Vivemos tempos curiosos. Nunca se falou tanto em atrair talento e, paradoxalmente, nunca foi tão fácil perdê-lo. O aumento da rotatividade entre os mais jovens não se deve, como tantos ainda insinuam, à falta de vontade de trabalhar. Muito pelo contrário. Saem porque sabem exatamente o que querem. E se aquilo que encontram no terreno não faz sentido, não ficam para «dar uma hipótese».
Texto: João Silva Santos Imagem: Freepik
Para estas gerações, o trabalho deixou de ser apenas uma obrigação. É uma extensão da sua identidade. E quando exigem equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional, não estão simplesmente a pedir menos carga horária. Estão a exigir coerência entre os seus valores e os da organização que representam.
Se alguém acredita na sustentabilidade, na inclusão ou na justiça social, dificilmente permanecerá num ambiente onde esses princípios são ignorados, ou pior, explorados como fachada. Por muito atrativo que seja o salário. Por muito prestigiado que pareça o cargo. Quando há desalinhamento entre aquilo em que se acredita e aquilo que se é chamado a defender, o desfecho é previsível: começa a contagem decrescente até à saída.
Apesar disto, muitas empresas continuam a cair na armadilha de escolher profissionais apenas pelo currículo ou pela disponibilidade imediata. Como se talento fosse algo que se substitui com a mesma facilidade que se troca uma peça de automóvel. É aqui que precisamos ser claros: nos dias de hoje, se o recrutamento não serve para ligar talento e propósito, está condenado ao fracasso.
O futuro pertence a quem consegue estabelecer a ponte entre o pessoal e o profissional. A quem compreende que uma boa integração não é apenas uma boa formação inicial, é um alinhamento real entre aquilo que a pessoa ambiciona e aquilo que a empresa representa.
O futuro pertence a quem consegue estabelecer esta ponte entre o pessoal e o profissional. A quem compreende que uma boa integração não é apenas uma boa formação inicial, é um alinhamento real entre aquilo que a pessoa ambiciona e aquilo que a empresa representa. Ignorar esta dimensão é perpetuar um ciclo de desgaste silencioso, em que o entusiasmo do primeiro dia rapidamente se transforma na desmotivação do segundo. E o onboarding, em vez de ponto de partida, torna-se a antecâmara da saída.
Este fenómeno é particularmente evidente em áreas como a hotelaria ou a restauração, onde a pressão operacional empurra decisões para o imediatismo. Mas o custo de não pensar estrategicamente em motivação, retenção e cultura é cada vez mais difícil de ignorar.
Está na altura de deixar de questionar «Quem está disponível?» para começar a perguntar «Quem faz sentido aqui?»
Porque quando o propósito está ausente, a saída torna-se inevitável. E nenhuma empresa avança verdadeiramente enquanto continua a reconstruir-se do zero, vezes sem conta.

João Silva Santos, Chief Executive Officer (CEO) da merytu

A merytu é uma plataforma digital, desenvolvida em maio de 2021, que nasceu para revolucionar a área dos recursos humanos no sector do turismo, especialmente focada para a hotelaria e a restauração. Esta aplicação ajuda a identificar talento na área de hospitality, através de um processo transparente, rápido e seguro para ambas as partes, trabalhadores como empresas. A startup veio apresentar no mercado nacional um método que tem como objetivo maior de eliminar processos burocráticos relativamente à pesquisa e à retenção de talento de forma praticamente imediata, baseada no mérito e no desempenho profissional dos trabalhadores, mas também das empresas que estão a recrutar.