Nos últimos 12 meses, o sector tecnológico viveu uma mudança que muitos julgavam improvável nesta década: despedimentos em larga escala, travão súbito na contratação e, sobretudo, a sensação de que a inteligência artificial (IA) alterou as regras do jogo de um dia para o outro.
Texto: Daniela Costa Imagem: Freepik
Durante anos, a tecnologia viveu um período de escassez de talento. Hoje, o debate faz-se noutra direção: como garantir empregabilidade num mercado onde algumas funções passam a ser executadas, com eficácia, por máquinas?
Por boa parte da última década, empresas tecnológicas disputavam juniores acabados de sair da universidade. Era um mercado em que praticamente todos tinham emprego garantido. Contudo, a entrada massiva da IA generativa trouxe um novo paradigma: tarefas antes atribuídas a perfis juniores – testes, documentação ou desenvolvimento simples – podem agora ser realizadas de forma automatizada, desde que supervisionadas por alguém mais experiente.
Perfis seniores e intermédios veem assim a sua capacidade multiplicada. E quando um profissional mais experiente produz o que antes exigia vários juniores, o mercado ajusta-se.
O choque é maior entre os jovens que iniciaram um curso superior há cinco anos, atraídos pela promessa de salários competitivos e empregabilidade imediata. Ao saírem da universidade, encontram um mercado mais seletivo e exigente e enfrentam uma concorrência inesperada, isto é, ferramentas altamente eficientes que desempenham parte das tarefas que antes seriam suas.
Há ainda um desafio adicional: esta nova geração aprende a programar com IA desde o primeiro dia. Ao contrário dos profissionais que foram treinados na lógica e na algoritmia sem qualquer suporte, estes estudantes não desenvolveram – ou estão a desenvolver de forma diferente – o «treino mental» associado à resolução de problemas complexos, que continua a ser o núcleo da engenharia.
Por isso, a competência crítica para estes novos profissionais não será dominar uma linguagem ou uma framework, mas a criatividade, a capacidade de formular problemas e de pensar para além do óbvio – áreas onde a IA continua (e continuará) a depender do ser humano.
O que as empresas de TI – e de outsourcing em particular – precisam de mudar
O impacto da IA não se limita ao recrutamento. Afeta também o modelo de prestação de serviços. Empresas que fornecem equipas ou horas de trabalho a clientes poderão ver a sua estrutura transformada. Uma tarefa que hoje exige 20 ou 30 pessoas poderá, num futuro próximo, ser realizada com uma equipa muito mais pequena, equipada com ferramentas de IA e com profissionais altamente qualificados a supervisionar, validar e planear. Não é um cenário distópico. É a evolução natural da maturidade tecnológica.
Contudo, há algo que permanece inalterado: o valor da supervisão humana. Sem alguém capaz de avaliar decisões, interpretar contextos, validar resultados e corrigir desvios, a tecnologia cai no caos. A IA aumenta capacidade, mas não substitui responsabilidade.
Perante este contexto, a pergunta que importa fazer é simples: o que distingue quem terá sucesso profissional nos próximos anos?
A resposta, segundo a visão da Eurotux, resume-se a cinco princípios:
- Dominar as ferramentas de IA – não como curiosidade, mas como parte integral do dia a dia.
- Ser rápido a adaptar-se – identificar tendências, perceber o que tem valor real e não diluir tempo em tudo o que surge.
- Pensar estrategicamente – perceber o impacto da tecnologia no negócio, não apenas na tarefa.
- Focar-se na entrega de resultados – princípio eterno que não muda com a inovação.
- Ter humildade profissional – aceitar que o mercado mudou e que é necessário aprender continuamente.
A IA não vai acabar com empregos no sentido tradicional da palavra. Mas vai eliminar funções, transformar processos e reconfigurar equipas. A empregabilidade do futuro será construída à volta do talento humano, não para competir com a IA, mas para trabalhar com ela.
Quem aprender a integrar estas ferramentas no seu quotidiano profissional terá uma vantagem competitiva difícil de igualar. Quem as ignorar enfrentará barreiras que nenhuma área tecnológica enfrentou desde o início da transformação digital.

Daniela Costa, Chief Operations Officer (COO) da Eurotux

A Eurotux, juntamente com a Dipcode , a Eurotux UK e a Eurotux Brasil, formam o Grupo Eurotux, especialista em planeamento, integração e implementação de sistemas de TI (tecnologias de informação), oferecendo soluções desenvolvidas de acordo com as necessidades dos clientes. Fundada em 2000, sempre aliou excelência técnica e científica a uma gestão prudente. Essa abordagem tem facilitado um crescimento constante, sustentado por uma sólida posição patrimonial e resultados financeiros impressionantes, que incluem fortes indicadores de liquidez e solvência, o que lhe rendeu inúmeros prémios e reconhecimentos.
