People business partner da Sage Portugal, empresa tecnológica onde ingressou em 2004 na área de recursos humanos, Fernanda Marmelo explica como têm gerido estes tempos de pandemia, com a totalidade dos colaboradores em trabalho remoto e sempre apoiando clientes e parceiros de negócio.
Texto: Redação «human»
Como têm gerido a situação na Sage, nomeadamente os colaboradores, nestes tempos de pandemia?
Na Sage, rapidamente compreendemos que esta situação seria grave e viria a alterar a forma como vivemos e trabalhamos. Assim, o primeiro esforço que levámos a cabo foi o de entender esta crise sanitária, bem como a dimensão e o impacto que poderia ter em todos nós. Não foi difícil definir as nossas prioridades: em primeiro lugar, tínhamos que salvaguardar as nossas pessoas e as suas famílias, tanto do ponto de vista da saúde, como de outras dificuldades que poderiam surgir mediante as circunstâncias de cada um. Ainda antes de todo este processo ter verdadeiramente arrancado em Portugal, as nossas equipas de Health & Safety e de People prepararam um plano de contingência, que foi sendo comunicado fase após fase, conforme o desenrolar dos acontecimentos – era muito importante que toda a empresa estivesse sempre informada sobre a evolução da situação e as medidas tomadas, tanto a nível global, do Grupo Sage, como local, de acordo com as orientações do governo. Preparámos os colegas para uma eventual situação de trabalho remoto, que acabou por acontecer, para 100% da empresa, a 11 de março, antes mesmo de ser declarado o estado de emergência nacional.
Uma vez em casa, verificámos as condições para o desenvolvimento do trabalho e identificámos as necessidades de cada função, com planos de backup bem definidos para assegurar a continuidade do negócio. Pudemos então focar-nos também na nossa segunda maior prioridade: a continuidade do apoio aos nossos clientes e parceiros de negócio, para quem criámos planos específicos. Até este momento, mantemo-nos sempre alerta, seguindo planos que nos permitem adaptar-nos e corrigir o rumo das nossas ações, pois estamos a lidar com algo desconhecido que vamos descobrindo a cada dia.
Por outro lado, trabalhando a partir de casa, há que assegurar a proximidade e o contacto regulares entre os colegas, para que todos se sintam acompanhados. Ao longo do tempo, com o confinamento prolongado, o encerramento das escolas, as empresas a fechar ou em lay–off, as novas circunstâncias do quotidiano foram de alguma forma afetando os nossos colegas, aumentando as suas preocupações e níveis de cansaço e stress, que procuramos aligeirar levando a cabo iniciativas internas de proximidade e apoio.
Pode partilhar algumas dessas iniciativas?
Refiro o «Sage Virtual Get Together», um momento informal de interação, conversa e partilha entre todos, que se tem revelado importante pois permite-nos interagir olhos nos olhos, perceber se estão bem, ouvir e responder a qualquer dúvida ou preocupação que possam ter.
Também um ciclo de conversas entre o nosso country manager, Josep María Raventós, e as várias equipas, com o objetivo de perceber como está cada uma a adaptar-se a esta realidade e as suas eventuais necessidades, dúvidas e preocupações que possam ser colmatadas.
E ainda o projeto Families@Sage, um fórum dirigido a todos os colegas que lidam com o desafio de dividir os seus dias entre os deveres profissionais e o acompanhamento aos filhos, que estão também em casa. Temos muitos colegas nesta situação e assim, entre si, partilham dicas e boas práticas para lidar com esta nova realidade e apoiam-se mutuamente.
