José Crespo de Carvalho, do ISCTE Executive Education
«Vai haver uma brutal transformação no trabalho.»

O ISCTE Executive Education lançou recentemente o quinto livro de uma coleção com que pretende chamar a sociedade civil, convidando-a a participar para oferecer ao público em geral temas verdadeiramente importantes para as pessoas. Pretexto para uma conversa com José Crespo de Carvalho, presidente da Comissão Executiva da instituição, começando pela formação de executivos e a sua relação com a inteligência artificial, tema do novo livro.

Texto: Redação «human» Fotos: DR

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Como se posiciona o ISCTE Executive Education em termos de formação de executivos, num ambiente onde cada vez mais se fala de inteligência artificial (IA)?

Basicamente onde queremos ocupar cabeça e o coração ou onde já estamos a ocupar a cabeça e o coração. Sabe, eu tenho sempre tendência a achar que já nos posicionam com IA nos poros. Acabámos de lançar o nosso mais recente livro, «88 Vozes pela Inteligência Artificial». Temos vindo a introduzir vários módulos em vários programas com Gen AI. Temos a nossa pós-graduação em Analytics for Business. Vamos lançar uma pós-graduação em AI para Gestão e seremos absolutamente pioneiros nesta área. Ninguém está a fazer aquilo que vamos fazer já no primeiro semestre, a partir de março. E reunimos aqui alguns dos melhores profissionais da área. Estamos a operar um mestrado em Tecnologias Digitais para o Negócio, de um ano, que teve um primeiro ano fantástico. Com tudo isto apenas posso dizer, bom, se não ocupamos ainda a cabeça e o coração das pessoas com AI, devemos estar próximos. Quero acreditar que ocupamos.

Acredita que a formação conhecerá transformações significativas devido à IA, e não apenas a formação de executivos mas a formação em geral?

Claro que irá conhecer transformações que não me atreveria sequer a chamar significativas. Acho mesmo que o termo brutais nunca se aplicou tão bem. Posso estar a ser despedido como professor, mas o mundo, olhando para o upside disto, vai ficar melhor. É assim a história. Vai demorar algum tempo? Vai. Precisamos de regulação? Sim, sem estrangulamento. Vamos precisar de olhar para as coisas com olhos que detetem o fake? Claro. Vamos desenvolver outros instintos sobre o que corre na imprensa? Bom, se ainda não os desenvolvemos sem AI, então com AI vamos mesmo ter de os desenvolver.

Agora, vai haver uma brutal transformação no trabalho. Brutal. Há trabalhos que irão desaparecer. Há trabalhos que irão nascer. Mas entre o phase-out de uns e outros vai haver dor. Isso vai. Mas o futuro vai ser melhor. Como sempre foi. Quanto à formação, será diferente. Seguramente diferente e acredito que para melhor. Mais experiencial. Mais próxima. Procurando tirar partido da tecnologia, mas igualmente das pessoas enquanto pessoas. Enquanto seres humanos de verdade. Aí a AI ainda não chega. Às emoções, aos sentimentos, à fragilidade. Seremos mais autênticos e acho essa consequência fantástica.

No caso da formação de executivos, onde poderá estar o maior impacto? Na maneira como essa formação é disponibilizada ou, antes, nos próprios conteúdos, mais direcionados a um mundo completamente novo, cada vez mais desafiante?

No formato. Na experiência. Naquilo que se deixa à máquina e naquilo que vai ficar para a pessoa. Lágrimas, cansaço, desespero, alegria, abraços, gritos de vitória, tudo o que é humano vai ser humano mas mais humano. Mais genuíno. Quero acreditar nisso. Tenho de acreditar nisso. Portanto, voltamos à experiência e ao formato. Serão decisivos. Até porque há conhecimentos que são absolutamente necessários. Na minha modesta opinião.

Como olha para o ISCTE Executive Education em termos de contacto com o tecido empresarial do nosso país?

Olho com bons olhos. Temos tido cada vez maior entrada em empresas nacionais, mas principalmente internacionais, o que nos alegra muito. Quanto mais expostos estivermos ao mercado internacional melhor será para todos. Para a cultura da instituição, para a multiculturalidade, para a rede de alunos e alumni, para o enriquecimento do nosso corpo docente. Tudo muda com a variável internacional. O corporate, idem.

