João Franco

«Longe-do-equilíbrio», um paradigma de formação

Texto: João Franco  Foto: Freepik @peoplecreations

Quando falamos de organizações de excelência, o nome de Tom Peters e o seu best seller de 1982 «In Search of Excellence» parece-nos incontornável. Inspirado pelo sucesso económico das empresas japonesas, Peters enfatizou as culturas fortes e o lado humano das organizações como o «Santo Graal» da excelência. 20 anos mais tarde, as confissões de Peters de que os dados tinham sido forjados1 lançou um véu de suspeição sobre a consistência das suas lições. Afinal, eleger um fator e um one best way apenas seria possível manipulando dados e servindo um propósito: servir a sua consultora e criar uma ementa que vendeu três milhões.

Assim, parece que a excelência não é um mapa que nos ofereça caminhos seguros para a obter. A complexidade e os constantes jogos de tensões, a não linearidade (por exemplo, o dobro do investimento não gera necessariamente o dobro das receitas) e a imprevisibilidade estão muito mais garantidos «à partida» do que um mapa que nos aponte direções.

O racionalismo cartesiano com que alguns gestores tendem a construir elegantes estratégias de desenvolvimento dos seus talentos, e que ilustram reuniões e powerpoints, lida mal com a complexidade e com o caos.  É por isso que assistimos a decisões sustentadas num «racional» que está longe de ser partilhado e consensual. O mundo desmaterializado de hoje parece encontrar nos paradigmas da complexidade e do caos uma melhor representação do que a visão racionalista do mundo organizacional.

No seu livro «A Gestão do Caos», Ralph Stacey propõe um novo paradigma: é «longe-do-equilíbrio» que a inovação acontece e emergem fontes de vantagem competitiva. O novo paradigma postula a aceitação de paradoxos, isto é, a possibilidade de coexistência de contrários: é útil ser inútil, como propôs Ricardo Vargas; as «zonas de conforto» podem ser desconfortáveis; «longe-do-equilíbrio» significa simultaneamente equilíbrio e desequilíbrio.

A proposta da NBCC Academy é que pessoas e organizações aprendam nessas zonas «longe-do-equilíbrio» de que fala Stacey. Tomemos como exemplo os construtores de jogos. Estes sabem bem explorar a relação entre competência, exigência da ação e o seu grau de dificuldade: abaixo da competência é maçador, ou entediante, acima é ansiogénico e pode conduzir a um nível de frustração tão elevado que conduz à desistência. Os desempenhos aumentam em zonas fora do equilíbrio e do controlo, e longe das zonas de elevada ansiedade e desistência.

Como explorar este potencial de aprendizagem nos programas de formação, capacitação e desenvolvimento das nossas pessoas e equipas?

Na metáfora da vida como um jogo infinito (Simon Sinek), este modelo de relação entre performance e desafio é um bom guia para promover contextos facilitadores da maximização do desempenho das pessoas e equipas em contexto de formação. O modelo recomenda então focar duas dimensões:

1. uma avaliação criteriosa e uma decisão consciente da homogeneidade/ heterogeneidade dos níveis de conhecimento dos participantes nas ações; que as expectativas e os métodos pedagógicos estejam alinhados com essas decisões;

2. a identificação de promotores de programas que exerçam uma micro-customização já em ambiente de aprendizagem, dentro daquilo que Stacey chama parâmetros de controlo: demasiada pressão exterior pode incrementar graus de stresse para níveis que conduzem à exaustão; ausência de estímulos desafiadores promovem imobilidade e ineficácia.

É, portanto, nas zonas «longe-do equilíbrio» que emerge inovação, aprendemos, evoluímos e crescemos.

1«Executive Digest» (2001), citado por Miguel Pina e Cunha: «Manual de Comportamento Organizacional e Gestão»

João Franco
Executive Director da NBCC Academy


A NBCC Academy tem como missão formar profissionais e desenvolver competências no âmbito das suas atividades que envolvem a utilização de ferramentas TI (tecnologias de informação) e, de forma mais transversal, capacitar pessoas e profissionais para incrementar os seus níveis de conhecimento e competências em contexto organizacional. Desenvolve a sua atividade em consultoria e formação, tanto nas áreas mais técnicas (hard skills) como nas dimensões mais comportamentais (soft skills).

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