O trabalho remoto foi a solução, mas não uma novidade…
O trabalho remoto não é uma novidade na Sage, pois já o promovíamos há muito tempo. Primeiro, como solução para colegas que ocupam cargos globais ou que, estando sedeados em Portugal, vivem fora das cidades onde temos escritórios, Porto e Lisboa – estes desenvolvem o seu trabalho permanentemente a partir de casa. Por outro lado, foi também uma das medidas que adotámos com sucesso para dar resposta à necessidade de conciliação da vida pessoal e profissional, promovendo o aumento da satisfação e do bem-estar dos nossos colegas, ao permitirmos que trabalhassem alguns dias por semana a partir de casa. Esta experiência dotou-nos do conhecimento e do equipamento necessários para o exercício do trabalho remoto e assim, como já referi, optámos voluntariamente por implementá-lo a 100% uma semana antes de ser declarado o estado de emergência nacional, pela segurança de todos. Nesta situação de crise, em particular, foi a solução ótima para conseguirmos salvaguardar a saúde e a segurança dos nossos colegas, e ao mesmo tempo garantir o exercício das nossas funções de apoio e suporte a clientes e parceiros, sem qualquer restrição.
Em termos globais, como tem sido a experiência de trabalho remoto na instituição?
Podemos dizer que tem sido uma boa experiência, com resultados positivos para a empresa. Em primeiro lugar, porque a decisão de adotar o teletrabalho a 100% foi muito bem acolhida por todos os colegas, que se sentiram cuidados – compreenderam que era uma decisão voluntária da empresa para a sua proteção e das suas famílias. Foi um gesto que promoveu a tranquilidade e a motivação necessárias para se manterem focados no seu trabalho. Por outro lado, o facto de termos uma forte infraestrutura tecnológica, que nos permite oferecer todos os equipamentos e todas as condições necessárias para esta situação, assegura a possibilidade de todos exercerem a suas funções sem constrangimentos, o que é determinante para cumprirmos a nossa missão enquanto empresa: dar continuidade ao negócio. No entanto, as condições em que o trabalho remoto é exercido neste momento, no âmbito desta crise, é um grande desafio para todos os colegas, principalmente para os que são pais e mães e que têm de dividir o seu tempo entre as obrigações profissionais e o acompanhamento aos filhos. Para os ajudar nesta tarefa, temos incentivado a que façam uma gestão com bastante flexibilidade, tanto dos períodos de trabalho como dos horários, para evitarem o stress e a pressão e conseguirem conciliar as várias atividades.
Os vossos colaboradores ainda estão todos em trabalho remoto?
Neste momento sim. Temos os nossos 200 colaboradores (100% da nossa empresa em Portugal) em teletrabalho, sem exceção.
Era muito importante que toda a empresa estivesse sempre informada sobre a evolução da situação e as medidas tomadas, tanto a nível global, do Grupo Sage, como local, de acordo com as orientações do governo. Preparámos os colegas para uma eventual situação de trabalho remoto, que acabou por acontecer, para 100% da empresa, a 11 de março, antes mesmo de ser declarado o estado de emergência nacional.
Que reações tem havido por parte dos colaboradores?
Quando decidimos – acreditamos que atempadamente – colocar 100% da empresa em teletrabalho, recebemos feedback muito positivo por parte dos nossos colegas, esta medida foi muito bem recebida por todos. Na Sage damos muita importância ao feedback interno; como tal, lançámos há cerca de um mês um inquérito para avaliar o grau de satisfação face à resposta que estamos a dar a esta crise. As respostas foram ótimas, foi muito gratificante para nós perceber que os colegas se sentem muito orgulhosos por termos posto a sua saúde e a sua segurança, bem com das suas famílias, em primeiro lugar, e pela forma como estamos a utilizar a nossa solidez financeira para apoiar os nossos parceiros e clientes.
Está a ser preparada a retoma da actividade normal?
Estamos conscientes de que nada será como dantes, e por isso preparados para a adaptação àquilo que for a chamada nova normalidade; neste momento, continuamos a desenvolver o nosso negócio com recurso ao teletrabalho. Por uma questão de segurança, e porque neste momento ainda ninguém consegue prever o que irá acontecer, não temos definida uma data de regresso ao trabalho presencial no escritório, mas já estamos a desenvolver um plano para esse efeito. Sabemos que, quando quer que aconteça, este regresso será necessariamente gradual e respeitando as normas de segurança. Estamos completamente alinhados com as indicações do Governo e das autoridades de saúde, pelo que continuaremos a zelar pelo bem-estar dos nossos colegas de todas as formas que estiverem ao nosso alcance, sem descurar as responsabilidades que temos para com os nossos parceiros de negócio e os nossos clientes.
