Com uma carreira de três décadas na Nestlé e uma enorme e multifacetada experiência internacional, Pedro Pires é atualmente Head of Human Resources da Nestlé Portugal. Nesta entrevista fala-nos dos desafios do seu trabalho, de como equilibra a vida pessoal com a vida profissional e de alguns hobbies. Deixa-nos ainda algumas sugestões.
Texto: Redação «human» Foto: DR
Como olha para o tema do equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional, no seu caso?
Quando gostamos do que fazemos é fácil entusiasmarmo-nos, e isso pode impactar por vezes o tempo dedicado à nossa vida pessoal. Recarregar energias é essencial para não chegarmos à exaustão, por isso procuro disciplinar-me para garantir um bom equilíbrio dos tempos dedicados às várias atividades. Durante a semana, marco na minha agenda atividades desportivas, de voluntariado ou outro teor, para assim garantir tempo de dedicação a atividades profissionais e pessoais, no horário devido.
Felizmente, a empresa onde trabalho, a Nestlé, disponibiliza uma série de políticas e ferramentas que auxiliam na prossecução deste equilíbrio e promovem um ambiente de trabalho flexível, seguro e saudável.
O seu percurso profissional tem-lhe permitido esse equilíbrio?
As várias experiências profissionais de trabalho que marcaram o meu percurso profissional, que me proporcionou trabalhar em vários países e com várias culturas, ajudaram a perceber melhor a necessidade de não estarmos sempre ligados e a trabalhar. Em alguns destes países, pude constatar que havia um rigoroso cumprimento de horários, na medida que não se agendava reuniões ao fim da tarde e era inclusivamente mal visto utilizar tempo dedicado à vida familiar para atividades profissionais. Havia obviamente exceções, mas eram mesmo isso – exceções.
Fui aprendendo com estas experiências e hoje em dia giro de uma maneira mais consciente os meus tempos e a minha energia.
Que desafio representa para si de a área em que trabalha, assim como a instituição?
A Nestlé tem há aproximadamente 160 anos (há 102 em Portugal) o propósito de alavancar o poder da alimentação para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Tem também valores enraizados no respeito que se têm mantido centrais na sua cultura. Procurar que o propósito e os valores sejam vistos por todos como o farol que nos orienta, no meio de tanta transformação, neste contexto tão ambíguo e volátil, é algo que me inquieta.
Tem alguns hobbies que queira destacar?
Desde os 15 anos que faço voluntariado, sobretudo nas dimensões sociais e formativas. A música também faz parte do meu dia-a-dia desde sempre, quer enquanto ouvinte quer enquanto músico amador. A prática de desporto, em diversas modalidades, é também um hobbie regular, incluindo a prática consistente de diferentes artes marciais desde os seis anos.
Em que medida são importantes para si? E há algum que se destaque?
Além de contribuírem para o meu desenvolvimento enquanto pessoa, são essenciais para manter a saúde nas suas mais variadas dimensões. Prevenir é infinitamente melhor que remediar – literalmente.
É difícil destacar alguma, pois são atividades bastante diversificadas. O voluntariado ajuda-me a conhecer melhor as várias dimensões da sociedade e contribui para o meu desenvolvimento espiritual. A música traz-me convívio e alegria. E as artes marciais mantêm-me ativo e saudável.
Pode referir um filme que o tenha marcado? E uma música?
Como gosto muito de ver filmes, e vários me marcaram em diferentes momentos da minha vida, escolher apenas um para mim é impossível. Se quiserem, um dos filmes que vi mais recentemente e de que gostei muito foi «En Fanfarre», em português «Siga a Banda», visto ao ar livre (porém, não com a melhor qualidade de som), mas com uma história inspiradora sobre o que é realmente importante.
Quanto a música, inspirado pelas primeiras perguntas, lembrei-me do «Cat’s in the Cradle», de Harry Chapin, que foi objeto de uma sessão num curso que fiz no IMD Business School, na Suíça, num momento muito oportuno, pois tinha acabado de ser pai pela primeira vez e obviamente a música «ressonou comigo». Convido-vos a ouvi-la e a refletirem sobre ela, como tenho feito muitas vezes.
