Um testemunho dos tempos da pandemia numa tecnológica portuguesa com forte presença internacional. E um olhar otimista para 2021: «não vamos ficar a aguardar o fim da pandemia para traçar o nosso rumo», assegura Ângela Santos, chief human resources officer (CHRO) da Abaco Consulting.
Texto: Redação «human»
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Como caracteriza a atividade da Abaco em Portugal?
A Abaco Consulting foi fundada em 2004 e tem a sua sede no Porto, bem como escritórios em Lisboa. Somos considerados uma referência a nível nacional na consultoria de software de gestão SAP, e temos uma equipa composta, atualmente, por cerca de 150 consultores em Portugal (250 em todo o grupo). O negócio da Abaco está focado em três áreas-chave: implementação de sistemas de informação SAP, (líder mundial em software de gestão), serviços de suporte aplicacional em modelo neashore e formação em SAP através da nossa unidade Academy.
Por outro lado, a Abaco detém, em Portugal e no Brasil, o mais elevado nível de parceria SAP: Gold Partner como Value Added Reseller. Para os clientes, este reconhecimento significa que a Abaco é um parceiro SAP de topo para as áreas de desenvolvimento, implementação, serviços e suporte.
Para além disso, a empresa tem apostado ainda nas áreas de investigação, de forma a implementar projetos inovadores e criar novos produtos, nomeadamente no desenvolvimento de soluções verticais por área de negócio.
A combinação das competências de excelência em tecnologia SAP, conjugada com o conhecimento acumulado relativamente aos verticais com que a empresa trabalha – Construção, Têxtil, Indústria Alimentar e Automotive –, permite à Abaco posicionar-se como a referência para os clientes destes sectores para o desenvolvimento das melhores soluções para o seu negócio.
Têm também atividade noutras geografias?
Sim, desde sempre que a Abaco tem vindo a realizar uma aposta no desenvolvimento de competências que permitam implementar projetos em todo o mundo, sendo que já desenvolvemos mais de 500 projetos, em Portugal, Brasil, Reino Unido e Suíça, onde temos escritórios, e também em países como Espanha, Alemanha, Bélgica, Holanda, Angola, Cabo Verde, África do Sul, Canadá, Estados Unidos, Colômbia, Argentina, Turquia, Egipto e Singapura. O crescimento internacional, suportado principalmente através da operação no Brasil, tem permitido consolidar a sua estratégia de enfoque no mercado «Manufacturing & Operations», que se consubstancia no endereçamento vertical de sectores estratégicos como confeção, calçado e têxtil, onde lidera, engenharia e construção, automóvel e alimentar.
A internacionalização é assim uma parte importante no futuro da Abaco a médio e longo prazo. Além de consolidarmos a nossa presença nas geografias onde estamos, queremos também avaliar novas. Essa escolha estará sempre ligada à apreciação das condições de abertura ao investimento estrangeiro, em geral, e em dois aspetos específicos, fiscal e laboral, para além da prospeção de oportunidades de negócio e parcerias locais.
A nossa estratégia assentará sempre na exploração dos sectores verticais onde somos fortes e na conquista de clientes internacionais para o nosso centro de suporte, em Portugal. Por outro lado, a nossa aposta na excelência das soluções e das implementações que temos vindo a desenvolver é o melhor cartão-de-visita que temos, para além da satisfação que os nossos clientes internacionais nos manifestam relativamente aos projetos desenvolvidos. Não esquecendo que apenas conseguimos obter este sucesso se tivermos uma equipa altamente qualificada e motivada que nos permite desenvolver e implementar as melhores soluções nos nossos clientes.
Como olham para o vosso mercado, para as suas necessidades, e ao mesmo tempo para o talento que podem ter à disposição para cumprirem a vossa missão?
Consideramos que este é um sector que está em crescimento, até pelo investimento que tem sido feito nesta área. O lado bom de 2020 é que ficou marcado pelo grande impulso tecnológico a que assistimos e pela maior aposta das empresas em digitalizar os seus processos, que numa situação normal teria sido mais lento, e sobretudo pelo maior reconhecimento desta necessidade que permitiu não só o desenvolvimento de novos negócios bem como a modernização de quase todos os verticais.
Desta forma, sentimos por parte do mercado um acelerar dos processos de transformação digital, o que constitui uma oportunidade de crescimento para muitas organizações. No decorrer do ano de 2020, apesar do contexto da pandemia e do impacto económico em alguns sectores, conquistámos novos clientes. o que nos permite encarar o futuro com otimismo.
