Historicamente a psicologia, nomeadamente a psicologia organizacional, sempre teve um carácter mitigativo. Reduzir os aspectos negativos provocados por factores como stresse, desmotivação, insatisfação com o trabalho, conflitos, apenas para referir alguns exemplos, sempre foi o foco dos investigadores e práticos na área. O surgimento da Psicologia Positiva vem propor uma alteração total relativamente a este tipo de abordagem.
Texto: Leonor Almeida
A afirmação da psicologia positiva como ciência percorreu um longo caminho devido ao facto de estar muitas vezes associada a uma imagem mais popular, comercial e de senso comum da psicologia. Contudo, o cenário tem mudado radicalmente nas últimas décadas. Actualmente existe uma extensa e sólida literatura de base científica validada pela publicação de investigações nas mais conceituadas revistas internacionais bem como as mais prestigiadas universidades do mundo contemplam este tópico nos seus programas de comportamento organizacional.
Ao invés de lidar destrutivamente com os erros cometidos, procurar e desenvolver a melhor versão do ser humano torna-se um imperativo nas organizações actuais. Desta forma, a Psicologia Positiva acentua aspectos como, por exemplo, o optimismo, a resiliência, a felicidade, o bem-estar, a criatividade, o humor e a gratidão.
O objectivo da psicologia organizacional positiva, como defendem Miguel Pina e Cunha e outros autores que com ele escreveram um brilhante livro intitulado «Organizações Positivas», é «identificar as qualidades dos indivíduos, ajudá-los a encontrar formas de organização e trabalho que lhes permitam tirar o máximo proveito das suas capacidades e criar ambientes organizacionais facilitadores do crescimento psicológico» (Pina e Cunha et al., 2007, p.69).
Mantermo-nos optimistas face ao futuro, com coragem para enfrentar obstáculos, com esperança e autoconfiança, é um desafio diário que em tempos de incerteza se torna quase numa questão de sobrevivência para enfrentar a mudança. Os processos de mudança organizacional são extremamente difíceis de implementar, devido a uma grande diversidade de factores, sendo um dos mais estudados a resistência das pessoas à mudança. Mudar, mesmo que seja para melhor, implica ir para uma zona desconhecida, perder o controlo de algo que dominamos sendo esta perda de controlo geradora de ansiedade. Havendo muitas variações inter-individuais pode-se, contudo, identificar uma resistência generalizada à mudança organizacional que se acentua com o aumento da idade.
A incerteza face ao futuro, muito ampliada pelos tempos de incerteza em que vivemos com o fenómeno do Covid-19, vem mais que nunca ao encontro da necessidade das pessoas aprenderem a se sentirem optimistas face ao futuro sem se deixar abater. E como conseguir tal desafio? Desenvolver, trabalhar os aspectos positivos das pessoas como uma elevada autoestima, elevada auto-eficácia generalizada, locus de controle interno e estabilidade emocional, poderá ser um dos caminhos, mas um caminho que não é fácil, é árduo e longo. Mas como conseguir esta tomada de consciência e foco nos aspectos positivos se o nosso cérebro, desde os primórdios, está preparado para detectar o perigo, aquilo que poderá correr mal e é ameaçador? Será que podemos educar o nosso cérebro?
Martin Seligman, uma referência incontornável em Psicologia Positiva, alerta para a importância que nas últimas décadas os conhecimentos em neurociências nos forneceram na compreensão deste tópico, como por exemplo, que o estado padrão do cérebro é assumir que o controle não está presente, e a presença de helpfulness é o que realmente é aprendido. Podemos então aprender.
Aprender os fundamentos científicos da Psicologia Positiva, conhecer as principais teorias e investigações no campo da psicologia positiva, bem como as suas oportunidades de aplicação, adquirir estratégias e ferramentas que permitam que indivíduos e organizações prosperem e aplicar os conceitos-chave da Psicologia Positiva à nossa própria vida pessoal e profissional, pode ser um dos caminhos para lidar com os tempos de incerteza que vivemos.
Os líderes têm um papel determinante nesta aprendizagem e na disseminação desta «cultura de optimismo e positividade» bem como a comunicação tem um papel determinante em todo este processo. Uma boa comunicação interna nas organizações é fundamental para conseguirmos implementar este modelo e obtermos bons resultados e o bem-estar dos colaboradores. Aumentamos ainda o valor fazendo a conjugação destes conceitos com os processos de comunicação nas organizações, numa interação que se pretende profícua e inovadora. Daí, a importância da conjugação entre a Psicologia Positiva e a Comunicação nas organizações, no sentido de se conseguir implementar um modo de ser assente em boas práticas e bem-estar organizacionais, que são tão importantes para o reforço do propósito e da vida de cada empresa e que agora mais se sente em tempos de incerteza.
»»»» Leonor Almeida é coordenadora da pós-graduação «Comunicação e Psicologia Positiva» da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa. Segue o antigo acordo ortográfico.