Uma rentrée diferente

Ainda que existam poucos estudos sobre o tema, é consensualmente aceite que o regresso ao trabalho após as férias pode levar a que as pessoas se sintam menos entusiasmadas e energizadas. Este ano, devido ao contexto de pandemia vivido desde março, o retorno à atividade profissional é forçosamente diferente. Alguns de nós regressam não apenas às tarefas e responsabilidades habituais, mas também ao local de trabalho, após alguns meses de teletrabalho. Outros manter-se-ão a trabalhar a partir de casa.

Texto: Mariana Pinto Ramos/ Nuno Sousa

 

É importante abordar o tema de duas perspetivas: i) quais as condições que as organizações podem proporcionar para assegurar um contexto em que as pessoas se sintam bem, e ii) o que é que cada pessoa pode fazer nesse mesmo sentido.

Se recuarmos apenas um ano, preparávamo-nos para mais um regresso à rotina. Um ano volvido, deparamo-nos com uma situação inédita, que se assemelha ao início de um trabalho novo, obrigando ao planeamento antecipado de medidas de segurança, de distanciamento social e de novos hábitos no regresso ao local de trabalho. É normal, portanto, que estejamos apreensivos com este regresso, não só pelo contexto em si (nunca antes vivido), mas também pelo desconhecimento das medidas a adotar.

É dever da empresa assegurar aos colaboradores que se desloquem às suas instalações, condições de segurança e de saúde, tendo em conta os princípios gerais de prevenção e adotando as medidas que decorram da lei ou instrumento de regulamentação coletiva de trabalho, conforme disposto nos artigos 127, n.º 1, alíneas g) e h) do Código do Trabalho e no artigo 15 do Regime Jurídico da Promoção da Segurança e Saúde no Trabalho.

No contexto jurídico-laboral, as problemáticas associadas a estas medidas são diversas, não só porque, por um lado, se impõem obrigações legais de garantir a segurança e a saúde dos colaboradores, mas, por outro lado, essas obrigações têm de ser conciliadas com o direito à privacidade e à proteção de dados e cabe, igualmente, aos colaboradores, cooperar e cumprir com as orientações da empresa, sob pena de responsabilidade disciplinar. Daí que a assessoria laboral seja, nesta fase, imprescindível.

Por fim, deixamos algumas recomendações que todos podemos adotar neste contexto de rentrée pós-férias:

– Informe-se sobre o Plano de Contingência da empresa, antes de regressar. Esteja preparado(a) para adotar as novas práticas e saiba o que fazer, nomeadamente quanto aos procedimentos de entrada, saída e circulação na empresa e organização dos tempos de trabalho.

– Encurte a sua primeira semana de trabalho. Caso seja possível, recomece numa quarta ou quinta-feira, para ajudar o momento de transição.

– Introduza novas ideias. Muitas pessoas refletem sobre o trabalho durante as férias. O regresso é uma altura ótima para implementar novas formas de fazer as coisas.

– Reserve as primeiras horas para planear o trabalho. Identificar as tarefas prioritárias irá permitir que a semana decorra melhor, mas também contribui para elevar a motivação para fazer mais.

– Filtre os seus e-mails. Considerando o assunto, identifique aqueles que precisa de responder hoje, durante esta semana, ou depois.

– Faça quebras no período de trabalho. No primeiro dia é expectável que seja mais difícil concentrar-se nas tarefas. Faça intervalos (ainda que curtos) e saia do seu local de trabalho, ou da sua mesa da sala, à hora de almoço.

– As férias terminaram, mas as interações sociais continuam a ser fundamentais para o bem-estar individual. Agende tempo para estar com quem esteve nas férias ou com quem gosta de estar, não esquecendo as medidas de segurança impostas pela pandemia.

Seja paciente e vá com calma… O síndroma pós-férias não irá durar para sempre (nem a pandemia).

 

 

»»»» Mariana Pinto Ramos é associada sénior da Área Laboral da sociedade de advogados Vieira de Almeida (VdA); Nuno Sousa é partner da SHL Portugal.