Em relação ao talento, existe, e agora ainda mais, uma dificuldade em reter pessoas, dada a complexidade que existe atualmente no mercado e à constante competitividade que se instalou nas organizações pela procura do melhor talento. Por outro lado, também é cada vez mais difícil encontrar talentos especializados que satisfaçam os nossos requisitos. Neste sentido, consideramos que a melhor forma de conseguir reter os nossos talentos é fazê-los sentir em casa, ou seja, integrá-los na nossa organização e demonstrar que são uma peça fundamental para nós.
É importante responder às necessidades dos nossos colaboradores como um todo, respeitando e olhando para todas as esferas das suas vidas e tentar ao máximo promover o seu desenvolvimento pessoal e profissional de forma saudável. Mas, sobretudo, é essencial que o colaborador se reveja na cultura organizacional da empresa, e para tal é importante criar um ambiente de trabalho saudável e de cooperação, o que é determinante para que exista um grau de compromisso emocional com a empresa. Ouvi-los atentamente e, por último, e não menos importante, envolvê-los nas decisões da organização.
Que balanço faz da forma como têm atravessado o período da pandemia?
Este ano foi sem dúvida o mais desafiante, sobretudo pela constante incerteza com que nos deparámos, mas apesar desta situação a Abaco Consulting teve uma evolução positiva na sua faturação em 2020, quer em Portugal, quer no Brasil, em grande parte devido ao crescimento consolidado dos projetos internacionais em que a empresa se encontra envolvida. Soma-se ainda o lançamento de diversas iniciativas de negócio que têm como objetivo reforçar as operações da empresa nos verticais de mercados em que opera diretamente, ou naqueles para os quais exporta serviços. Em particular destaque, o reforço no sector automóvel em Portugal e o sector têxtil, vestuário e calçado no Brasil.
O trabalho remoto tem sido uma realidade? Como tem sido gerido? E como era gerido anteriormente?
Desde sempre que convivemos com a mudança e a flexibilidade, e por isso a Abaco é uma empresa que se adapta rapidamente. Por inerência dos serviços que presta, já tinha, desde sempre, equipas a trabalhar no escritório ligadas remotamente a alguns dos seus clientes, bem como alguns colaboradores a trabalha a partir de casa, em atividades de suporte num modelo nearshore. Por isso, já dispúnhamos de algumas ferramentas de software, sistemas e infraestruturas de comunicação para apoio a trabalho remoto, o que nos permitiu encarar esta situação de uma forma mais rápida e proactiva, colocando de imediato os nossos colaboradores em home office. No entanto, para aplicar esse modelo a toda a organização, rapidamente e sem preparação, apesar de estarmos habituados a conviver com processos de mudança, foi necessário suprir algumas dificuldades criadas por esta situação de emergência.
A pandemia serviu para nos pôr à prova. Sentimos que a equipa se mobilizou (e continua a mobilizar) em torno dos clientes. Com humildade e tranquilidade perante as variáveis que não dominamos, mas muita solidariedade e resiliência entre nós e com as pessoas dos clientes, estamos a aprender onde estão as nossas fragilidades para nos prepararmos para o futuro. Desde a digitalização de alguns processos, passando por mais comunicação e intencionalidade nessa comunicação, melhorando a partilha e a colaboração entre as equipas, até ao repensar da nossa oferta e da nossa estratégia, esta crise também acabou por criar espaço. Espaço para nos tornarmos ainda melhores.
Que estratégias têm desenvolvido junto das pessoas e das equipas para as motivarem para estes tempos?
A motivação não depende tanto da forma de trabalho presencial ou remota. A motivação depende da união da equipa (não tanto da presença física). Depende de uma liderança próxima, confiante, transparente. A proximidade sempre foi nosso apanágio e isso consegue-se com algumas rotinas e envolvendo as pessoas (nas decisões, nas soluções, nas ações). A confiança nas nossas pessoas sempre foi parte integrante da nossa maneira de estar. A transparência, a comunicação, é agora um desafio maior. É preciso passar mais informação, dar mais contexto, ser mais claro. Temos algumas ferramentas que nos vão ajudar nesta tarefa: para além do trabalho que fazemos nas redes sociais, temos um jornal interno, semanal, que será um bom elo de ligação. Temos as ferramentas Microsoft, com os sites internos de partilha de informação, partilha de conhecimento. Nós estamos certos de que a crise vai passar e sairemos mais fortes da mesma, mas é preciso levar essa tranquilidade à equipa. Se mantivermos um comportamento cauteloso e fizermos tudo o que está ao nosso alcance para minimizar os riscos, se tivermos a criatividade para saber ler as oportunidades, e soubermos continuar a seguir o nosso rumo, a nossa estratégia, com as correções necessárias que advêm desta situação, e se soubermos aproveitar o capital humano que temos, seguramente sairemos todos mais motivados, após a superação desta crise.
