Manuel Sommer: «Somos pessoas no trabalho e profissionais na vida pessoal.»

O psicólogo clínico Manuel Sommer, com formação tanto em Portugal como no estrangeiro e com experiência profissional em vários países, fundou e dirige a CAPA empresas, instituição pioneira por cá em programas de apoio a empregados (EAPs). É membro fundador da EAEF – Employee Assistance European Forum, de cuja direção fez parte.

Por António Manuel Venda

 

Como tem sido a sua experiência mais recente no trabalho com as empresas, sobretudo ligado ao bem-estar dos respetivos colaboradores?

A experiência tem sido frutífera e construtiva. Temos vindo a apresentar um conjunto de soluções práticas e tangíveis que têm trazido mais-valias às empresas e sobretudo aos seus colaboradores. Estas soluções são sempre ao nível das necessidades das empresas e muito centradas no cliente. São construídas em conjunto, daí terem um potencial vencedor muito elevado, visto enquadrarem-se na cultura de cada organização.

Nota diferenças em relação àquilo que encontrava há alguns anos?

Noto. Hoje em dia as empresas têm mais vontade de identificar e expressar o que necessitam e de irem à procura de satisfazer necessidades dos seus colaboradores, e também de integrarem as melhor práticas nacionais e internacionais na sua cultura organizacional.

Como é falar de temas como bem-estar dos colaboradores, felicidade no trabalho, stress, etc a empresários e gestores de topo?

Confesso que se tornou um pouco mais fácil, sendo que sinto os empresários e os gestores mais acessíveis e sensibilizados para estes temas. Sinto e observo que hoje em dia percebem muito mais e melhor que o bem-estar no trabalho e a gestão proactiva das necessidades dos colaboradores  têm um reflexo positivo na produtividade, no desempenho, nos resultados, no clima organizacional e em inúmeros outros indicadores de performance. Ainda, como as empresas modernas hoje em dia se encontram com os quadros de pessoal muito afinados, cada colaborador psicologicamente doente – doente entre aspas – tem um potencial impacto negativo bastante grande. Sinto daí que existe cada vez uma maior compreensão para a importância da prevenção e da intervenção proactiva, a fim de reduzir ao máximo os riscos.

Eles próprios sentem esse problema em relação aos seus casos pessoais?

Sim, aquela separação antiga entre a vida pessoal e a vida profissional já não faz sentido nos dias que correm. Nós hoje somos pessoas nos locais de trabalho e somos profissionais na nossa vida pessoal. Os problemas que temos, os desafios e as dificuldades que enfrentamos no dia-a-dia, acompanham-nos para todo o lado, estão sempre connosco. Mais vale a empresa enfrentá-los do que recalcá-los.

E a generalidade dos colaboradores, como veem estas questões?

As taxas de utilização têm vindo a subir nos últimos anos, o que reflete que as pessoas estão a perder o medo de pedir ajuda. Claro que a nossa política e a garantia de confidencialidade são essenciais e muito exigentes e rigorosas. As pessoas têm confiança de que nada de pessoal passa para a gestão, somente os dados gerais de utilização objetiva. O ROI [return on investment, retorno do investimento] é elevado e a melhoria e o impacto da intervenção são medidos e quantificados.

A sociedade em que vivemos coloca desafios importantes neste âmbito?

Sim. A sociedade tem cada menos respostas coletivas à sua disposição. Observa-se uma deslocação do público para o privado, do assistencialismo generalista para uma cultura de responsabilização do indivíduo e das empresas como care-takers. O duty-to-care das empresas é cada vez mais uma realidade.
Como se sente a trabalhar estes temas em Portugal?

Estes temas representam um grande desafio, e sinto-me muito bem, sinto que a recetividade é cada vez maior. É um prazer notar cada vez mais empresas a verem na CAPA Empresas um partner de confiança e à altura das necessidades que têm e do que procuram. Sinto que temos vindo a merecer esta confiança nos últimos 15 anos e a construir relações duradouras e fortes, tanto com parceiros nacionais como internacionais.

Que experiência colheu do seu percurso em organizações internacionais ligadas a esta área?

Tenho estado ligado nos últimos quase 20 anos a esta área. Tenho a felicidade e o orgulho de ter cofundado a EAEF – Employee Assistance European Forum em 2001, que é a organização europeia dentro desta área. Tem mais de 25 países membros e organizamos um congresso anual que tem sido muito participado. Sou igualmente membro da EAPA – Employee Assistance Professional’s Association, dos Estados Unidos, que é a maior organização profissional dentro do sector. Tenho ido regularmente aos congressos anuais, inclusive apresentei duas palestras no congresso de novembro passado, em Chicago. Orgulho-me de poder divulgar as melhores práticas do nosso país.

 

 

>>> Manuel Sommer fundou a CAPA Empresas em 1999, sendo atualmente o seu diretor. A CAPA Empresas encontra-se licenciada pelo Ministério da Saúde e registada na Comissão Nacional de Proteção de Dados. Foi pioneira na introdução dos EAPs (Programas de Apoio a Empregados) em Portugal e tem vindo a ser um parceiro estratégico para múltiplas empresas nacionais e internacionais nas áreas de wellness, saúde e bem-estar, work-life balance, formação e consultoria neste âmbito. Avaliação de riscos psicossociais, stress e engagement, são outras das suas áreas de intervenção. Tem cobertura nacional de todos os seus serviços.