Vantagens de liderar à distância

O recrutamento está a tornar-se cada vez mais complexo. A escassez global de talentos e o acesso a perfis com grupos de competências relevantes e atualizadas constituem os maiores desafios que as empresas de recursos humanos e de recrutamento em geral enfrentam nos dias de hoje. É por isso que oferecer opções independentes do local de trabalho pode contribuir para aumentar a contratação de executivos.

Texto: Ana Castro Dias

 

Os empregadores que oferecem opções de trabalho remoto tornam possível para os futuros líderes, de qualquer parte do mundo, candidatarem-se sem terem necessidade de se deslocar geograficamente. Isto é particularmente importante para os colaboradores que referem que a opção de trabalho remoto tem um forte impacto na decisão de mudança de organização.

A contratação remota permite ampliar a escolha da oferta do talento. Na última década tem-se observado uma clara tendência de maior flexibilização do local de trabalho para os executivos seniores, que não só permite a expansão das opções de contratação como proporciona melhor equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal, um fator cada vez mais valorizado pelos profissionais. Nos últimos tempos, as organizações e os seus líderes tornaram-se mais flexíveis do que eram há 10 anos relativamente ao trabalho remoto, e mais conscientes do impacto positivo que este modelo de organização traz para os colaboradores e as respetivas famílias.

Apoiado pela tecnologia, este modelo de funcionamento tem-se tornado cada vez mais amplo, abrangendo cada vez mais a força de trabalho em geral e não apenas os executivos, e esta parece ser uma tendência em desenvolvimento para os próximos anos. Neste sentido, as empresas vão ter de aprender a lidar com os novos profissionais que valorizam o bem-estar e condições mais humanas de trabalho, e os líderes vão ter de procurar formas para dar às suas equipas mais flexibilidade, investindo em soluções tecnológicas que permitam garantir a sua produtividade, independentemente do momento e do local onde se encontrarem a trabalhar.

Liderar à distância é uma das grandes tendências da organização do trabalho que traz novos desafios aos colaboradores e aos responsáveis de equipas. Mas retirar vantagens da liderança remota e minimizar ao mesmo tempo os riscos de uma equipa que não está presente fisicamente todos os dias no mesmo espaço, depende de certos fatores, o principal dos quais é a cultura da empresa. Construir e manter relações fortes com as pessoas, reunir «cara a cara» ainda que virtualmente e definir regras transparentes, comunicando de forma constante, estão na base de uma forte cultura empresarial que parece ser a chave para que este modelo funcione.

Se trabalhar remotamente tem aspetos muito atrativos e parece ser um mar de rosas, também levanta algumas questões mais complicadas e espinhosas, nomeadamente no que toca à comunicação. Reunir as pessoas para uma reunião, quando não estão localizadas no mesmo local, significa navegar constantemente em diferentes fusos horários e mentalidades, o que pode originar uma comunicação mais lenta ou até criar conflito e algum caos.

Quando as reuniões pessoais não são possíveis ou são pouco práticas, os executivos podem aproveitar a tecnologia para simplificar o trabalho remoto, usando, por exemplo, vídeo conferência, 5G e smart phones que permitem que os colaboradores vejam e interajam em tempo real onde quer que estejam. Mais uma vez, a cultura é a pedra angular, e os executivos devem incorporar a comunicação no seu trabalho diário de forma a garantir o engagement entre as equipas.

De acordo com um estudo do Future Workplace de 2018, quanto mais amigos um colaborador sentir que tem no trabalho, mais tempo permanecerá na empresa. 43% dos trabalhadores remotos referiram que mais tempo de contacto visual poderia promover relacionamentos mais profundos entre a equipa, enquanto oito em 10 consideram que teriam melhores relacionamentos se a sua equipa reforçasse a comunicação. Isso significa que enquanto líder, pode promover uma comunidade, mesmo que seja on-line e através da tecnologia, que é inestimável para manter a comunicação simplificada através da distância.

O valor económico do trabalho remoto, em conjunto com expectativas transparentes de liderança, ajuda as empresas a não apenas atrair, mas também a reter os melhores talentos. De acordo com um estudo da Universidade de Stanford, o trabalho remoto pode aumentar a retenção de colaboradores. As pessoas que trabalham fora do escritório têm 50% menos probabilidade de mudar da empresa onde estão. Também de acordo com uma análise da Buffer, 90% dos colaboradores planeia trabalhar remotamente para o resto das suas carreiras e 94% incentivam ativamente outros a trabalhar desta forma.

Em suma, uma estratégia de trabalho remoto bem-sucedida pode ser exponencialmente gratificante para os empregadores, funcionários e recrutadores. A chave é manter uma forte cultura interna da empresa, onde os futuros líderes criam laços com a sua equipa e as empresas mantêm uma abordagem coesa e comprometida com os colaboradores. Isto começa a partir do momento em que o candidato entra na sala de entrevista.

 

 

»»» Ana Castro Dias é manager da Michael Page em Portugal para Secretarial & Management Support. A Michael Page é uma das mais conhecidas e respeitadas consultoras de recrutamento do mundo. Estabelecida há mais de 40 anos no Reino Unido, tem atualmente 140 escritórios em 35 países. Destaca-se em recrutamento e seleção a nível especializado de quadros médios e superiores, para projetos de carácter permanente e temporário, sendo constituída por consultores especializados, com formação e experiência profissional nas áreas para as quais recrutam.