Esqueça um pouco o Burnout, preocupe-se com o Burnin

Nos últimos anos, especialmente desde o advento da pandemia, tem-se falado muito sobre a Síndrome de Burnout. Reconhecida como um fenómeno dos tempos atuais, esta síndrome foi oficializada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença crónica, ligada ao trabalho e incluída na nova Classificação Internacional de Doenças, que deve entrar em vigor a 1 de janeiro de 2022.

Texto: Celso Crecco

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A expressão não existe ainda no campo da Saúde, mas um pouco mais adiante neste artigo vai-se perceber do que se trata.

Nos últimos anos, especialmente desde o advento da pandemia, tem-se falado muito sobre a Síndrome de Burnout. Reconhecida como um fenómeno dos tempos atuais, esta síndrome foi oficializada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença crónica, ligada ao trabalho e incluída na nova Classificação Internacional de Doenças, que deve entrar em vigor a 1 de janeiro de 2022.

O Burnout é percebido como uma situação de profunda exaustão física, causada pelas horas excessivas de trabalho, que do cansaço mental levam ao estado de esgotamento mental. Quando a fronteira entre o cansaço e o esgotamento é ultrapassada, entra-se no terreno das doenças e distúrbios mentais, levando, muitas vezes, ao afastamento do colaborador por via de uma baixa médica.

Não por outra razão, cada vez mais empresas estão a preocupar-se com o Burnout e o seu impacto junto dos colaboradores. É claro que esta preocupação com o bem-estar físico e emocional das equipas deverá ser um princípio inegociável para qualquer gestor de recursos humanos.

Mas é também legítimo reconhecer que, para além da importância do bem-estar do colaborador, um afastamento devido a doença implica custos adicionais para a empresa e para o sistema de saúde do país.

No entanto, o Burnout é visível. Ele manifesta-se, e pode ser evitado. Um controlo qualitativo das dinâmicas de trabalho das equipas, aliado a um controlo quantitativo das horas alocadas por cada colaborador na execução de suas tarefas, são duas medidas que em muito já podem mostrar-se eficazes para evitar esta síndrome.

Mas, e quando o inimigo da saúde mental é invisível, ao ponto de praticamente ser impossível de ser identificado? Quando assim o é, estaremos perante um Burnin.

É disso que se trata a pesquisa Epidemia da Solidão, o mais abrangente estudo feito em Portugal para investigar a possível existência de um fenómeno que levou a Inglaterra a criar um Ministério da Solidão, ideia que foi seguida recentemente pelo Japão e que tem sido objeto de estudo em outros países.

O termo «epidemia» surge quando o governo da então primeira-ministra Theresa May identifica que cerca de 15% da população inglesa, economicamente ativa e a viver normalmente em seus círculos sociais, se declarava solitária. Essa identificação tornou-se necessária quando o governo passou a identificar uma crescente procura por remédios e tratamentos para a saúde mental, por parte de pessoas que aparentemente não se enquadrariam no conceito de «solitárias».

No Brasil, onde uma pesquisa semelhante também foi realizada, não apenas o fenómeno da Epidemia da Solidão se mostrou presente, como se mostrou também mais incidente na faixa etária dos 24-34 anos, algo que poderia soar estranho a quem considerasse que é nesta faixa etária que estão os universitários e os jovens que iniciam uma carreira profissional, que se casam e que têm filhos.

O estudo feito em Portugal traz dados estatísticos sobre a presença da Epidemia da Solidão no país, mas principalmente aponta para os chamados 6 Espectros que qualificam as condições que levam a esse estado de solidão, não aquela que foi causada pelo confinamento da pandemia, mas um estado de solidão derivado de um sentimento de andar desacompanhado de si mesmo.

Não seria prudente ignorar os impactos recentes da pandemia num fenómeno como a solidão e no estado de espírito que esta provoca. A questão é que esse estado de espírito já estava presente há muito, apenas estava também silencioso.

O Burnin pode ser muito mais nocivo do que o Burnout. Percebê-lo e enfrentá-lo talvez veja a ser o próximo desafio das empresas cujos gestores estejam convictos de que nada substituirá o ser humano no papel central de tornar as empresas melhores, para que o resultado seja uma sociedade cujas relações sejam, também, melhores.

Nesse cenário, haverá protagonistas e espectadores. Ambas as posições estão em aberto. Cabe, a cada gestor, escolher em qual cadeira se vai sentar.

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»»»» Celso Grecco, consultor e escritor, é porta-voz do mais recente estudo do Rep.Circle – The Reputation Platform em Portugal sobre a solidão no nosso país e o impacto desta na saúde da sociedade e das empresas. Alguns highlights interessantes sobre este estudo são os seguintes:

– em média, 6 em cada 10 pessoas sentem-se infelizes ao fazerem coisas sozinhas, cenário mais preocupante nas camadas jovens (16-25 anos), em que esse sentimento sobe para 7 em 10 pessoas;

– ao mesmo tempo, um terço dos inquiridos sente-se excluído por outras pessoas, manifestando a perceção de que as relações podem ser meramente utilitárias (novamente, o sentimento na faixa 16-25 anos sobe para 41%);

– o estudo demonstra igualmente alguma dependência das plataformas digitais, com metade dos entrevistados a reconhecer sentir ansiedade por respostas a mensagens enviadas (na faixa etária mais jovem, esse número sobe para 60%).