Pode referir dois livros, um ligado ao mundo das empresas, da gestão, e outro fora desse âmbito?
Há cerca de um ano li «A Economia de Francisco», editado pela UCP. É uma coletânea de textos de vários autores das áreas de economia, sociologia, etc, inspirada pelo movimento global lançado em 2019 pelo Papa Francisco, para criar uma economia mais humana, inclusiva e sustentável. Acho que estamos a precisar.
Os «Contos Exemplares», de Sophia de Melo Breyner, foi um livro que me marcou quando o li pela primeira vez no início da idade adulta e que releio de vez em quando.
Pedimos-lhe ainda uma frase que seja importante para si. Um lema, uma citação…
Uma frase importante para mim e que me faz refletir é esta «Aquilo que tu és fala tão alto que não se ouve nada daquilo que tu dizes». É de Ralph Waldo Emerson.
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Pedro Pires tem mais de 30 anos de experiência na Nestlé. Construiu um percurso marcado pela liderança de equipas em diferentes países e contextos culturais, sempre com espírito de compromisso, resiliência e atitude positiva.
Iniciou o seu percurso em 1992, quando assumiu funções como advogado na Nestlé Portugal, tendo em 2000, passado para a área de Recursos Humanos. Em 2010, assumiu o cargo de Head of Human Resources na Arábia Saudita, tendo tido um papel fundamental na implementação da Nestlé no país. Em 2013, juntou-se à equipa de Corporate HR como Head of Employee Relations e Safety & Health, onde co-liderou a iniciativa Living Wage. Foi também sob a sua liderança que se definiu a Nestlé Framework for Employee Health, se desenvolveu a Política de Maternidade e se fortaleceu a relação com os parceiros sociais do grupo. Em 2018, foi nomeado para o cargo de Head of Human Resources para os negócios de Food and Confectionery na Europa. Nesta função, trabalhou em conjunto com os mercados e com a equipa da Zona Europa.
É atualmente Head of Human Resources da Nestlé Portugal.
Licenciado em Direito pela Universidade Católica Portuguesa e com pós-graduações em Recursos Humanos no ISG e ISCTE, frequentou a nível internacional cursos de Liderança e Gestão no IMD, na London Business School e no IESE.
Presença no LinkedIn aqui.
A Nestlé
A Nestlé é a maior empresa de alimentos e bebidas do mundo e está sediada na vila suíça de Vevey, onde foi fundada há aproximadamente 160 anos. Está presente em 188 países em todo o mundo e os seus cerca de 275.000 colaboradores estão comprometidos com o propósito da Nestlé de desenvolver o poder da alimentação para melhorar a qualidade de vida de todos, hoje e para as gerações futuras. A Nestlé oferece um vasto portefólio de produtos e serviços para as pessoas e para os seus animais de companhia ao longo das suas vidas. As suas mais de 2.000 marcas variam de ícones globais como Nescafé ou Nespresso, até marcas de fabrico local amplamente reconhecidas como Cerelac, Nestum e Sical, entre muitas outras. A performance da empresa é orientada pela sua estratégia de Nutrição, Saúde e Bem-estar e alicerçada em fortes compromissos com a sustentabilidade ambiental de todas as suas operações, cujo objetivo máximo é atingir a neutralidade carbónica em 2050. Para cumprir este roadmap a Nestlé está focada em fazer avançar sistemas alimentares regenerativos em escala, envolvendo toda a sua cadeia de valor.
Em Portugal, a Nestlé está presente desde 1923 e tem atualmente 2.856 colaboradores, tendo gerado em 2024 um volume de negócios de 733 milhões de euros. Conta atualmente com duas fábricas (Porto e Avanca), um centro de distribuição (Avanca) e cinco delegações comerciais espalhadas pelo continente e pelas ilhas.
