À medida que as tecnologias de inteligência artificial (IA) avançam a um ritmo sem precedentes, é cada vez mais importante que as empresas sejam capazes de acompanhar esta tendência, integrando-as no seu negócio e na organização do trabalho.
Texto: Diana Caldeirinha Foto: DR
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Num estudo publicado pela Deloitte Insigths, sobre os efeitos do talento e da força de trabalho na era da IA, era expectável que 81% das empresas considerassem em 2022 a integração da IA nos seus negócios como muito importante ou crítica para o sucesso. Esta tendência também é relevante no âmbito da formação e da aprendizagem em contexto laboral. Com o desenvolvimento da IA, há um interesse crescente e generalizado sobre como estas tecnologias podem ser potenciadas para melhorar as estratégias de ensino-aprendizagem, ou seja, o modo como se ensina e como se aprende nas empresas.
A integração da IA nos sistemas de formação permitirá às organizações:
1) criar jornadas de formação customizadas, com capacidade de responder às necessidades individuais, sendo expectável que esta personalização permita identificar as áreas de melhoria de cada indivíduo e fornecer orientações específicas para o seu desenvolvimento profissional e pessoal;
2) desenvolver ambientes de aprendizagem virtuais de simulação, permitindo que o indivíduo treine as suas competências em cenários reais e obtenha feedback imediato relativamente ao seu desempenho;
3) desenvolver melhores sistemas colaborativos, que potenciem a construção e a partilha de conhecimento. As ferramentas de IA contêm inúmeras possibilidades e promovem a aprendizagem ao longo da vida.
Porém, existem desafios que devem ser considerados:
1) a falta de regulamentação nesta área coloca várias questões éticas, em específico no desconhecimento da forma como os algoritmos refletem e tratam a informação sensível;
2) a privacidade e a proteção de dados;
3) a limitação na compreensão do contexto ou das especificidades de alguns temas;
4) a limitação na criatividade e no pensamento crítico, em comparação com a capacidade humana.
A gestão destes desafios requer uma abordagem cuidadosa, que não dispense o contributo humano e que envolva a colaboração de diversos especialistas. Num futuro próximo, é previsível que a IA complemente o contributo dos especialistas, mas não os substitua integralmente. Contextos de trabalho que exijam inteligência emocional, adaptabilidade e configuração harmoniosa de competências interpessoais requerem experiências/ jornadas de aprendizagem com contributos únicos que só os especialistas podem aportar.
As empresas devem, assim, investir no desenvolvimento de experiências de aprendizagem personalizadas e adaptativas, que criem ambientes de aprendizagem holísticos e eficazes, capazes de responder aos desafios do seu negócio e às necessidades das suas pessoas. A Society for Human Resource Management afirma que é essencial que as empresas proporcionem aos seus colaboradores uma experiência de formação que permita o treino de novas competências e conhecimentos sem as consequências das interações do trabalho. Na era do conhecimento digital, é a capacidade que as organizações revelam em gerir o conhecimento, nomeadamente os processos relacionados com a criação, a retenção, a transferência e a aplicação do conhecimento, que impulsionará a produção de inovação, a gestão de competências e a renovação da vantagem competitiva.
Organizações que criem ambientes de aprendizagem flexíveis e personalizados e que espelhem a cultura corporativa terão maior capacidade para reter o seu capital humano e, consequentemente, construir uma base sólida para a inovação, a resiliência e o crescimento sustentável.
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»»»» Diana Caldeirinha é diretora da Formação Ispa. O Ispa foi fundado em 1962 com a denominação inicial de Instituto de Ciências Psicopedagógicas, tendo desde cedo assumido um perfil de vanguarda, em linha com as abordagens mais modernas da época. Pioneiro no ensino e investigação da Psicologia em Portugal, veio a adotar a designação de Instituto Superior de Psicologia Aplicada em 1964, passando a ser gerido por uma cooperativa aberta a docentes e não-docentes em 1977, modelo de gestão que mantém até hoje. Em 2009, enquanto projeto já consolidado e reconhecido nacional e internacionalmente, o Ispa foi requalificado em Instituto Universitário no âmbito da alteração do regime jurídico das instituições do ensino superior então introduzida. Com esta mudança, passou a poder ministrar de forma autónoma licenciaturas, mestrados e mestrados integrados e doutoramentos.