A posição de uma empresa relativamente ao trabalho remoto é cada vez mais um fator que influencia a tomada de decisão no que toca a um novo trabalho ou até na função atual. Esta é uma característica que se destaca na hora de decidir e é cada vez mais valorizada em comparação com muitos outros fatores.
Rita Simões, lead operations manager da Kelly, questionada com a juvenilidade do novo fenómeno, que é o trabalho remoto, explica que «efetivamente não é nenhuma novidade, desde 2015 temos visto um grande investimento em Portugal de serviços partilhados, mas foi com a pandemia que esta ideia de trabalho remoto veio a consolidar-se».
Questionado acerca dos dados atuais sobre as diferentes situações dos colaboradores, Gonçalo Hall, chief executive officer (CEO) da NomandX, afirma: «18% da força de trabalho, em Portugal, trabalha remotamente. Algo impensável em 2019, quando o trabalho remoto ainda era mal visto. Estamos a normalizar o trabalho remoto. O que é curioso é que há um aumento de 5,5% em relação ao último trimestre de 2022. Temos agora quase um efeito de pendulo, no sentido contrário ao efeito pós-pandemia, em que existe um aumento das pessoas que trabalham em casa. A nível mundial, entre três e cinco anos, 30% da força de trabalho estará a trabalhar de forma remota.»
Deste modo, é necessário perceber qual é que pode ser o papel das empresas portuguesas nesta nova fase do mundo laboral e, ainda, olhar para os diferentes resultados que esta modalidade pode trazer, tanto para as empresas como para os colaboradores. É, por isso, um grande desafio para as empresas portuguesas.
«A única forma de serem competitivas na atração e retenção de talento é oferecer flexibilidade. E quando falamos em flexibilidade não é aquele híbrido de três ou dois dias ou com tempo obrigatório», diz Gonçalo Hall. «O trabalho remoto é uma nova metodologia de trabalho, é completamente diferente de trabalhar no escritório, completamente contra o presentarismo e é primariamente assíncrona. Ironicamente o trabalho remoto é muito mais centrado no ser humano e muito mais centrado nas necessidades do indivíduo.»
Sobre trabalhar para fora do país a partir de casa, Rita Simões afirma: «Os benefícios são claros. Em primeiro lugar temos um vencimento mais elevado do que a média praticada no mercado nacional, em segundo, temos literalmente um mundo de possibilidades. A verdade é que não temos de nos cingir às ofertas de emprego que existem unicamente no nosso país. Além disso, tendo em consideração que tudo isto é remoto, dá-nos a possibilidade de ter um work-life balance que é incomparável.»
Gonçalo Hall apresenta também o outro lado: «Há desafios. A cultura de start-ups dos Estados Unidos é uma cultura em que é normal uma pessoa trabalhar 50 a 60 horas por semana e isto não acontece em Portugal. Na América esta cultura de hustling é normal e muito vincada, então também temos de ter em conta a cultura das empresas para onde trabalhamos, para não termos estes choques culturais, que são um dos maiores desafios.»
Assim, com a importância cada vez maior de um work-life balance bem estabelecido é necessário manter o diálogo relativo às diferentes dinâmicas laborais para que cada colaborador se sinta bem recebido e uma peça fundamental dentro da organização, independentemente do registo laboral. A par disto, o trabalho remoto, quer para empresas nacionais, quer para empresas internacionais, não parece deixar de ser uma tendência e aparenta vir a tornar-se numa exigência dos colaboradores na hora de tomada de decisão.
Este tema, assim como outros relacionados com o universo laboral, está em discussão no podcast HumanaMente Falando da Kelly, aqui.