Num tempo em que as decisões empresariais são cada vez mais orientadas para o curto prazo, falar de recrutamento «permanente» pode parecer contraintuitivo. Mas é precisamente neste cenário de incerteza e mudança que a visão de longo prazo se torna uma vantagem competitiva, sobretudo quando falamos da contratação de talento especializado.
Texto: Bernardo Samuel Imagem: Freepik/ rawpixel.com
Nos últimos anos, temos assistido a uma clara escassez de perfis qualificados no mercado laboral. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), apenas 34% da população ativa em Portugal tem formação superior, uma realidade que, combinada com a crescente complexidade das funções técnicas, levanta sérios desafios à capacidade das organizações em atrair e fidelizar talento que acompanhe as suas necessidades reais.
Perante este cenário, o recrutamento de perfis especializados não pode continuar a ser visto como o colmatar operacional a uma vaga. Deve ser pensado como uma decisão estratégica que impacta diretamente a cultura, a performance e o futuro de cada da organização.
O que distingue hoje um processo de recrutamento eficaz, não é apenas a velocidade com que se preenche uma função, mas a qualidade da decisão pela pessoa certa. E isso exige tempo, escuta, conhecimento profundo do sector e, sobretudo, a capacidade de compreender aquilo que não está escrito nas descrições de função: o tipo cultura organizacional, os skills de liderança procurada, os desafios futuros do negócio e o equilíbrio entre o perfil técnico e as competências humanas.
É também por isso, que os profissionais mais procurados raramente se encontram disponíveis. O talento especializado move-se, cada vez mais, por projeto, por propósito e por contexto e, não apenas, por proposta salarial. Estabelecer uma ponte com esse talento é cada vez mais exigente, porque implica mais do que divulgar descritivos funcionais: exige credibilidade, exige entender a missão e cultura da empresa e a capacidade de criar confiança e relações de longo prazo.
Ao nível da liderança, isto significa que o recrutamento deve ser encarado como parte da estratégia da organização. Tal como se investe em inovação, tecnologia ou expansão internacional, deve também investir-se na capacidade de atrair as pessoas certas para as funções certas, de forma sustentável, alinhada com a cultura e com a visão de futuro.
A urgência operacional vai sempre existir. Mas os erros de contratação custam caro: em tempo, em reputação e em coesão interna. E a construção de equipas sólidas não se faz com atalhos.
Mais do que preencher vagas, trata-se de fazer escolhas estruturantes. Porque o verdadeiro impacto de uma contratação não se mede no dia da entrada, mas nos meses e anos que se seguem.

Bernardo Samuel, Country Head of Permanent Recruitment da Adecco em Portugal
O Grupo Adecco é uma das empresas de talento com maior destaque. O seu propósito é garantir que o futuro funcione para todos. Através de três unidades de negócio globais – Adecco, Akkodis e LHH – em 60 países, capacita a empregabilidade sustentável e ao longo da vida dos indivíduos, oferece soluções digitais e de engenharia para impulsionar a transformação da indústria inteligente e ajuda as organizações a otimizar as suas forças de trabalho. O grupo está sediado em Zurique, na Suíça.