No âmbito de um projeto levado a cabo pela AICEP em Madrid, a consultora WINNING realizou um estudo para identificar os principais desafios do processo de internacionalização das empresas portuguesas no mercado espanhol. As conclusões gerais deste estudo foram apresentadas no início deste mês, na residência do embaixador de Portugal, Francisco Ribeiro de Menezes, em Madrid. Em antecipação da primeira cimeira luso-espanhola, marcada para o próximo mês de novembro, estiveram reunidos neste encontro mais de 40 empresários, sendo o debate marcado pelas oportunidades e pelos desafios de empresas nacionais a operar em Espanha.
O volume e o peso das relações comerciais de Portugal com Espanha tem aumentado nos últimos anos, significando uma maior interligação entre as duas economias. De acordo com dados da AICEP, Espanha é o principal mercado para o comércio português de bens e serviços, tendo representado 20,9% das exportações totais em 2017. O número de empresas portuguesas exportadoras para Espanha tem registado uma tendência crescente, tendo 6.768 empresas exportado para Espanha em 2017, o que representa um aumento de 21% face ao ano anterior. A estrutura das exportações de bens portugueses é constituída, fundamentalmente, por veículos e material de transporte, produtos agrícolas, metais comuns, vestuário e plásticos e borracha.
No âmbito do estudo realizado pela WINNING, Leandro Ferreira Pereira, chief executive officer (CEO) da WINNING e professor do ISCTE, refere: «Espanha é o principal parceiro comercial de Portugal, quer em termos de exportações, quer a nível de importações. Estamos perante um mercado que nas duas últimas décadas registou uma importância crescente para um número cada vez maior de empresas portuguesas. A título de exemplo, no que respeita ao comércio de bens, Espanha é o primeiro cliente de Portugal, tendo representando 25,2% das exportações portuguesas em 2017. Em vésperas da primeira cimeira luso-espanhola, é importante fazer os políticos olhar para estes dados e é importante incentivar e apoiar o tecido empresarial a criar processos de inovação e atividades de I&D+i [investigação, desenvolvimento e inovação]. Só desta forma se reúnem as condições necessárias para garantir a sustentabilidade e impulsionar o crescimento de forma internacionalmente competitiva.»
Gonçalo dos Santos Rodrigues, diretor do Departamento de Estratégia da WINNING, que liderou a realização do estudo, afirma: «É curioso que a principal motivação para as empresas nacionais investirem no mercado espanhol seja, em teoria, também o seu maior desafio: a dimensão do mercado é, de acordo com estudo, o principal fator para a tomada de decisão de investimento, assim o afirmam 30% das empresas inquiridas (sendo que 47% têm este fator como primeira opção), mas é também essa dimensão a principal barreira à operação, na medida em que se trata de um mercado mais competitivo, com mais concorrência e onde a capacidade de diferenciação é menor. 41% das empresas afirmam que o principal desafio à sua operação em Espanha é a competitividade e escala necessária para prosperar no mercado.»
Para vencer estes desafios, o Leandro Ferreira Pereira assinala: «A agressividade concorrencial é tida como o maior desafio à competitividade das empresas portuguesas que pretendem operar em Espanha, mas a marca portuguesa é uma marca muito forte, nas suas múltiplas vertentes, e os empresários espanhóis reconhecem o valor da marca ‘made in Portugal’. Por um lado, os incentivos fiscais e a flexibilidade laboral são muito apreciados pelas empresas e pelos agentes económicos. Paralelamente, a proximidade geográfica e cultural, o contexto histórico secular e a facilidade de comunicação pesam muito nas relações bilaterais entre estes dois países, pelo que os portugueses têm que saber retirar partido destes ativos, fazendo da inovação, da criatividade e da qualidade a bandeira de afirmação dos nossos produtos, serviços e talentos.»
O estudo teve como principal conclusão que as chaves para o sucesso de qualquer negócio não dependem de encontrar um mercado sem concorrentes, mas sim de saber definir a posição que cada empresa vai ocupar nesse mercado. Os empresários portugueses reconhecem que têm de investir em processos de inovação racional e disruptiva, alinhados com as estratégias de cooperação traçadas para as relações ibéricas. Leandro Ferreira Pereira diz ainda: «A falta de flexibilidade torna qualquer negócio vulnerável, fá-lo perder competitividade no mercado. Os empresários têm de estar sempre atentos à identificação de novas oportunidades e nichos de mercado. Em paralelo, devem saber antecipar as incumbências, respeitar a concorrência e acima de tudo conhecer profundamente os seus clientes, para com isso contornar com sucesso os obstáculos.»