E em termos internacionais?

Diria que se quisesse escrever numa palavra a estratégia do ISCTE Executive Education, ela seria internacionalização. Se quisesse dizer qual é o grande pilar estratégico, diria internacionalização. Na realidade, temos três pilares estratégicos, simples, desde há quase cinco anos: internacionalizar, abrir catálogo open com reforço de oferta e apostar no mercado corporate, intra-empresas. As duas últimas aplicam-se ao mercado internacional igualmente, como é óbvio. Agora, por alguma coisa o Financial Times nos classifica como a operação número um em Portugal em termos de diversidade geográfica dos participantes e como número um em termos de overseas programs para empresas.

Se quisesse escrever numa palavra a estratégia do ISCTE Executive Education, ela seria internacionalização. Se quisesse dizer qual é o grande pilar estratégico, diria internacionalização.

Que apostas faz uma escola como o ISCTE Executive Education, localizada em Lisboa, em termos de atração de talento para os seus programas?

Essencialmente em recursos. Nos seus recursos docentes. Nos seus alunos e alumni. E em tecnologia. A localização em Lisboa privilegia-nos, claramente. Mas estes fatores não mudariam se estivéssemos no interior. Temos uma forma muito particular e muito simples de pensar a formação de executivos. E ela passa pelo que disse com carácter aplicado. Real-life learning é o nosso mote. Há 35 anos que é assim.

Qual é o seu balanço da participação de executivos nos vossos programas no pós-pandemia? Seja de portugueses, seja de pessoas de outros países?

A formação mudou. E está a mudar. Há on-line que quase não havia. Há gamificação e conteúdos em digital. Há formatos apenas apropriados para digital. E há uma mudança do cliente, seja ele individual e/ ou empresarial. Mais desligado, mas mais exigente. Há claramente uma nova cultura de cliente e a costumer experience tem de mudar para se adaptar aos novos tempos.

Há alguns perfis-tipo a frequentar os vossos programas?

Sim, há. Mas esses fazem parte não digo das personas que temos definidas por CRM [customer relationship management], mas de uma prototipagem de perfis – gostando do nome – que nos procuram. Essa informação, como deve compreender, é nossa. Não é partilhável a público. Mas se quiser saber se temos perfis que outros não têm, eu diria que sim. Como será verdade que outros – nossos concorrentes – têm perfis que nós não temos.

Que tipo de programas destaca na oferta do ISCTE Executive Education?

Flagship? O Executive MBA. Top 100 do mundo no Financial Times e top 50 em ranking QS pela terceira vez consecutiva. É a história mais recente que estamos a criar. Porém, não tenho por hábito elevar um programa em detrimento de outros. Temos inúmeras áreas importantes: logística e supply chain, onde temos grande escola, finanças e contabilidade, outra grande escola e na origem da gestão do ISCTE, marketing e digital marketing, onde também fomos percussores, gestão de projetos e a área da saúde, melhor, da gestão da saúde, onde claramente batemos todos os concorrentes. Fácil fazer contas aos números. Outros terão outras vocações. Por exemplo, onde outros são mais inspiradores, nós somos mais instrumentais. Porque a inspiração é a vitamina para o dia ou dias. O instrumento é o que se usa todos os dias. Nós somos de facto muito instrumentais. E muito hands-on.

Voltando à IA, como chegaram à publicação de um livro sobre o tema, que recentemente apresentaram?

Como chegámos em todos os outros. Temos uma coleção de cinco e vamos para um sexto. «67 Vozes por Portugal», «101 vozes pela Sustentabilidade», «71 Vozes pela Competitividade e Crescimento», «77 Vozes pela Nossa Saúde», «88 Vozes pela Inteligência Artificial». Chamando a sociedade civil, convidando-a a participar e a juntar-se a nós para em formato readings podermos oferecer ao público em geral os temas que verdadeiramente importam às pessoas. Os temas que mexem o ponteiro em termos de sociedade e de economia. Os temas que nos devem motivar verdadeiramente. E a IA é o elefante na sala. Que vai fazer grandes estragos, mas a verdade é que nos trará um mundo muito melhor. Acredito mesmo nisso. É um livro a não perder. Para todos os que sabem alguma coisa e para todos os que ainda pouco ou nada sabem.