O vosso negócio foi de alguma forma afectado?
Esta pandemia está a afetar as empresas de todo o mundo, e mesmo aquelas que ainda não estão a sentir efeitos diretos nos seus negócios, certamente vão senti-los a médio ou longo prazo. Em Portugal, os nossos clientes e parceiros fazem parte, na sua maioria, das PME [pequenas e médias empresas] portuguesas, ainda que disponhamos de uma carteira de clientes bastante diversificada e distribuída pelos vários segmentos de negócio – assim, temos vindo a observar um impacto, maior ou menor, em cada um deles, o que naturalmente se traduz, para já, num impacto relativamente pequeno no nosso negócio, o que sabemos ser inevitável. A Sage é, no entanto, uma empresa multinacional com uma estrutura muito robusta e uma capacidade financeira muito sólida, o que nos coloca numa situação mais favorável para enfrentar esta crise.
…
Sendo que, depois dos colegas, a nossa prioridade são os nossos clientes e parceiros de negócio, percebemos desde logo que teríamos que trabalhar em colaboração estreita, mais do que nunca, para em conjunto enfrentarmos esta crise e o seu impacto. Criámos equipas multidisciplinares que, juntamente com as equipas de vendas, vão definindo iniciativas e projetos para assegurar ajuda aos clientes para que se mantenham em atividade. A nossa capacidade financeira tem-nos permitido criar condições especiais que, com o suporte dos nossos parceiros – eles têm sido excecionais nesta luta –, fazemos chegar aos nossos clientes, atendendo às necessidades de cada um. Estas necessidades também têm mudado devido ao contexto em que nos encontramos, exigindo-nos que reinventemos o negócio, e para isso temos contado com a disponibilidade e o forte sentido de responsabilidade de todos os colegas. Temos vindo a reorientar alguns deles para novas atividades, tendo em conta as competências de cada um, para reforçar equipas que vão tendo mais solicitações de trabalho. Posso dizer que estamos em estado de sítio, mas a trabalhar com a vontade e a energia que são tão características da equipa da Sage em situações difíceis. Estamos a colaborar como nunca, e apesar de distantes fisicamente sentimo-nos extremamente unidos e acreditamos que vamos vencer esta guerra, assegurando os nossos postos de trabalhos e os negócios dos nossos parceiros e clientes.
Se ser uma tecnológica nos pode ter ajudado a saber lidar melhor com esta situação em termos de adaptação à nova realidade e à continuidade do negócio, o fator crítico e realmente diferenciador é a capacidade de entrega, a qualidade e o profissionalismo das pessoas que constituem esta equipa coesa, corajosa e determinada.
A empresa tem de alguma forma procurado contribuir para a sociedade nestes tempos, nomeadamente potenciando a responsabilidade social?
Como é sabido, contamos com a Sage Foundation, o nosso projeto de responsabilidade social corporativa, e procurámos desde logo adaptar as nossas habituais atividades de solidariedade a esta nova realidade. No que toca ao voluntariado, e para contextualizar, devo dizer que desde que lançámos este projeto em Portugal, em 2016, oferecemos aos nossos colegas a oportunidade de dedicarem cinco dias por ano, em horário laboral, a atividades solidárias. Na impossibilidade de continuarmos com essas normais atividades, para proteção dos nossos colegas e das organizações com que colaboramos, lançámos um novo modelo: o voluntariado virtual. Há cerca de um mês lançámos a primeira iniciativa de voluntariado virtual, denominada «FireSide Chats», que consistiu, numa primeira fase, em conversas entre os nossos colegas e vários empreendedores sociais que estão neste momento a levar a cabo projetos solidários para apoiar os grupos mais vulneráveis. A ideia é envolvermos os nossos colegas nessas iniciativas, para que conheçam o projeto nesta fase e possam depois colaborar ativamente. A Sage Foundation dispõe também de um fundo monetário para apoiar financeiramente, todos os anos, várias organizações sem fins lucrativos. Estamos neste momento a finalizar um projeto neste âmbito, para apoiar uma ONG [organização não-governamental] portuguesa que se dedica ao apoio de pessoas sem-abrigo.