É igualmente importante que entre cliente e fornecedor, parceiro e concorrente se estabeleçam laços de solidariedade ao invés de cada um procurar estratégias de sobrevivência individual. O sucesso na superação desta crise só pode ser coletivo, nunca individual. Mais do que nunca, cuidemos uns dos outros e estejamos atentos aos mais frágeis.
O que destaca a nível de segurança e saúde no trabalho?
Temos um sistema para gerir toda a contingência e a informação, bem como a situação de cada colaborador, nesta crise do Coronavírus (a SafeMed), o que nos permitiu monitorizar todas as incidências e atuar em conformidade. A linha Safemed, da Abaco, incorpora poderosas ferramentas de apoio à realização de processos de gestão, inerentes à atividade de segurança e saúde no trabalho (SST), que ajudam as empresas a gerir o estado dos colaboradores, assim como os planos de contingência.
Ao determos uma poderosa e flexível ferramenta de software de gestão de SST, o Safemed, foi nosso objetivo utilizar a sua flexibilidade para a remeter para um problema que, atualmente, atinge toda a sociedade. Assim, através desta solução pretendemos possibilitar que qualquer organização, independentemente do seu tamanho, possa obter, de forma rápida e intuitiva, uma visão geral da sua situação atual e de como o Covid-19 está ou poderá estar a afetar os seus colaboradores. Ajudar e incentivar as empresas a tomar medidas mais seguras e que possam reduzir o risco de contágio, salvaguardando a segurança de todos, mas possibilitando, ao mesmo tempo, a sua atividade, é o que pretendemos proporcionar aos nossos clientes e parceiros.
De destacar que esta é uma solução desenvolvida internamente no Grupo Abaco e que já conta com dezenas de clientes a nível nacional.
Pode referir uma ou duas práticas de recursos humanos destes últimos tempos?
Penso que a principal prioridade é não nos focarmos em voltar, entre aspas, ao que era antes, mas sim adaptarmo-nos a uma nova realidade, com novas exigências, mas o mais importante é continuarmos a entregar aos nossos clientes o nosso trabalho com o mesmo nível de qualidade. É possível que as principais mudanças que iremos sentir sejam no modo como as empresas se irão relacionar, com clientes, parceiros ou com colaboradores.
Acho que já conseguimos todos perceber que somos igualmente eficientes em modo remoto, pelo que o teletrabalho aumentará consideravelmente e assistiremos a uma diminuição do espaço útil de trabalho nos escritórios. Na mesma linha, o facto de haver menos deslocações vai permitir um aumento de interações diárias e o ritmo com que tomamos (ou recebemos) decisões irá acelerar. Perspetivo alguma pressão na capacidade de entrega e na necessidade de existirem ferramentas que nos permitam acompanhar esse ritmo.
O mais importante continua a ser a comunicação com os colaboradores, os clientes e os parceiros. Neste momento, é importante que se continue a dar primazia à comunicação interna e se passe mensagens que incentivem a tranquilidade e ajudem as pessoas a manter a saúde mental e física e o foco no que temos para fazer. Agora, mais do que nunca, é importante demonstrarmos aos nossos colaboradores que, para nós, o mais importante são as pessoas e o seu bem-estar. É igualmente importante que entre cliente e fornecedor, parceiro e concorrente se estabeleçam laços de solidariedade ao invés de cada um procurar estratégias de sobrevivência individual. O sucesso na superação desta crise só pode ser coletivo.
Há várias iniciativas em que estamos a trabalhar, especificamente na adaptação a uma nova forma de trabalho num modelo híbrido, onde o relacionamento cruzado entre pessoas de várias equipas e contextos é um desafio importante a superar.
Fizeram contratações no último ano? Que perfil de pessoas querem ter na empresa?