A inteligência artificial é o elefante na sala. Que vai fazer grandes estragos, mas a verdade é que nos trará um mundo muito melhor. Acredito mesmo nisso. Este é um livro a não perder. Para todos os que sabem alguma coisa e para todos os que ainda pouco ou nada sabem.

O que procuraram com a publicação dos livros desta coleção?

Participação da sociedade civil. Desenvolver uma das nossas grandes missões: serviço público, informar, formar, educar a baixo custo. Um livro custa 15 euros em livraria. Onde acha que se arranja esta informação toda e tão baixo custo? É claro que não há direitos de autor e é claro que investimos nisto para o conseguir. Dinheiro, tempo e muito carinho. E muito, muito mesmo, profissionalismo. Os resultados estão à vista de todos. Não é um livro. São cinco livros. Vamos para o sexto, «Vozes pela Literacia Financeira». É outro tema que achamos que com todo os planos e iniciativas precisa de muitos mais contributos. Se não tivermos uma sociedade contributiva, não temos uma sociedade com valor. Queremos uma sociedade contributiva. Que pense. Que debata. Que se eduque. Que faça diferença. Poderá dizer: isso é quixotesco, certo? Dir-vos-ei: essas são as melhores críticas que me têm feito. Estou habituado a trabalhar para resultados, e é isso que procuro. Sempre.

No seu caso, que desafio representa o seu trabalho ligado à formação de executivos?

No meu caso? Presumo que me pergunta em termos pessoais, certo? Estive muitos anos ligado à formação de executivos do ISCTE (então INDEG). Pertenci à direção do INDEG noutra vida. Fui diretor académico da formação de executivos da Nova SBE durante uns anos. Voltei ao ISCTE-IUL para relançar a formação de executivos do ISCTE. Agora ISCTE Executive Education. É de longe a área no ensino superior onde mais tenho investido. Com grande sacrifício pessoal e familiar. Mas penso sempre em deixar uma marca pessoal por onde passa. Resultados, o que é muito importante para mim: criar valor. Mas mais importante que isso: deixar uma marca humana pelos locais onde passo. E, neste caso, tornar a formação de executivos mais humana e mais próxima. Mais simples. Mais despretensiosa. Mais acessível a todos. Para os tornar melhores. Profissional e pessoalmente.

Há algum aspeto adicional que queira referir?

Nada de especial. A não ser que continuamos a crescer e estamos a crescer há cinco anos consecutivos. E isso é uma alegria para mim e para a equipa que faz o favor de me acompanhar e trabalhar duro. E para a minha Comissão Executiva, que me acompanha em todas as decisões e momentos mais e menos complexos. Estamos a crescer em proximidade, em resultados, em atividade. E em humanismo.

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»»»» José Crespo de Carvalho é licenciado em Engenharia  pelo Instituto Superior Técnico, com MBA e Ph.D. em Gestão (ISCTE-IUL). Tem formação em Gestão no INSEAD (França), no MIT (Estados Unidos), na Stanford University (Estados Unidos), na Cranfield University (Reino Unido), na RSM (Países Baixos), no AIF (Países Baixos) e na IE (Espanha). É professor catedrático do ISCTE-IUL, presidente da Comissão Executiva do ISCTE Executive Education e administrador da NEXPONOR. Foi diretor e administrador da formação de executivos da Nova SBE e professor catedrático (Operations Management). Presidiu à Comissão de Risco (2013-2016) da Caixa Geral de Depósitos. Trabalhou extensamente como consultor para várias empresas nacionais e internacionais, tem vários livros e papers publicados e seminários/ conferências realizados.

O ISCTE Executive Education foi a primeira escola de negócios de formação de executivos, associada a uma universidade, a nascer em Portugal, em 1988, fruto da iniciativa de várias personalidades, com destaque para Eduardo Gomes Cardoso. É com a história e com a experiência que procura criar futuro, acreditando que é «a primeira na forma de fazer singular e em variadas áreas do conhecimento e a primeira na maneira como co-desenha programas e se relaciona com as empresas e os participantes e, assim, entrega». Acredita ainda «ser a primeira na ligação à imensa base empresarial real, a primeira no lado aplicacional que a caracteriza», sendo que «é esse lado aplicacional que a faz assinar Real-Life Learning».