Liderança autêntica na era digital

Texto: Mafalda Salema Garção/ Imagem: Freepik

De acordo com o estudo Global Talent Trends (GTT, 2024), da Mercer, um em cada quatro executivos acredita que a IA transformará profundamente o seu modelo de negócio, projetando ganhos de produtividade entre 10% e 30%. No entanto, a adaptação a esta nova realidade varia, e a importância das interações humanas não deve ser negligenciada. Uma questão crucial impõem-se: como manter a autenticidade num ambiente cada vez mais digitalizado?

A autenticidade, entendida como a capacidade de uma organização ser verdadeira e transparente, emergiu como um fator diferenciador essencial. Organizações que promovem uma cultura autêntica atraem e retêm talentos de forma mais eficaz. Estudos indicam que cerca de 75% dos colaboradores deixam as lideranças, e não as empresas (GTT, 2024). Neste contexto, a autenticidade tornou-se imprescindível na liderança contemporânea.

Num mundo que valoriza a transparência e a integridade, ser genuíno é um pilar da liderança eficaz. A forma como nos apresentamos nas diversas esferas da vida – comunidade, trabalho, lar e identidade pessoal – influencia diretamente a nossa capacidade de liderar com impacto. Quanto mais alinhados estivermos nessas áreas, mais autênticos nos tornamos, reduzindo a necessidade de «máscaras» que ocultam a nossa verdadeira essência.

Stewart D. Friedman, no seu livro Leading the Life You Want (2014), introduz a ideia dos «quatro círculos»” – trabalho, casa, comunidade e eu pessoal. A verdadeira compatibilidade entre esses círculos não significa estar presente em todos os papéis simultaneamente, mas sim agir de acordo com os mesmos valores e objetivos em cada área da vida. Esta abordagem é fundamental para uma liderança que inspira e transforma.

De acordo com Friedman (2014), para liderar eficazmente, é crucial adotar três princípios fundamentais da liderança total:

  1. «Ser Real»: Agir com autenticidade, reconhecendo o que é verdadeiramente importante para nós, os nossos valores e visão. Um líder autêntico cria um ambiente onde os outros se sentem seguros para fazer o mesmo;
  2. «Ser Inteiro»:Agir com integridade, respeitando a totalidade do ser humano e reconhecendo a interconexão das várias partes da nossa vida.
  3. «Ser Inovador»: Agir com criatividade, promovendo a aprendizagem contínua e a experimentação.

Neste contexto, uma cultura de feedback contínuo é fundamental para o crescimento pessoal, uma que o feedback construtivo permite aos líderes alinhar as suas ações com os seus valores.

Ser um líder hoje requer integrar competências que podem parecer contraditórias. É essencial possuir confiança para tomar decisões audaciosas e rápidas, humildade para ajustar o rumo e sensibilidade para reconhecer a necessidade de mudança. A falta de autenticidade pode gerar ansiedade e desconforto, comprometendo o bem-estar do líder e das suas equipas.

Pensadores como Brené Brown destacam a importância da autenticidade na liderança, afirmando que «a confiança é conquistada nos pequenos momentos»” e que «é preciso coragem para ser imperfeito». A autenticidade depende do autoconhecimento, e os líderes devem estar cientes das suas vulnerabilidades e fortalezas.

Concluímos que a liderança autêntica na era digital é um vetor de diferenciação pessoal e organizacional. Ao cultivar a autenticidade, enriquecemos as nossas vidas e contribuímos para ambientes mais saudáveis e produtivos.

Ao abraçarem a autenticidade, a vulnerabilidade e o feedback, as organizações podem transformar a sua cultura e alcançar resultados extraordinários.



Mafalda Salema Garção
, Senior Associate da Mercer Portugal




Na Mercer acredita-se na construção de futuros mais brilhantes através da redefinição do mundo do trabalho, da melhoria dos resultados em pensões e investimento e da promoção da saúde e bem-estar das pessoas. A consultora tem aproximadamente 25.000 colaboradores em 43 países e opera em 130 países. É uma subsidiária da Marsh McLennan, empresa global de serviços profissionais nas áreas de risco, estratégia e pessoas, com mais de 85.000 colaboradores em todo o mundo e com receitas anuais de mais de 23 mil milhões de dólares.

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