Sim, fizemos, e este ano também o estamos a fazer. Este ano, estamos a prever continuar a apostar nas nossas áreas de formação, assim como aumentar as nossas equipas em mais de 40 talentos, nomeadamente no reforço de todas as diferentes áreas de consultoria SAP (Logística, Financeira, Recursos Humanos, Programação).
Estes tempos têm sido os mais desafiantes na gestão das pessoas, e também na gestão da empresa?
Sim, sem dúvida. No entanto, estamos confiantes de que este ano será globalmente positivo para o mercado das tecnologias de informação, e muito também para os sistemas de gestão, que terão de se adaptar para responder aos novos desafios de negócio das empresas, mais flexíveis, móveis e imediatos. Neste contexto, os nossos objetivos para o próximo ano centram-se em três aspetos fulcrais: manter a evolução positiva registada nos últimos anos, consolidar a nossa presença internacional, em particular no Brasil, assim como reforçar a nossa aposta em nearshore services, que ganhou maior preponderância neste contexto de trabalho remoto.
Em primeiro lugar, acreditamos que este ano desenvolveremos novas oportunidades para explorarmos, seja em termos de verticais seja em termos de geografias. Acreditamos conseguir aumentar o volume de negócios em Portugal, mas especialmente no Brasil, ambicionando um crescimento global de dois dígitos. Em qualquer mercado, iremos continuar a apostar na diferenciação pela especialização vertical dos mercados e pela capacidade de implementar soluções tecnológicas inovadoras, em que somos pioneiros, como no SAP S/4HANA e outras soluções assentes em tecnologias cloud e mobilidade.
Nos últimos quatro anos, a nossa estratégia esteve centrada em reforçar a nossa presença no Reino Unido e na Suíça, assim como no Brasil, onde há uma enorme margem de progressão. Estes investimentos permitiram-nos estar assim mais próximos dos nossos clientes e destes mercados tão importantes. Em 2021, projetamos consolidar o crescimento nos mercados internacionais, contudo, com um especial enfoque em nearshore services, na medida em que estes serviços ganharam maior relevância neste contexto da pandemia e estas geografias assumem um papel relevante como plataformas de base local para prestação destes serviços.
Por fim, a Abaco Consulting nasceu no berço do tecido industrial português, no Porto, onde desde o início a sua aposta foi nas empresas de cariz industrial, onde ganhou experiência, conhecimento e competências específicas dos sectores de atividade. A sua estratégia de enfoque nas áreas de «Manufacturing & Operations» ganha hoje particular relevância na medida da necessidade que estas áreas e as respetivas organizações têm de se transformar digitalmente. Neste sentido, será um dos nossos objetivos para 2021, reforçar as nossas competências em «Manufacturing & Operations», através de formação específica dos nossos consultores mas também do aumento de portfólio de soluções nesta área, quer através de criação de soluções próprias quer através de parcerias.
Em suma, em 2021 não vamos ficar a aguardar o fim da pandemia para traçar o nosso rumo. Navegaremos na incerteza, mas com o rumo traçado.
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»»»» Ângela Santos, chief human resources officer (CHRO) da Abaco Consulting, é licenciada em Relações Internacionais Económicas e Políticas pela Universidade do Minho e tem um MBA em Gestão e Marketing na Porto Business School. Iniciou a sua carreira profissional na SGG – Serviços Gerais de Gestão (subsidiária Arthur Andersen), tendo posteriormente integrado a Accenture como consultora de sistemas de informação, na área de produtos e indústria. Em 2001 ingressou na CaseEdinfor (Grupo ACE), onde consolidou a sua experiência enquanto consultora de sistemas de informação no ERP SAP. Em 2004 fez parte do grupo de fundadores da Abaco Consulting, tendo desempenhado várias funções ao longo das fases de crescimento da empresa, desde a implementação e a gestão de projetos, passando pela responsabilidade pelas operações, até à função atual.
A Abaco Consulting tem a sua sede no Porto, bem como escritórios em Lisboa, São Paulo, Londres e Genebra. A empresa é considerada uma referência na consultoria de software de gestão SAP, sendo atualmente composta por cerca de 250 consultores especializados e tendo o seu negócio focado em três áreas-chave: implementação e manutenção de sistemas de informação SAP e desenvolvimento de produtos. A Abaco Consulting já opera atualmente em três continentes, nas diversas soluções SAP (SAP S/4 HANA, SAP Business All-in-One e SAP Cloud Solutions) e com as suas próprias soluções.