O papel da IA na diversidade e na inclusão no local de trabalho 

Texto: Joana Oçiveira/ Luísa Rebelo Cima: Imagem: Freepik/ rawpixel.com

Neste sentido, a inteligência artificial (IA) surge como uma ferramenta poderosa para transformar e otimizar processos, incluindo a promoção de diversidade e inclusão. Ao integrar IA nos processos de gestão de pessoas, as organizações podem aumentar a objetividade, corrigir preconceitos inconscientes e melhorar a tomada de decisões.

A IA pode ser uma aliada importante no recrutamento, ajudando a eliminar preconceitos ao analisar candidaturas sem considerar características pessoais como género, idade ou etnia. Os algoritmos focam-se exclusivamente nas competências e habilidades dos candidatos, proporcionando um processo mais imparcial e justo. Esta abordagem pode ajudar as empresas a alcançar uma diversidade maior no seu pool de candidatos e garantir que as seleções se baseiem em critérios objetivos e relevantes.

Além disso, a IA é útil na monitorização de padrões de viés no ambiente de trabalho, como em processos de promoção, feedbacks ou avaliações de desempenho. Ao analisar esses dados, é possível detetar casos de discriminação ou tendências de favorecimento inconscientes. A IA oferece relatórios detalhados, permitindo às organizações tomar medidas corretivas e criar um ambiente mais equitativo.

Ferramentas de IA, como assistentes virtuais e softwares de transcrição automática, também são essenciais para promover a inclusão de pessoas com deficiências. Esses recursos permitem que colaboradores com limitações auditivas ou motoras desempenhem as suas funções de forma mais eficiente e integrada, adaptando o ambiente digital e garantindo que todos tenham as mesmas oportunidades de participação.

No entanto, a IA não está isenta de desafios. Os algoritmos, ao serem alimentados com dados históricos, podem perpetuar preconceitos invisíveis. Por exemplo, se os dados de treino do algoritmo de recrutamento contiverem uma predominância de homens brancos em cargos de liderança, o sistema pode favorecer candidatos com esse perfil, perpetuando o viés. Isto reforça a necessidade de treinar a IA com dados diversificados e de monitorizar constantemente os resultados para garantir a equidade.

Outro desafio da IA é a falta de sensibilidade cultural. Embora seja uma ferramenta poderosa, a IA ainda enfrenta dificuldades em compreender as complexidades culturais e sociais das interações humanas. Em ambientes de trabalho globalizados e multiculturais, a IA pode não captar completamente as nuances de comportamentos e expressões de diferentes culturas, o que pode resultar em interpretações imprecisas e decisões que não respeitem a diversidade cultural.

O desenvolvimento cada vez mais veloz da IA, ao longo dos últimos anos, tem despertado a curiosidade dos utilizadores, onde se começam a incluir, necessariamente, as empresas, enquanto empregadores. O legislador laboral não tem ficado indiferente a esta realidade, tendo, ao longo das últimas alterações legislativas operadas em matéria laboral, demonstrado preocupação na regulação da utilização da IA em determinadas matérias.

Evidência disso mesmo é, desde logo, o facto de o Código do Trabalho estabelecer que o direito à igualdade de oportunidades e de tratamento no acesso ao emprego, formação, promoção e condições de trabalho se aplica igualmente às decisões baseadas em algoritmos ou outros sistemas de inteligência artificial.

Neste contexto, a primeira preocupação do legislador, em matéria de Direito Laboral, é que os empregadores garantam que a utilização de IA não resulte em qualquer tipo de discriminação direta ou indireta dos trabalhadores.

Paralelamente, um dos deveres de informação do empregador recentemente adicionados foi exatamente o de indicar os parâmetros, os critérios, as regras e as instruções em que se baseiam os algoritmos ou outros sistemas de inteligência artificial que afetam as tomadas de decisões sobre o acesso e manutenção do emprego, assim como as condições de trabalho, incluindo a elaboração de perfis e o controlo da atividade profissional. Este dever de informação por parte do empregador é igualmente direcionado às comissões de trabalhadores e delegados sindicais.

Criou-se, assim, uma «obrigação de transparência» no que diz respeito à utilização de ferramentas de inteligência artificial quanto a todos estes aspetos, que terá como objetivo a possibilidade de os trabalhadores anteciparem o impacto deste tipo de ferramentas nas suas relações laborais.

Pese embora a regulação das ferramentas de IA ainda seja incipiente em matéria laboral, denota-se uma preocupação sobre o seu potencial impacto nas relações de trabalho e antevê-se que as alterações legislativas passem a debruçar-se cada vez mais sobre estas matérias, preocupação que será, de resto, transversal a vários ramos do Direito.

Exigir-se-á das empresas uma adaptação à evolução da IA, tanto no plano prático como regulatório, a qual, dependendo da forma como for encarada, poderá trazer inúmeros benefícios ao mercado de trabalho.

A IA tem o potencial de desempenhar um papel transformador na promoção da diversidade e inclusão no local de trabalho, desde que seja utilizada com consciência e responsabilidade. A tecnologia oferece soluções para remover preconceitos, promover a equidade e tornar os ambientes de trabalho mais acessíveis e inclusivos. No entanto, é fundamental que as empresas monitorizem o uso da IA para evitar a perpetuação de viés e garantir que os sistemas sejam construídos de forma ética e responsável e em estrito cumprimento da legislação.



Joana Oliveira
, Consultant da SHL Portugal





Luísa Rebelo Cima
, Senior Associate Lawyer da Vieira de Almeida (VdA)


A SHL Portugal é uma empresa de consultoria estratégica e de tecnologia para a gestão do talento, representante das soluções do Grupo SHL, que tem uma posição de destaque mundial em assessment talent analytics. Opera em cinco países de língua portuguesa e trabalha com centenas de organizações, dos sectores público e privado. Após celebrar 45 anos em 2024, continua a apostar na investigação e na inovação tecnológica aliada à inteligência artificial (IA).

A sociedade de advogados Vieira de Almeida (VdA) é uma organização vibrante e inquieta, inovadora, que se afirma nas aspirações de um coletivo que quer ser parte ativa da solução para os desafios sociais e ambientais que enfrentamos enquanto sociedade, mobilizando pelo exemplo de respeito, justiça e humanidade. Orgulhosa da sua história, a VdA constrói o futuro assente numa cultura que a distingue e que une em torno de um desígnio comum. Uma cultura fundada na consciência de que a cidadania é a âncora da sua prática e que faz dela uma organização aberta, inclusiva e solidária, focada nas pessoas e na justa oportunidade de realização de cada uma.

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