Quais têm sido os grandes desafios de liderança nestes tempos?
Sem dúvida que vivemos um momento excecional e que ninguém, nenhuma empresa ou nenhum profissional, estava preparado para lidar com os efeitos colaterais desta realidade. O papel dos líderes é sempre crítico para o sucesso das organizações, mas neste momento ele é ainda mais determinante. Costuma dizer-se que «nos momentos mais difíceis é que se conhecem as pessoas», e penso que se aplica claramente neste caso. Vivemos num ambiente de insegurança, incerteza e de grande risco, tudo mudou à nossa volta e cada pessoa reage e lida com estas circunstâncias à sua maneira, por isso o que se pede a quem lidera é que seja um exemplo e crie as condições para que as suas equipas se sintam seguras e protegidas, tenham flexibilidade para apoiar as suas famílias e estejam orientadas e focadas no que é essencial. Com uma liderança sólida, as equipas prosseguem a sua vida e o seu trabalho com muita resiliência e coragem, mesmo nestas condições diferentes e mais desafiantes, sentindo que fazem parte de um todo. E este todo decidiu não baixar os braços e ir à luta para vencer esta guerra, fazendo tudo para não ter baixas. É o que pedimos aos nossos líderes: que, alinhados com a nossa cultura e a nossa estratégia, coloquem os colegas em primeiro lugar e não percam de vista o objetivo em paralelo de apoiar e suportar os nossos parceiros e clientes; que consigam vencer as dificuldades adicionais do distanciamento e as restantes condicionantes deste contexto, mantendo as suas equipas unidas; que estejam disponíveis para as mudanças que é necessário fazer e que contribuam para reinventarmos o nosso negócio e sairmos desta crise reforçados. Acreditamos nos nossos líderes e na sua capacidade de nos conduzirem neste processo, de forma que acreditamos que vamos sair desta situação ainda mais unidos e preparados para enfrentar o futuro.
O facto de serem uma empresa tecnológica tem facilitado de alguma forma a gestão desses desafios?
Penso que a forma como se enfrenta e gere os desafios tem mais a ver com a cultura interna da empresa, com os valores nos quais ela se alicerça e que promovem as atitudes e os comportamentos que são visíveis no dia-a-dia da organização. Estes valores não se demonstram apenas na forma como as pessoas agem e interagem umas com as outras, mas também na forma como se faz o negócio. Em suma, se ser uma tecnológica nos pode ter ajudado a saber lidar melhor com esta situação em termos de adaptação à nova realidade e à continuidade do negócio, o fator crítico e realmente diferenciador é a capacidade de entrega, a qualidade e o profissionalismo das pessoas que constituem esta equipa coesa, corajosa e determinada que é a Sage Portugal.
»»»» Fernanda Marmelo é people business partner da Sage Portugal, tecnológica onde ingressou em 2004 na área de recursos humanos. Em 1980 iniciou a licenciatura em Psicologia na Universidade Clássica de Lisboa, que concluiu em 1985. Ao longo do seu percurso profissional na área de recursos humanos, na qual conta com mais de 30 anos de experiência, passou por diversas empresas do sector. Em 2000 foi convidada para ingressar na Deloitte & Touch, no Porto, na equipa de human capital. Durante esta experiência, complementou a sua formação profissional com um MBA na Escola de Negócios Eudem, em Espanha, e adquiriu diversas outras competências comportamentais (soft skills).