrua. A superação não nos torna invencíveis, tornamo-nos inteiros. E é essa inteireza que muda tudo.
E a verdade, quando finalmente emerge, tem o poder de libertar mais do que qualquer ato de força. Superação não é vencer. É compreender e integrar. É crescer a partir da dor e não apesar dela. É escolher, diariamente, a autenticidade em vez da aparência.
Quando finalmente se assume o que se sente, mesmo aquilo que não se gostaria de sentir, a superação deixa de ser uma exigência externa e transforma-se num processo interno. Um processo que respeita um ritmo, ou seja, o ritmo de cada um, da sua história. A superação pessoal é, na sua essência, um trabalho de saúde mental. É ser capaz de pedir ajuda sem sentir que isso diminui.
Este é o ponto mais difícil de aceitar: superar não significa que nos tornamos imunes ao sofrimento. Significa que aprendemos a reconhecer, acolher e transformar o sofrimento antes que ele destrua. A superação não nos torna invencíveis, tornamo-nos inteiros. E é essa inteireza que muda tudo.
Porque quando deixamos de lutar contra nós mesmo e começamos a caminhar connosco, a vida deixa de ser uma batalha e passa a ser um processo de cura. E quando nos autorizamos a curar, descobre-se que a superação não é um ato heroico, é um ato profundamente humano.
É o início de um caminho onde se deixa de viver para impressionar e começa-se a viver para sentir. Deixa-se de querer parecer forte e começa-se a querer ser verdadeiro. Deixa-se de procurar troféus e começa-se a procurar paz. E há lá melhor do que isto? É neste lugar simples, honesto e silencioso que a nova versão começa a crescer.

Maria Duarte Bello, Chief Executive Officer (CEO) da MDB Coaching & Mentoring
MDB Coaching & Mentoring
Através da MDB Coaching & Mentoring, Maria Duarte Bello orienta e acompanha pessoas, equipas e organizações em processos de desenvolvimento ou mudança, progresso, crescimento e evolução. Desde 2002, é pioneira no coaching, tendo criado a sua atividade através da marca MDB. Trabalha num registo único, pela confidencialidade total, pela confiança estabelecida, pela oportunidade exclusiva de conversar com toda a liberdade e pelo apoio incondicional dedicado ao sucesso de cada cliente.
